Ao longo de uma gestação planejada e muito aguardada, meu marido e eu fomos nos informando sobre o que queríamos e o que seria melhor para o nosso bebê. Logo no início da gestação, com apenas 14 semanas, fizemos o curso do Parto Consciente no Despertar do Parto, o que nos abriu os olhos para a realidade obstétrica no Brasil e para as consequências que cesarianas desnecessárias acarretam para os bebês de hoje. Saímos de lá com uma decisão tomada, faríamos o possível para ter um parto normal, e ele certamente seria humanizado. Com o passar do tempo, e com a busca por mais informações, começamos a nos interessar pelo parto domiciliar, principalmente após conhecer tantos relatos de experiências felizes, e termos todo o apoio da nossa doula Eleonora. Mas ainda parecia algo um tanto radical, e evitávamos um pouco a ideia. Chegando ao terceiro trimestre, já tínhamos nos informado o suficiente, através de relatos e estudos, e estava decidido: o Gael nasceria em casa. Por volta dessa época, conheci a linda Marcela no Despertar no Parto, que mais tarde viria a ser também a nossa doula, e tudo pareceu se encaixar, pois ela também tinha parido seu Gael em casa (sim, o filho dela também se chamava Gael!), e acho que nunca vi um sinal mais claro que esse de que estava no caminho certo. Nesse momento, o Fabiano e eu tivemos uma última conversa e concordamos que era aquilo que queríamos, e que um sempre teria o apoio do outro, pois sabíamos que qualquer ocorrência no hospital seria vista como uma fatalidade, mas em casa, seria irresponsabilidade nossa. Foi aí que marcamos nosso primeiro encontro com as parteiras Camila e Adriana, do Arte de Nascer, de Campinas. Tiramos todas as dúvidas que tínhamos e concordamos que esse seria mesmo o caminho. Agora nos restava aguardar. Evitamos falar sobre o assunto com outras pessoas até onde conseguimos, pois sabíamos que era uma escolha que pareceria radical para muitos, e que nem todos entenderiam, e achamos melhor nos preservar. Chegando ao final da gestação, a ansiedade só aumentava, mas eu havia me empoderado ao longo de 9 meses para isso e, apesar da ansiedade, estava muito confiante. A ansiedade, na verdade, era causada principalmente pelo fato do Fabiano trabalhar em Goiânia, e eu tinha muito medo de entrar em trabalho de parto sem tê-lo por perto, tendo que aguardar sua chegada. Foi aí que começamos a conversar com o Gael e pedir para que ele colaborasse e viesse em um final de semana, para que o Fabiano pudesse curtir cada momento de sua chegada ao meu lado, e não é que ele ouviu? Na sexta-feira do dia 28 de março, o Fabiano havia acabado de chegar de Goiânia e estávamos jantando quando senti as primeiras contrações. Estava com 39 semanas e 2 dias, e não me empolguei muito, pois no final de semana anterior já tinha tido um alarme falso com contrações parecidas, ritmadas mas indolores. Quando fomos dormir, à meia-noite, senti um leve estouro no pé da barriga e perdi um pouco de líquido, mas tive dúvidas de que era a bolsa pela pequena quantidade de líquido, e voltei a dormir. Mas então, 1:50 da manhã, acordei com uma contração forte, e bem diferente das que vinha sentindo até então. Elas estavam com intervalos irregulares, mas já não conseguia dormir com a dor e fui tentar me distrair. Deixei o Fabiano na cama dormindo e fui lavar a louça da noite anterior que havia ficado na pia, e então coloquei as roupas separadas para lavar no sábado na máquina. Precisava me distrair para ter certeza de que minha ansiedade não estava causando outro alarme falso. Mas as dores foram aumentando e continuei perdendo mais líquido. Por volta das 3:30 da manhã acordei o Fabiano e mandei uma mensagem para a Marcela, que acionou o restante da equipe assim que ouviu o que estava acontecendo. Pelo visto o Gael estava pronto! Fabiano me fez companhia pelo resto da madrugada, e as contrações aumentavam de intensidade a todo momento. Por volta das 7:30hs da manhã, nossa doula Helena, que substituiria a Eleonora que estava em viagem, chegou em casa. Ela me ajudou a me distrair enquanto o restante da equipe foi chegando. Logo, Marcela também estava conosco, nossa fotógrafa Alessandra, a obstetriz Thaiane, e por fim, por volta das 8:30h, Camila e Adriana chegaram de Campinas. Nessa hora as contrações já estavam bem fortes, mas conseguia conversar durante uma e outra, e caminhar pela casa, sempre com o apoio de alguém (Helena, Marcela e Fabiano se revezavam) para me segurar quando as contrações vinham. Decidi me deitar um pouco, pois minhas contrações estavam irradiando para as pernas, e estava difícil caminhar. Camila, então, me perguntou se eu gostaria de fazer um exame de toque para saber o progresso, e como estava muito curiosa e já bastante incomodada com a dor pedi que fizesse. Era cerca de 10h da manhã, e a notícia foi animadora, estava com quase 6 centímetros de dilatação! Descansei mais um pouco na cama com o Fabiano, enquanto uma das meninas sempre me trazia algo para comer ou beber, e a silenciosa Alessandra fazia seus cliques sem que eu nem percebesse. Perto do meio-dia, a dor nas pernas já estava muito forte, e como a banheira já estava montada e cheia no quarto do Gael, pensei em tentar aliviar a dor nela. Senti uma troca de olhares entre parteiras e doulas, mas à essa altura estava entrando na partolândia e não entendi o que estava acontecendo, hoje sei que elas acharam que ainda estava cedo para ir para a banheira. Na verdade não estava. Não lembro ao certo, mas entre a segunda e a terceira contração que veio na água, senti uma vontade incontrolável de fazer