Muito se fala sobre o parto humanizado, mas pouco se entende sobre o que realmente isto quer dizer. Neste vídeo, Eleonora Moraes traz questionamentos e faz a gente pensar (e se divertir!) sobre o assunto. ☀️
Transcrição do vídeo:
Parto humanizado: tema atual hoje em dia. Está na boca de todo mundo, e antes ninguém falava sobre isso. “Ah, parto humanizado eu sei! É aquele na banheira cheia de florzinha com velas, é tão lindo! Ah menina, que coragem! ”; “Aqui no nosso hospital nós temos o protocolo de parto humanizado. O pai pode entrar na sala de parto e nós tocamos musiquinhas”. Pro Ministério da Saúde o Parto Humanizado, até um tempo atrás, era um direto à gestante de 6 consultas de pré-natal, e a permissão do acompanhante (do pai) poder entrar na sala de parto. Afinal dona Doula, o que é Parto Humanizado?
Eu sou Eleonora Moraes, psicóloga, Doula, mãe de três filhos e diretora do Despertar do Parto. Com esse vídeo a gente inaugura um projeto que é um sonho antigo de ter um canal no Youtube. Então, nesse canal a gente vai trazer informações pra vocês, não só eu mas como outros profissionais do Despertar do Parto e também profissionais convidados, pra enriquecer, trazer informações e também ter o contato mais próximo com vocês, saber quais são as dúvidas, e pra que vocês possam contribuir também com o nosso trabalho.
Nesse primeiro vídeo o assunto é Parto Humanizado. Como é essa história de Parto Humanizado? Na verdade, da onde vem essa classificação de tipos de parto? Parto na água, parto de cócoras, parto na banheira, parto sem dor... Se a gente pensar na história do parto, o parto antes acontecia em casa! Era atendido pelas parteiras, pelas mulheres da comunidade e da família, e imagina se naquela época tinha tipo de parto? Eu acho que não, a coisa simplesmente acontecia e os bebês nasciam.
Quando o parto veio pro hospital, veio com uma série de padronizações e ai sim se tinha cesariana, fórceps, ou parto vaginal/parto normal. A partir dai que se começou querendo sair dessa padronização e querendo se individualizar esse processo, a ter ideias sobre tipos de partos, que poderia ser na água, na banheira; mas será que isso responde o que seria Parto Humanizado?
Na verdade, a informação mais rica que eu tenho pra mim dentro da minha história de conhecimento e relação ao parto e sua história, é entender um conceito que quem trouxe foi uma antropóloga americana chamada Robbie Davis-Floyd, e ela traz pra gente conseguir compreender essa questão do parto no formato de assistência.
Na verdade, são as formas de assistência que a gente consegue escolher e poder oferecer. Uma é assistência medicalizada ao parto e o outro é assistência humanizada ao parto. Na assistência medicalizada ao parto, que é o que a gente mais escuta e mais vê em filmes, e com certeza você escuta mais sua vizinha, prima, a tia e todo mundo a contar como foi essa experiência, que muitas vezes está relacionada à relatos de violência e parto que não foi satisfatório. Ele vem dessa assistência medicalizada, e o que é dizer isso? Nessa assistência a gente entende que a fisiologia do parto precisa ser aperfeiçoada. “Ah, você está com 40 semanas de gestação, não teve contrações ainda, não vai nascer então é melhor a gente induzir no teu parto e ir pra cesárea direto, pois não vai entrar em trabalho de parto. ”
Então, tem sempre essa tendência a querer acelerar o processo que poderia ser fisiológico e natural, e aperfeiçoar o processo todo. Então aí entram todas as intervenções que vieram dentro da história da obstetrícia de uma forma rotineira sem se pensar muito (porque aprendeu com professor, e aprendeu com o professor, e aprendeu com o professor), colocando por exemplo o soro com ocitocina (hormônio do parto) para acelerar as contrações em todas as mulheres, independente de como elas chegaram pra maternidade.
Ou então, fazer o procedimento de rotina, e colocar a mulher em posição de litotomia (deitada, frango assado com as perninhas para cima), ou fazer o tal do piquezinho (corte no períneo, pobrezinho) ou epiziotomia. Foi aprendido de professor pra professor sem muito se estudar se isso trazia mais ou menos benefícios.
Na assistência medicalizada também a gente tem um outro tópico, que é protagonismo do parto ser centrado no médico e na instituição hospitalar. Então, tudo acontece pra favorecer aquela rotina hospitalar, pra favorecer o trabalho da equipe médica, mas será que o conforto da mulher está legal deitadinha naquela posição com aquele avental com a bunda de fora?
E um terceiro pilar da assistência medicalizada é que tem uma relação vertical de médico e paciente “Eu sou doutor, eu entendo, estudei 6 anos, fiz um monte de especializações, e eu sei o que você precisa na hora do parto”, “Mas doutor, eu ficar deitada não é muito bom! ”, “Mas eu sei que vai funcionar melhor assim, confie em mim.”
Por outro lado, a assistência humanizada vem pra quebrar todo esse formato rígido de atendimento ao parto, e de querer se colocar todas as mulheres a viver um processo igual. Então, na assistência humanizada ao parto, o que a gente tem em primeiro lugar é a confiança na fisiologia do parto. É acompanhamento, o obstare (estar ao lado) acompanhando essa mulher e vendo como vai ser esse processo fisiológico dela, quando tempo essa mulher em particular vai demorar; e aí sim que eu utilizo das intervenções.
Não é que eu não vou usar, e tem que ser parto normal a qualquer custo, ou tem que ser em casa com paninho, baldinho e as florzinhas com velinhas. Não! Na verdade, eu tenho conhecimento da tecnologia, tenho acesso à tecnologia, mas só vou utilizar em casos específicos. Se aquela mulher, se aquela situação de parto exige que tenha um aperfeiçoamento e tenha uma ajuda.
Na assistência humanizada, quem é a protagonista do parto é a mulher, e essa é a grande diferença! As profissionais que estão à volta dela estão ali com os recursos tecnológicos pra serem utilizados, mas vão se adaptar à individualidade dessa mulher que está fazendo o seu processo, e é ela que vai colocar o bebê pra fora.
A relação que acontece na assistência humanizada do profissional que atende (médico, enfermeira obstetra, obstetriz) em relação à parturiente, é uma relação que a gente chama de horizontalizada. As discussões sobre as decisões em relação as condutas de partos são compartilhadas entre os dois, assim como as responsabilidades. Então assim se consegue atender a mulher e a família num processo que é natural e fisiológico, se dando ênfase à individualidade, ao tempo, pra cada um e pra cada mãe nascer, e pra cada bebê nascer.
Então basicamente de uma forma muito simples essa é a diferença entre assistência medicalizada e assistência humanizada, e quando você estiver interessada em saber e buscar porque está grávida, ou conhece quem esteja e quer um parto humanizado, escolha bem a equipe e o lugar onde você vai ter o seu bebê, porque essa vai ser a grande diferença.
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