Anestesia (analgesia) no parto normal não é brincadeira, não! É um procedimento médico e que requer cuidado e sabedoria no seu uso. Pode salvar um parto difícil ou até prejudica-lo por tirar a conexão da mulher com seu corpo. Ficou confuso? Vem ver o que a psicóloga e doula Eleonora Moraes tem a dizer sobre o tema, unindo evidência científica e sua experiência como doula!
Transcrição do Vídeo
Eu falo muito muito aqui nesse canal sobre alívio não farmacológico da dor. Sobre a mulher sentir intensamente as emoções do parto. Tá bom, eu sou passional e eu sou psicóloga mas vamos falar agora sobre anestesia no trabalho de parto? Vamos juntos. Vem comigo.
Eu sou Eleonora, doula aqui do Despertar do Parto, já tive minhas duas filhas de partos normais sem analgesia, mas porém, como doula, eu já acompanhei muitos partos de mulheres com analgesia e sem analgesia. Então eu to aqui pra te contar como é que isso acontece e prós e contras também desse procedimento.
Primeiro ponto, não existem remedinhos mágicos que você possa tomar, nenhuma injeçãozinha única para resolver a questão do alívio da dor no trabalho de parto. A intervenção para que se possa acontecer analgesia, ela é bastante complexa, tanto que o profissional para poder te oferecer uma anestesia no parto, ele precisa ser formado em medicina, e também ter feito a especialização dele em anestesiologia. Ou seja, são os nossos queridos “tim” Anestesistas. Importante deixar claro aqui que existe uma diferença entre anestesia no parto e analgesia no parto.
O que se usa no parto mal é a analgesia. É onde a mulher vai receber esse medicamento mas ela vai continuar com a mobilidade dela, só vai perder um pouco da dor mas continuar com a sensibilidade motora dela funcionando. Uma anestesia ela é dada para uma cesariana por exemplo, e aí você vai perder completamente a locomoção da cintura pra baixo, e também a sensibilidade quente/frio, de tato, de tudo mais.
Uma boa analgesia então, em um parto normal é aquela que vai tirar o excesso da dor mas vai deixar ainda essa mulher com alguma sensibilidade. E permitindo que ela tenha movimentação, que ela possa assumir posturas verticais, que ela possa inclusive andar. Isso seria a situação ideal, mas para isso a gente precisa de anestesistas experientes em fazer analgesia para o trabalho de parto normal.
Então pra entender agora sobre prós e contras, eu achei melhor a gente trazer um pouquinho de peso aqui nesse vídeo. Trazer um pouco de evidência científica, falando sobre o uso da analgesia no trabalho de parto. Então eu vou trazer aqui pra vocês os dados de uma revisão sistemática feita agora, publicada agora em maio de 2018 na biblioteca Cochrane, onde ela avaliou 52 ensaios clínicos com um montante de mais de 11.000 mulheres, onde elas receberam analgesia, diferentes tipos, a peridural, a combinada, onde elas não receberam nenhum tipo de analgesia ou também foram comparados com métodos não farmacológicos de alívio da dor. Esses resultados mostram que sim, que de fato a analgesia farmacológica, a peridural ou a combinada, são recursos realmente eficazes para reduzir a dor do trabalho de parto. No entanto elas estão associadas a alguns riscos, que seria a queda de pressão, o bloqueio motor, ou seja, dificuldade de se movimentar, de se colocar nas posturas verticais. Uma retenção urinária, e o que é mais significativo, um tempo de trabalhos de partos mais demorados e a necessidade do uso de ocitocina sintética para o trabalho de parto poder continuar, isso porque existe uma tendência em uma redução das contrações quando a analgesia é aplicada.
E essa tecnologia parece estar evoluindo com o passar do tempo porque na revisão sistemática anterior de 2011, os partos que tinham a analgesia peridural estavam também associados a mais uso de fórceps e de vácuo extrator, e maior necessidade de cesariana por conta de sofrimento fetal, sofrimento do bebê.
Vou deixar aqui no descritivo os links dessas duas revisões sistemáticas para quem quiser se aprofundar, conhecer um pouco mais, pode discutir com a equipe médica sobre. Mas o mais importante é entender que a gente tem uma segurança muito grande em um parto que é natural e fisiológico. E graças a Deus a gente tem o recurso da analgesia para ser utilizado naqueles casos em que a gente precisa, porque a gente sabe que ainda que tire a dor do parto a gente tem alguns riscos associados, então tá, agora eu vou tirar a roupinha da ciência e quero falar no meu lugar de pessoa que sou, como doula, acompanhando mulheres durante o trabalho de parto, o que é que eu percebo.
Sabe o que eu percebo, que a analgesia no parto ela tira a conexão da mulher com o próprio corpo, e isso pra mim é a pior, é a principal desvantagem. Se antes ela sentia as contrações, sentiu o parto e fazia aquilo que o corpo tava pedindo, através da sensação dolorosa inclusive. Pra que ela pudesse ajudar no processo fisiológico, de repente quando vem a analgesia, é como se a mulher às vezes não tivesse ali no parto. “Ah, ela fica feliz e aliviada, amando a equipe, amando o médico anestesista”. Mas muitas vezes sem conexão de que o bebê precisa nascer, precisa sair dali e que ela precisa ter um papel ativo nesse processo. Muito comumente a equipe precisa comandar o expulsivo dessa mulher,e ensinando a ela a fazer força, porque sim, se a gente não tá sentindo o incômodo da contração, a gente não sabe o que fazer para ajudar a fazer o puxo, que é aquela força cumprida de expulsivo para ajudar o bebê a nascer. E os puxos comandados pela equipe, eles estão bastante associados com falta de oxigenação pro bebê, porque às vezes a mulher acaba respirando menos e dando muito mais puxos prolongados do que ela daria se tivesse apenas sentindo o que o parto está exigindo dela, daquele momento. No entanto uma analgesia bem dada pode salvar um parto difícil, um parto prolongado, um parto onde a dor foi além da dor, ela se transformou em um sofrimento mental.
Esse processo virou uma verdadeira tortura e a gente pode chegar a essa conclusão depois que essa mulher recebeu todas as medidas não farmacológicas, alívio da dor, a equipe já fez todas as “mandingas” possíveis para que ela pudesse viver só a dor do parto, utilizando dos métodos não farmacológicos e mesmo assim ela fica nesse limbo do sofrimento, sem conseguir sair dele,
Uma outra situação onde isso pode acontecer é quando ela não tem a disponibilidade dela, esse recurso de alívio da dor as vezes não tem nem mesmo um acompanhante que possa dar esse suporte que ela precisa durante o trabalho de parto. Então nesses casos eu acredito que ela é muito bem vinda sim, eu já vi salvar partos difíceis. A gente só precisa entender que não é um procedimento para ser oferecido de forma rotineira, para todas as mulheres, só porque ele está disponível, e nem pelo contrário, as mulheres não terem acesso a esse recurso que deveria estar disponível a todas as mulheres, em todas as maternidades
Então eu fico por aqui, espero ter contribuído com informações para sua escolha consciente no seu trabalho de parto.
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Um beijo e até a próxima semana. Fui!
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