força. Não entendia bem por que, mas tinha que fazer. A intensidade das contrações havia dobrado de repente. Por mais de uma hora, me agarrei às mãos do Fabiano, e tentei relaxar entre as contrações dolorosas que sentia na banheira. Trocava de posição, experimentando ficar sentada, de quatro apoios, ajoelhada, mas as dores e a vontade de empurrar não cediam. Lembro-me de perguntar à Helena se devia fazer aquela força toda, e dela me dizendo que apenas se fosse incontrolável, e era... Perto das 13hs, já não conseguia encontrar uma posição confortável na banheira, e sentia que teria uma câimbra a qualquer momento. E não precisava de uma nova dor. Nesse momento pensei em ir para a ducha, e me sentar na banqueta, pois pelo menos poderia relaxar as pernas. E lá fomos nós para o banheiro. Na banqueta a dor nas pernas realmente melhorou, mas a vontade de empurrar ficava ainda mais forte, e todo mundo percebeu que o Gael provavelmente nasceria ali. Não sei como, mas meu banheiro conseguiu abrigar todos nós, OITO pessoas, sem falar de todos os equipamentos que as parteiras começaram a levar para lá. Alguns minutos depois, o Fabiano e eu conseguimos ver a cabecinha do Gael que começava a aparecer através de um espelho que a Camila segurava para nós, sentada no chão. Era todo o incentivo que eu precisava. O Fabiano atrás de mim, me apoiando, Helena me estendendo um lenço para puxar nas contrações, e meu bebê chegando ao mundo. Poucas contrações depois, Gael chega aos nossos braços, com 3.080kg e 50cm. Foi como se toda a dor não tivesse existido, como se eu tivesse nascido novamente, junto com ele. Camila o amparou e em alguns instantes ele estava no meu colo. Fabiano cortou o cordão umbilical assim que ele parou de pulsar e que o Gael já pudesse respirar por si só (o que ele teve um pouco de preguiça de fazer, tendo que receber um pouco de oxigênio e ser aspirado). Mas como pelo visto o pequeno vai ser dramático como a mãe... já tinha que chegar causando! Na saída do banheiro, voltando para o quarto, ouvi alguém falar em almoço, e brinquei que o almoço havia virado jantar. Foi aí que me disseram que não era nem 14hs ainda! O Gael nasceu às 13:40hs, mas a minha impressão é que já havia passado o dia todo, e que era fim de tarde. Entre minha primeira contração e o nascimento do Gael passaram-se apenas 12 horas, acho que fui abençoada! De volta à cama, tivemos que esperar pelo nascimento da placenta, e para ajudar Camila me administrou uma injeção de ocitocina. Alguns minutos depois nasce a placenta e o ciclo se completa. A placenta foi impressa em desenhos lindos, e no dia seguinte plantada em nosso jardim junto com uma árvore da prosperidade. Tínhamos combinado que avisaríamos os amigos e familiares do nascimento somente após o ciclo todo ter se completado e assim foi. O Fabiano saiu ligando para todos avisando do nascimento do Gael e logo minha irmã e minha mãe chegaram, aos prantos, e com um nhoque delicioso, apesar das meninas maravilhosas já terem cuidado de tudo e preparado um almoço também. Até a fotógrafa foi parar na cozinha! rsrsrs Gael então mamou pela primeira vez, e Helena me deu o nhoque da mamãe na boca enquanto eu descansava. O papai babão fez o Gael dormir pela primeira vez, e enquanto ele dormia tive que levar alguns pontos para fechar as lacerações que tive durante o parto. Ao fim do dia, tudo parecia uma festa. Ainda não acreditava que tudo tinha dado certo... que tínhamos conseguido. Nossa primeira noite foi tranquila, como a maioria delas tem sido até hoje, e no dia seguinte, já me sentia recuperada. Não imaginava que seria tão rápido! Os pontos incomodavam um pouco (o que não durou muito tempo), mas estava totalmente revigorada. E aí sim Gael foi recepcionado por toda a família, que veio vê-lo no domingo à tarde. E essa foi a nossa experiência com o parto domiciliar e o nascimento do Gael... Um parto sem intervenções desnecessárias, seguro, em um ambiente aconchegante e familiar para que o Gael fosse recepcionado da forma mais natural possível, e que logo virou uma festa! Luana Cristina Guedes de Oliveira Tradutora [email protected] A escolha de como se daria o parto do Gael foi um parto em si, uma maratona, um verdadeiro processo que demorou nove meses para ser concluído e culminou no momento mais expressivo e importante da minha vida. O momento em que eu descobri que eu não era uma princesinha como eu sempre pensei que fosse, mas que eu era uma rainha. Uma rainha cheia de poder e certezas. Cheia de claridade e discernimento sobre suas próprias vontades e seu corpo.
O Gael não foi um bebê planejado, ele foi um alegre e consciente descuido, que eu e seu pai sabíamos que poderia acontecer a qualquer momento. Quando veio a notícia da gravidez eu literalmente saí gritando pelas ruas de alegria. Não consegui nem segurar a notícia até ver o Gabriel pessoalmente, contei pelo telefone mesmo que eu havia feito um teste de gravidez naquela tarde, no escritório em que trabalhava, por suspeita e insistência de uma amiga muito querida, Carolina, e que estava indo fazer um exame de sangue. A família ficou meio em choque no começo, principalmente meus pais, que não esperavam que sua menina se transformasse em mulher tão cedo. Mas depois do primeiro impacto, a alegria tomou conta de todos, e não tinha como ser diferente. Logo no início comecei a ser bombardeada com perguntas sobre como eu gostaria que fosse meu parto e eu não tinha a menor ideia. Como assim eu tenho que escolher como vai ser o parto? Não é na hora que a gente vê o que dá para fazer? Mas a pergunta que mais me deixou com a pulga atrás da orelha foi uma da minha sogra Lidia, que me perguntou se eu queria um parto humanizado. E eu não sabia que existia parto com e sem humanidade. O que será que seria isso? Eu sempre fui muito natureba e faço yoga há algum tempo. Mas com bebê na barriga fiquei com medo de continuar fazendo sozinha como estava acostumada e de alguma forma prejudicar meu filhote em desenvolvimento. E foi assim que eu cheguei no Despertar do Parto, procurando yoga específica para gestante. Mas encontrei mais. Muito, mas muito, mais! No começo confesso que foi demais para mim. Chegava em casa atordoada dos encontros pensando “Como eu ainda não tenho um plano de parto?” e “Que raios é um plano de parto?”. Mas aos poucos eu fui aprendendo com as lindas doulas Helena e Eleonora os benefícios de um parto natural, as inúmeras intervenções desnecessárias que ocorrem nos partos hospitalares e o crescente número de cesáreas sem indicação. E assim eu fiz a minha escolha. Sabia que queria ter um parto humanizado, mas, a princípio, que o mesmo ocorreria no hospital. O primeiro passo foi trocar de obstetra. O meu primeiro obstetra, que acabou sendo o do final da gestação, é um médico muito experiente e sempre foi meu ginecologista, mas declaradamente cesarista. Não espera as 42 semanas de gestação e insiste em fazer exame de toque e teste da buzina na cabeça do bebê a partir da 34 semana. Ainda, ele não era do meu plano de saúde, então tinha mais um motivo para procurar outro médico. Acabei encontrando uma médica do meu plano que se dizia parteira. Seu discurso era lindo. Esperaremos até 42 semanas, não faremos episio de rotina, se você quiser não vai tomar anestesia ou sorinho, esperaremos o tempo que for preciso para o desenvolvimento do trabalho de parto. Acontece que quando eu contei para as meninas no Despertar quem era minha médica nova, senti uma torção de nariz de leve, que mais tarde eu descobriria que tinha motivo. E muito. Mas eu estava confiante, ou não queria me dar ao trabalho de procurar outro médico ainda. No terceiro mês da minha gestação tive um problema com o meu plano de saúde, que era como dependente do meu pai no plano empresarial. Eu havia feito 25 anos e não havia mais cobertura como dependente. E o pânico meio que se instaurou na minha vida. Como assim eu grávida sem plano de saúde? No fim das contas, como havia sido um erro da empresa em não notificar meu pai de que isso ocorreria, o mal veio para o bem. Poderíamos fazer o parto particular e eles cobririam todos os gastos, inclusive do pré-natal. Assim, abriu-se um leque de opções. Eu poderia ficar em Ribeirão e continuar com essa médica, procurar outro médico de outro plano ou, ainda, resolver ter o bebê em São Carlos, onde a estrutura para parto normal deixa Ribeirão com vergonha. Eu continuava querendo o parto aqui, com a médica que eu estava. O discurso dela era bom mesmo! Acontece que num dos encontros da Boa Hora que acontecem no Despertar, eu e meu marido fomos assistir a um vídeo. Orgasmic Birth. E estava plantada a sementinha do parto em casa. O Gabriel chegou em casa maravilhado de como foi linda a cena do casal que deu a luz no deck da casa, durante uma tarde linda de sol. Eu também achei lindo, mas achava que aquilo não era para mim. E a minha gestação foi progredindo, a barriga apontando, todo mundo curtindo super o Gael crescendo. Quanto à médica, o relacionamento estava dez. Até que um dia, no meio do sétimo mês de gestação, eu tive uma intoxicação alimentar muito tensa, tive diarreia durante uma noite toda acompanhada de muitas contrações de Braxton. Eu fiquei desesperada porque estava sozinha. Minha mãe em Porto Velho, meu marido em Manaus à trabalho e eu em casa passando mal sem conseguir falar no celular que a médica havia me passado. No outro dia, dois quilos a menos, quando finalmente consegui falar com ela ao meio dia, ela me disse que se eu estivesse passando mal era para eu ir no hospital ser examinada e quem sabe tomar um soro... Vrááá, na cara da grávida. Me senti desamparada, desassistida. Além disso, todas as grávidas que eu conhecia na sala de espera do consultório dela saíam de lá com suas cesáreas agendadas, e ela sempre me perguntava, toda santa consulta, se meu parto seria normal ou não. Nem lembrar de mim ela lembrava! Fui correndo procurar uma terceira médica. A ginecologista da minha mãe, que num passado longínquo até fazia partos em casa. Mas era trocar seis por meia dúzia. Foi quando eu senti dentro de mim que quem estava para parir era eu, que não importava quem seria o médico, porque eles eram todos iguais. Eu e o Gabriel começamos a conversar sobre a possibilidade do parto em casa como uma realidade. E o que era uma possibilidade quase remota, virou uma certeza. Lembro de ter acordado um dia determinada a parir em casa. Eu me sentia forte, poderosa, mulher. A notícia foi como música para os ouvidos das minhas doulas e logo marcamos uma consulta com a nossa Dona Parteira, Jamile. Não contamos nada para a família, e a viagem à São Carlos foi sob o pretexto de conhecer a maternidade de lá, que por sinal é estupenda. A decisão estava tomada. Eu estava no oitavo mês de gestação e decidida a ter o meu filho na minha casa. Quanto ao médico que acompanharia o restante do pré-natal, resolvi voltar para o meu primeiro médico, que me conhecia há muito tempo e tinha carinho por mim. Cesárea por cesárea, que fosse com alguém que eu confio e me sinto amparada. Então, com 37 semanas de gestação eu voltei para meu primeiro médico. Carinho tinha muito, mas também medo de ter uma cesárea desnecessária cavada. Entendam. Toda consulta eu fazia exame de toque e a bendita buzina. E a primeira consulta foi tranquila, tentaríamos o parto normal e o Gael respondeu super bem ao estímulo grotesco da buzina. Mas o médico viajaria na sexta, então, por cautela queria me ver na quinta antes de ir. Até aí tudo bem... Nessa quinta eu acordei, tomei meu café, fui no Despertar. Saí de lá e fui direto para minha consulta. E o Gael não respondeu como desejado ao estímulo da bendita buzina. Todas chora de desespero! O pior é que o médico insistiu em me ver no sábado novamente, para monitorar novamente o meu pequeno. E eu passei quinta e sexta chorando de desespero, um tal de ligar para Dona Parteira para saber o que eu fazia, porque o Gael não teria acelerado o coraçãozinho como deveria e ela me tranquilizou, dizendo que provavelmente era só porque eu tinha ficado um tempão sem comer! E dito e feito, nunca mais fui numa consulta do obstetra sem comer! Gael super respondeu a todos os estímulos em todas as outras consultas. Um sucesso. Só que as semanas foram passando. E o médico já me avisara que dava para esperar um pouquinho mais do que quarenta semanas, mas não as quarenta e duas que eu gostaria. E se instaurou o processo vem logo Gael. Foi um tal de caminhada todos os dias, muita yoga, muito agachamento, escalda pés, chá de canela, reflexologia e homeopatia assim que completei as trinta e nove semanas. Eu estava muito ansiosa, havia inclusive um bolão no facebook sobre a chegada do menino e eu tinha certeza que ele viria antes cedo do que tarde. Foi só quando eu desisti de tentar adivinhar e acelerar meu parto que ele começou! No sábado, dia 04 de agosto, fomos eu e o Gabriel almoçar na casa da minha mãe, junto da família toda. E foi na mesa do almoço que eu comecei a sentir o momento chegando. As contrações de Braxton que vinham aos montes não eram mais as mesmas. Agora doía! Só mãe mesmo para ficar feliz sentindo dor. E eu fiquei extasiada! Mas vesti minha máscara de artista e não deixei ninguém perceber que eu estava sentindo contrações doloridas e voltamos para nossa casa o antes possível. A tarde de sábado foi pura alegria. As contrações vinham irregulares, ora de dez em dez minutos, ora de cinco em cinco, durando um minuto mais ou menos cada. E eu e meu marido anotando tudo num caderninho, achando o máximo! Eu sentava na bola, deitava no sofá, andava para cá e para lá. Quando fomos dormir, as contrações haviam ficado mais espaçadas, talvez uma a cada meia hora. Mas no meio da madrugada vieram muitas durante uma hora e meia, contrações de três em três minutos, durando um minuto cada. Pensei, é agora. Mandei mensagem para Dona Doula Eleonora e Dona Parteira e fui tomar um banho quentinho. Assim que saí do banho a Léo chegou na minha casa para ver como eu estava, mas as contrações foram embora com a água do chuveiro. Vinham agora a cada dez, quinze minutos. Apesar de mais espaçadas, as contrações não pararam, e essa foi minha primeira noite sem dormir. Na manhã de domingo resolvemos ficar em casa, antecipando algum acontecimento. Ligamos para a família para avisar que passaríamos o dia juntos, aproveitando os últimos minutos do casal sem bebê. E lá vinham contrações. Mas elas vinham sem ritmo. Até que a tarde as coisas pareciam que iriam engrenar. Novamente contrações de cinco em cinco minutos e depois de três em três. E banho não mandava as contrações embora. Lá pelas cinco da tarde chegou a trupi toda na minha casa. Donas Doulas Léo e Helena e mais tarde as Donas Parteiras Jamile e Camila. Era massagem para cá, banho para lá, muda de posição, agarra o nanã (meu travesseiro pitchulinho!) e paninho de baba (eu não conseguia engolir saliva tamanho o enjoo com as dores). Mas as nove ou dez horas da noite, Dona Parteira fez um exame de toque e para desespero geral da pessoa que vos escreve, eu tinha apenas um centímetro de dilatação... Isso. Um mísero centímetro depois de um dia e meio de contrações. Eu quis chorar. Então entrei na banheira para ver se as contrações paravam e eu conseguia pelo menos uma noite de sono. Só que as minhas contrações eram do mal. Elas não entravam no ritmo da festa (que balança o coração!), mas tampouco iam embora de vez. Vinham a cada vinte minutos e eu não dormi mais uma noite. Um pouquinho antes de amanhecer, ainda na cama, eu acordei o Gabriel e pedi para que ele me levasse para o hospital e que explicasse para todo mundo que eu não podia mais. Esse foi só o primeiro dos pedidos de arrego. Amanheceu o dia e com ele veio um alento. Dona Parteira voltou para minha casa e me deu baldes de chá de canela, me colocou para caminhar e até namorar o marido. Mas nada parecia resolver e foi aí que eu quis mais uma vez desistir. Eu alternava momentos de certeza, alegria e piadinhas, com momentos de desespero. Não lembro de quem foi a ideia. Se foi minha ou de alguma das meninas. Mas resolvi ligar para meu homeopata, que sabia que eu tentaria o parto em casa, e após descrever tudo o que tinha acontecido nos últimos dois dias eu disse para ele dar os pulos dele e me ajudar, pois se não eu iria para o hospital e lá eu teria uma cesárea. É, eu estava tão desesperada que nem tentar parto normal no hospital eu não queria mais. Queria era que tirassem o menino de dentro de mim e pronto. Foram duas horas de medicação e as contrações aumentaram, mas não vinham num ritmo adequado. Ora de cinco em cinco, ora de três em três, ora de dez em dez novamente. Liguei para meu homeopata para pedir novas orientações e ele pediu para que a Dona Parteira fizesse novo exame de toque para saber onde estávamos. E para surpresa geral da nação, por volta das quatro da tarde de segunda feira, eu estava com quase sete centímetros de dilatação. Aquilo foi um banho de alento para meu corpo cansado. E resolvi esperar mais para completar a nova medicação indicada pelo meu santo homeopata. Acontece que depois das duas horas seguintes, acabei de tomar meu remédio de novo e as contrações ainda não encontravam ritmo bom. Mais um desespero. E esse foi forte. Eu já não aguentava mais, queria ir para o hospital naquela hora. Foi quando a Léo teve a ideia de fazer uma dinâmica comigo, para ver se eu me soltava e largava o que estava me impedindo de parir. Ligou a música e me disse que entrasse numa caverna imaginária. E lá estava eu. Parada na porta da caverna imaginária que era apenas o tapete da minha sala. E quem disse que eu consegui por os pés lá no meio? Travada. Não sei descrever o que eu sentia, mas era uma mistura de angústia e medo. Fiquei imóvel na beirada do tapete e disse para a Léo que eu não conseguia entrar, que eu não queria. E ela me perguntou se eu queria que alguém tomasse as rédeas do parto que era meu e fizesse aquilo por mim. E eu respondi que sim para desespero da Dona Doula. Avisei a todas que eu iria para o hospital, havia chegado no meu limite, e pedi ajuda para arrumar a minha malinha. E que sorte que essa mala não estava pronta! No meio da arrumação meu marido diz para as meninas que não estava preparado para ir para o hospital, então Dona Parteira Jamile faz um último exame de toque. Era meu círculo de proteção determinado a não me deixar desistir. E eu estava com nove centímetros! Nove! Todas chora de emoção! Nesse momento eu assumi o meu medo. Liguei para o meu homeopata uma última vez e contei para ele que a dilatação estava quase completa, mas que eu não avançava porque estava aterrorizada. Com medo da dor, com medo do rompimento que eu achava que teria com a minha mãe quando ela soubesse sobre o parto, com medo de virar mãe. Ele me medicou mais uma vez, durante uma hora, de quinze em quinze minutos eu tomei meu remédio. Ao final dessa hora eu fui transportada para um lugar muito legal, onde o tempo pára, as pessoas ao seu redor são apenas cheiro e toque, não há sede ou fome ou sono. Eu fui para a partolândia e gostei demais desse lugar! As contrações vinham cada vez mais doídas eu andava feito uma leoa na jaula na sala da minha casa, esperando que a banheira ficasse cheia e quente para eu entrar nela e parir. Eu estava determinada a parir. Não sei quanto tempo eu fiquei na banheira, pendurada num lençol amarrado na porta do corredor da minha casa. Estava tudo pronto para a chegada do Gael. Velas, música, câmera posicionada no tripé e tudo mais necessário para a grande hora. Finalmente, a bolsa rompeu! Que sensação engraçada! Eu senti um plóc dentro de mim e vi um gruminhos brancos se espalhando pelo espelho que estava no fundo da banheira. O Gael estava cada vez mais perto. Mas aquilo não estava dando certo. Eu virava de um lado para o outro, fazia força e nada. Resolvi que precisava de um banho no chuveiro. Levantei da banheira, mas enquanto me secava veio outra contração que me fez pular de volta para a água quentinha. E quando nem eu esperava, eu levantei de novo e saí da banheira molhando casa a dentro em direção ao meu banheiro. Todas corre atrás da parideira! De baixo do chuveiro, sentada na banqueta, com a Dona Parteira na minha frente as Donas Doulas subindo em escada para filmar e fotografar o momento da chegada do rebento. Acho que não demorou quinze minutos até eu ter meu filho nos braços. Foram três contrações. Ele vinha, dava para ver a cabeça e voltava. Vinha e voltava. Dona Parteira me disse para colocar a mão e sentir a cabeça do meu menino, e eu até tentei, mas não conseguia pensar. Mão, cabeça, menino. Nem lembro. Só lembro que na terceira contração ele veio com tudo. De uma vez saiu o meu filho. Que círculo de fogo que nada. Eu não senti dor alguma. Apenas alívio, alegria e uma sensação imensa de superação. Eu havia parido. Dona Parteira colocou o Gael na minha barriga, porque o cordão era curto e ele não chegava até o meu peito. O cordão parou de pulsar e ela o clampeou para que o Gabriel o cortasse. E eu não chorei, nem falei nada, nem pensei. Eu só conseguia cantar. “Bem vindo meu novo ser. É como se eu tivesse esperado toda vida para te embalar”. Que sensação maravilhosa foi segurar aquela coisinha indefesa nos meus braços ensanguentados. Que cheiro delicioso eu sentia! Que calor diferente parecia que o meu corpo tinha! É tentar explicar o inexplicável. Como se enche um coração de amor. Como nasce uma família. Como nasce uma mãe, uma mulher, uma rainha. Após todo esse processo recheado de altos e baixos, momentos se desespero e confiança, lá estava eu. Empoderada. Enorme. Leoa. Mãe. Rainha. O Gael foi secado e embrulhadinho numa manta e eu fui para minha cama, onde ele passou uns vinte minutos me cheirando e lambendo, sem mamar ainda. Depois mamou e a placenta saiu e meu coração transbordou de alegria. Não me lembro dos detalhes do depois. A que horas ele foi pesado e colocou roupa, a que horas eu tomei banho, a que horas eu dormi. Eu só lembro de tê-lo comigo e sentir que parecia que nunca havia sido diferente. Já não me lembro de como era a minha vida sem o meu filho. De como era antes de ser rainha. Podia ser bom, mas agora é infinitamente melhor! Fomos todos muito abençoados nessa noite, mas acho que além do melhor presente do mundo, que foi meu bebê, eu ganhei um presente a mais. O da transformação. Marcela De Moraes Rocha Muradás Advogada [email protected] Teresa completou 42 semanas. E só hoje, afastada do trabalho por conta de uma conjuntivite (coisas de baixa resistência de mãe) consegui sentar para escrever meu relato. Como sugeriu Helena, minha doula - preferi escrever o relato da minha jornada de despertar, já que hoje em dia não se consegue parir sem um preparo prévio, infelizmente. Salvo raríssimas exceções. Como as mulheres que vivem em comunidades onde ainda se acredita na capacidade da mulher, e as mulheres assistidas pelo projeto da Dra. Melania Amorim e sua equipe, no ISEA, aqui. Assisti a este vídeo (e suas continuações) chorando madrugadas afora e com a certeza de que, se naquelas condições adversas este projeto pôde ser realizado, eu poderia fazer alguma coisa. Eu sou fruto de um parto normal onde, em 1978, o Dr. Décio, em São Paulo, realizou uma versão externa, já que eu estava pélvica... Por que eu, em 2011 não poderia batalhar pelo meu parto? Eu estava grávida! De novo... Depois de quase 9 anos de casados. Sim, após alguns dias de estranheza, batimentos cardíacos "estourando" na academia... lá estava eu sentada no banheiro com a fitinha e dois risquinhos... Fiquei vermelha. Senti o calor subir. Só eu sabia. Eu e a Teresa. Tomei um banho, chamei o Junior e mostrei o teste. Comemoramos, vibramos. Um segundo após veio o "não, não, ainda não..." - era o medo de contar a todos e passar pela tristeza do aborto mais uma vez. Daí para a frente, foram 3 meses chocando. Curtindo. Como não contamos para ninguém, tinha horas que de vez em quando eu tinha que me lembrar que havia um coraçãozinho batendo em meu ventre... Quando a gestação completou 12 semanas, nos sentimos mais à vontade para contar aos amigos e família. Meu GO disse para curtir mesmo. E foi o que fizemos. Tiramos férias vencidas, fomos para a Argentina, andamos horrores! Passeamos de barco pelo Delta, sentia uma energia incrível! Quando voltei, procurei o Despertar do Parto para a prática da yoga para gestantes, através de indicação de algumas amigas. Mal eu sabia que era o início de uma viagem sem volta. A viagem mais linda de todas. De cara, já conversei com a Helena, que fez uma entrevista onde foram abordados vários aspectos (saúde, família, social) - e me dei conta que eu não sabia o que era um parto normal mesmo, o que eram as intervenções (no parto e no recém-nascido). Na verdade, eu ACHAVA que um parto normal hospitalar era o que é, para mim, hoje, um parto natural. Mas de uma coisa eu sabia: que seria diferente da realidade que eu via à minha volta, cheia de cesáreas eletivas (impossível não ficar horrorizada!). Comentei ainda sobre o meu "futuro parto", sacramentado por um ortopedista quando eu tinha doze anos, dizendo que eu não poderia ter bebê via parto normal porque eu tinha estreitamento de bacia (...) - isso foi derrubado por todo o resto depois. Pelo site do Despertar, também cheguei à lista partonosso do yahoo. Quantos relatos, muito aprendizado... A leitura de relatos é viciante! E os vídeos, então? Chorava ao assisti-los. Aí foi uma correria, uma sede por conhecer: peguei emprestado do Despertar o livro Parto Normal Ou Cesárea? – o que Toda Mulher Deve Saber (E Todo Homem Também) - esta leitura foi divisora de águas. Uma a uma, as intervenções realizadas no parto normal hospitalar foram se descortinando. Meu GO, perguntado por mim sobre o protocolo para parto normal, foi falando uma intervenção após a outra. Voltei para casa triste. Sentei com o Junior. É, vou ter que mudar de médico. Ou vai ser parto domiciliar. O Junior até se animou bastante com a ideia do parto domiciliar, enquanto eu ficava reticente por conta de morarmos num condomínio onde as casas são muito próximas (eu não me sentiria à vontade) - por fim, ele confessou que tinha medo no caso de uma intercorrência. Começou outra busca. A internet ajudou, e muito! Numa noite joguei o nome da parteira que atende em Ribeirão (Jamile) no google e caí num blog onde ela participava, o Parir é Natural. Não conseguia parar de ler! E descobri que a Dra. Carla, que escrevia os relatos, atendia pela Unimed. E meu plano é nacional! Mandei um e-mail na hora. Ela respondeu prontamente, marcamos uma consulta para nos conhecermos e assim estabelecermos um vínculo que foi crucial. Lá fomos nós para São Carlos... E a parceria foi selada. O pré-natal seria tocado em Ribeirão até a semana 35. Entre outros conselhos da Dra. Carla, um importante foi o de preservar a nossa decisão. Como? Silêncio. Não comentamos com ninguém. Quando perguntada onde a Teresa ia nascer, eu respondia que iria ser no Hospital São Paulo. Até porque todo mundo só queria uma resposta, e pronto. Até então, eu utilizava progesterona devido ao aborto anterior por indicação do meu GO daqui, e a Dra. Carla disse que eu deixaria de usar quando começasse o pré-natal com ela, independente da data. Parei no dia seguinte. O sono passou, me senti bem melhor... Eu sentia que não precisava utilizar aquele medicamento. Participamos da Oficina de Parto do Despertar. Lá conheci pessoas maravilhosas que farão parte de minha vida para sempre - Thaiane Caetano, Daniela Sudan... As doulas chegaram a ficar preocupadas com a reação do Junior durante o trabalho de parto devido a uma baixa de pressão e medo que ele sentiu durante a experiência de dor e alívio. Nem me preocupei muito porque alguma coisa me dizia que ele ia me surpreender. A gravidez decorreu na maior paz possível, e chegamos à semana 35, onde as consultas com a Dra. Carla eram como uma roda de amigas. Na primeira, a Helena (doula) foi junto. Uma festa! Naquela consulta já percebi que a postura de um obstetra da humanização é completamente diferente. As escolhas seriam feitas. A responsabilidade seria minha. Tudo baseado por Evidências Científicas! Havia ainda a questão da anestesia. Se eu pedisse, iríamos para a cesárea. Era um "penico" que eu não podia pedir. Era bom demais pra ser verdade. Eu sentia que estava no caminho certo. Teresa nasceria quando quisesse, se não houvesse nenhum dado indicando o contrário. A administração do antibiótico seria feita ou não baseada na cultura para Estreptococo e Neisseria (ambos não cresceram em cultura). E assim fui me tornando a dona do meu parto. No mesmo dia desta consulta consegui visitar a maternidade da Santa Casa de São Carlos e me surpreendi com a abordagem da enfermeira que nos guiou porta adentro, a Dinha: "Você está lendo? Qual livro? Faz parte de algum grupo de apoio ao parto natural?" Demais!!! Não parecia uma equipe que fazia parte do mesmo sistema que conhecemos. Durante toda a gestação contei com o apoio total da Helena. Éramos somente nós na aula, com uma ou outra aula experimental no meio do caminho... Aula de yoga e conversa particular, um luxo!!! E as leituras continuaram, nesta ordem: Memórias do Homem de Vidro (sensível, maravilhoso!), Parto Ativo (CRUCIAL), Quando o corpo consente. Conheci Marco Schultz e seus Satsangs embalaram nossas aulas (e muitos bate-papos) várias vezes... Recebi várias dicas, pouco a pouco o enxoval foi sendo comprado, tudo com muita calma - até demais, já que pelo medo eu não havia comprado muita coisa ainda. Quando a Teresa completou 24 semanas e poderia nascer e sobreviver fora do útero a partir daquele momento, fiquei aflita: precisamos comprar um berço! Quando a gestação completou 40 semanas, tirei a licença-maternidade. Um mês antes, exatamente, aconteceu meu chá de fraldas, uma delícia. Carinho e clima de despedida, quase. Daí pra frente o ciático e as perguntas de quando a Teresa chegaria não cessaram. Senti que era hora de parar e começar a preparar o terreno para ela chegar. Nas conversas antes da aula de yoga, desabafei dizendo que estava ficando cada vez mais intolerante com estas perguntas, estranho... Eu, sempre tão zen... Seria a fera despertando? Foi uma semana deliciosa. Eu ficava em casa assistindo Gilmore Girls (meu seriado preferido - curioso que trata exatamente de uma relação mãe-filha muito especial), tomando sorvete... e ficava quietinha. Porque se pusesse o nariz para fora o pessoal perguntava "É pra quando?". E já começava com os hots... insconscientemente uma tensãozinha se instalava, afinal... não vai nascer mesmo? Mesmo sabendo que meu corpo era perfeito e trabalharia como tal. O único hot que estava faltando tentar era o namoro. E o medo? Chorei. E disse que eu já havia tentado de tudo, e pronto. No final da semana 40 ainda fui à inauguração da loja de uma amiga no sábado, e no domingo bateu uma agonia... Não temos nada em casa, vamos ao mercado! Fizemos uma compra e voltamos pra casa. Sentei na poltrona na sala e... nossa, como ela está se mexendo!!! Foi a noite em que a Teresa mais se mexeu. Dia seguinte, segunda-feira, 41 semanas completas. Ainda meio zonza de sono, levanto para ir ao banheiro e chuáááá - água! Junior, a bolsa estourou! Coloquei um absorvente que morreu afogado logo depois, coitado. Liguei para a Helena (ela atende em Franca às segundas, e estava lá). Ela entrou em contato com a Dra. Carla que estava em um concurso em Botucatu. Que dia! Mas era o dia que Teresa escolheu, 2 de maio de 2011. Fui colocar a louça na máquina, tratar dos cachorros... contrações leves, juntinhas, rápidas (segundo o app do celular) - Pelo telefone, Helena pede pra eu ir para o chuveiro, talvez esteja tensa e por isso as contrações não estejam espaçadas. Tentei comer uma torrada, ovo mexido, barrinha... só uma mordida e deixei lá. Pelo livro Parto Ativo, pude ter uma excelente ideia de como aconteceria. Conversando com a Helena também vislumbrei assim... Eu imagino meu TP como um GPS: eu sei o caminho, só não sei qual será a paisagem. As sensações e reações que meu corpo teria, isso tudo era desconhecido. De uma coisa eu tinha certeza: eu não deitaria de jeito nenhum! Fui para a cama e fiquei com os quadris mais elevados que a cabeça, de quatro. Esta postura era indicada para espaçar as contrações. Quando Helena chegou eu estava assim, já respondendo apenas a perguntinhas bem básicas, e só. Uma música começou a tocar, baixinho. Helena dando serviço para o Junior, tudo no maior silêncio. Uma vizinha entra no meu quarto, pra saber se está tudo bem. Oi? Fui super monossilábica (não daria pra ser diferente) e ela se foi. Helena fez massagens na lombar, fui pro chuveiro... não conseguia sentar na bola de Pilates. Ainda no chuveiro, no final de uma contração, meu corpo começou a querer empurrar. Um tempinho depois, Helena pergunta se eu quero ir pra São Carlos. E eu digo que sim. Mirei no carro e saí não querendo ter uma contração no meio do caminho, deu certo. Fui no banco de trás, de quatro, sobre um monte de travesseiros com a Helena, Junior dirigindo... não sei e nunca conseguirei explicar a sensação de tempo que simplesmente sumiu. Não sei quantas contrações se passaram durante o trajeto, só sei que o Junior começou a falar "estamos na Rua Episcopal" - Nossa, já estamos em São Carlos! Quando dei por mim, estava na porta da maternidade. Helena foi me apoiando durante o trajeto até o quarto (sala PPP), que já estava preparado (Bola, Banheira, Banqueta) - um silêncio preenchia o ar, uma atmosfera de respeito inacreditável. Nenhuma pergunta para mim, nenhum exame de toque, NADA. Eu não queria sentar na bola, ficava em pé. Esperamos encherem a banheira. Helena foi arrancando meu vestido, quando vi estava lá dentro. Um silêncio impressionante... a equipe de enfermagem carinhosa, apenas vinha auscultar a Teresa, e o ponto era cada vez mais baixo (meu Deus, ela estava descendo!)... Fiquei em várias posições diferentes, sugeridas pela Shirley (enfermeira) e pela Helena. A Dra. Carla chegou e ficou na minha frente, sentadinha. Parecia uma treinadora de maratonista, mas sua presença era muito sutil e reconfortante. Só comentei com ela que não vi a viagem. Ela concordou e disse para eu me concentrar. A partir dali eu desliguei e fiquei cada vez mais introspectiva, nem abria os olhos direito. Ela me pediu para dizer aonde estava a bebê - e eu - Hein? - É, você é quem vai me dizer! Meu dedo tocava a cabecinha da Teresa, ainda faltavam uns 3 dedos... Mudamos de posição várias vezes, o Junior cada vez mais presente também. Banqueta dentro da água, cabo de guerra com lençol no suporte do banheiro, de joelhos... eu cheguei a cochilar entre algumas contrações tamanho era o silêncio. E uma música baixinha tocava lá no quarto (um CD no rádio do hospital, porque o Junior queimou nosso aparelho numa tomada 220 V do quarto). O tampão saiu ali, com um pouco de vérnix, que se via na água. Carla brincou: "Olha só essa menina, nascendo de 41 semanas e ainda com vérnix!" Era impressionante o sentido do cuidar também. A Dra. Carla me deu gelatina na boca, água... Mais uma vez ela perguntou onde a Teresa estava. Só faltava um dedo agora! Como descrito na lista partonosso, senti meu "bigode" suar. As coisas estavam ficando mais quentes agora... Senti o anel de fogo. Passou a arder mesmo nos intervalos das contrações. Na água, olhando pelo espelho colocado na banheira, a cabeça de Teresa vinha e voltava. Se entrega, se entrega... Sons guturais, as vocalizações foram cada vez mais fortes. Eu me sentia parte de algo ancestral. De uma força que une todas as mulheres. Como eu li no livro Parto Ativo, uma grande parte dos trabalhos de parto acontece na água, mas no final é preciso sair dela. E foi o que aconteceu comigo, saí e fui para a banqueta no quarto. Ajoelhei na banheira e disse apenas que estava cansada. Mas eu aguentaria o que viesse. A pediatra bateu o pé, ansiosa. Eu fechava os olhos e me desligava desta impressão. Depois que me sentei na banqueta (e o Junior sentado atrás, no sofá), a Dra. Carla me pediu para colocar a mão e sentir a Teresa. A cabeça já estava aparente!!! Foi uma injeção de ânimo e rimos muito. Sabe quando vamos dar uma festa surpresa para alguém, que todo mundo está lá na maior vibração mas em silêncio? O clima era esse. Eu estava ali mas não estava, numa espécie de transe. Só se via uma lanterna de led branca e eu ouvia uma música tribal, índias cantando, linda.... Todos esperando. Carla sentada à minha frente, pernas cruzadas como um indiozinho. Não me lembro depois de quantas contrações - acho que foram poucas - mas estavam bem espaçadas - Teresa nasceu. Aquele escorregão final, ela saindo de dentro de mim, que sensação maravilhosa... Explodi num choro e só conseguia dizer "Obrigada" - e foi pra todo mundo mesmo: pela Providência, pela equipe, por minha filha nascer perfeita, por ter sido do jeito sonhado, preparado, num ambiente de carinho. Abracei Teresa e a Dra. Carla me avisou somente para não levantá-la muito pois o cordão era curto. Ela já chorava no meu colo e estava levemente cianótica - mas logo que foi para o berço aquecido com a pediatra e o pai, já estava, como a Helena disse, "rosa porquinho". Desandei a falar e contar minhas impressões, estava vibrando! Carla me chamou para mostrar minha placenta saindo. Obrigada, placenta! Você cumpriu sua função lindamente... A Helena escolheu uma roupinha e logo após fiquei na cama para a sutura de uma pequena laceração, que até hoje não sei onde foi. O clima era de uma festa. Teresa recebeu vitamina K oral (eu dei a segunda dose em casa), não recebeu colírio nem passou por outras intervenções, conforme combinado com a Dra. Patricia, pediatra. Logo após foi feito o contato pele a pele para início da amamentação. E foi assim, lindo e transformador o nosso processo. Agradeço a todos os envolvidos nesta jornada maravilhosa: - Meu marido Junior, sempre me surpreendendo - sua presença foi maravilhosa. E por me dar liberdade total para fazer as escolhas do parto que sonhei. - Helena e Léo, do Despertar do Parto, por seu apoio incondicional - o apoio da doula fez toda a diferença. - Dra. Carla Polido, pela sua atuação perfeita e simples, acreditando sempre no feminino! Para quem quiser conferir a versão dela do relato, descrito lindamente, está aqui. - Teresa por me fazer ver a mãe e a nova mulher que existem em mim. Voltamos para Ribeirão ouvindo um mp3 do Cirque du Soleil, do qual sou fã incondicional... a primeira música: Alegria! Esta música sempre exerceu uma energia maravilhosa sobre mim e eu não entendia bem o porquê. No carro, com a Teresa ao meu lado, eu chorava feito criança. Quando vi este vídeo com a música, da primeira à última legenda... Entendi tudo. E para terminar, deixo a frase que a Shirley, da enfermagem (Rubi) me disse quando fui agradecê-la por tudo, e perguntar se eu podia fazer isso ou aquilo: "Você pariu, Ana! Você pode tudo! Quem pariu muda o mundo!" Ana Paula Masson Química [email protected] |
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8/5/2014
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