Sabe o que para mim é a pior intervenção no parto?
Transcrição do vídeo:
No vídeo de hoje, nós vamos ter um papo sério, e eu vou contar pra vocês o que é pra mim a pior intervenção no parto e nascimento. E aqui estou eu de novo! Eu sou Eleonora Moraes, psicóloga, Doula, diretora do Despertar do Parto e mãe de três filhotinhos lindos. No vídeo de hoje a gente vai conversar sobre o que eu considero que é a pior intervenção no parto e nascimento dentre todas que acontecem.
Muito mais do que uma cesariana desnecessária, do que episiotomia, e interferência na posição do nascimento; pra mim o pior das intervenções é quando se separa mãe e bebê logo depois do nascimento. Primeiro nós temos a questão emocional, puxa vida! Você esperou 9 ou 10 meses pra esse bebê nascer, grande parte da sua vida esperando seu filho chegar, e justamente nesse momento vem alguém e mostra o seu bebê “olha que bonitinho, tira uma foto!” E leva ele embora, sendo que você está com essa expectativa e quer muito que esse encontro aconteça, e quer viver esse momento da chegada do seu filho assim que ele sai de dentro de você.
E muitas vezes a justificava pra isso é pra você descansar, agora vamos conversar: você, com toda adrenalina liberada no momento do nascimento, seja pelo parto normal ou cesárea, com toda aquela tensão e expectativa, vai conseguir dormir cara colega e caros colegas profissionais médicos da assistência hospitalar? A gente não quer dormir! Na verdade, tudo que a gente quer é grudar no bebê, sentir o cheirinho, olhar as mãozinhas, o cabelinho, ver todos os detalhes do corpo, grudar naquele pedacinho de gente. Dormir não é uma coisa que está dentro do script nesse momento!
Então, muito além das emoções, a ciência tem nos apoiado nesse momento mostrando como é importante essa primeira hora do bebê. Essa primeira hora é chamada de Golden Hour, e é um momento muito rico e importante que não vai voltar nunca mais, de uma oportunidade e porta aberta muito grande pro estabelecimento do vínculo entre mãe e filho, e para o sucesso da amamentação.
Isso porque logo depois do nascimento e nas primeiras horas depois do parto, a mãe e o bebê estão enxercados por hormônios relacionados ao parto (ocitocina, adrenalina, prostaglandina, dentre outras), e cada um desses hormônios tem um papel especifico na formação do vínculo, e garantindo esse vínculo instintivo.
Depois que passaram essas duas horas o bebê entra em estado de sonolência, e geralmente é nesse momento que as maternidades separam mãe e bebê, levando o bebê pro berçário, e tomar banho e intervenções pra todo mundo ver da janela “ah que bonitinho”, e você fica lá “dormindo” (só que não) esperando seu bebê chegar. Quando ele chega no pacotinho todo embrulhado que você mal vê a cor da pele dele, e querem que você dê de mamar. Você não vai conseguir (dificilmente) dar de mamar logo de cara, pois o bebê está em estado de sonolência (adrenalina e ocitocina já abaixaram, assim como os outros hormônios já passaram), então a gente perdeu essa grande oportunidade pela Golden Hour.
Outro ponto é que os bebês são levados pela maternidade pro berçário com a seguinte justificativa na maioria das vezes: eles vão ficar no bercinho aquecido para observação, e é no bercinho aquecido porque eles perdem calor com facilidade, onde antes eles estavam dentro do útero com todo calor da mãe no ventre materno e aí de repente eles tem que manter a própria temperatura corporal, e tem dificuldade nisso.
Só que a própria literatura cientifica já nos mostra que “quem é a incubadorinha mais eficiente para garantir que o bebê não perca a temperatura? O colo da mãe! ” Sim, sim. No contato pele a pele, e isso é muito importante com nada de roupas. É o corpo da mãe, a pele da mãe com o bebê sem roupa, e um paninho por cima podendo ser mais aquecido no início. É isso que vai garantir que esse bebê não só mantenha o corpinho aquecido, como também regule melhor sua respiração junto com a respiração da mãe, ganhando um ritmo próprio dele, e o próprio batimento cardíaco do bebê. Então, é uma judiação a gente afastar o bebê nesse momento, e deixar eles naquelas incubadorinhas que a gente vê em berçário (caixa de acrílico onde o bebê está lá e a gente no máximo vê de longe), e tudo que eles querem é contar, com o corpinho mexendo e a boquinha começa a procurar o peito pelo reflexo de sucção deles que já está ativado nessas primeiras horas.
E pra você ter uma ideia da importância disso, muitas maternidades públicas para terem o selo de “hospital amigo da criança”, que é um selo muito importante que traz mais recursos financeiros e premiações pro hospital, eles não podem ter berçários para deixar os bebês. Claro, eles têm que ter uma unidade para atender os bebês que precisem de atendimento, pois não nasceram bem e isso é óbvio, ficando em observação na equipe médica. Mas para o hospital ter esse selo não pode ter berçário, e tem que deixar o bebê em contato com a mãe o tempo todo, ou no máximo com o pai ou acompanhante que a mulher estiver.
Então minhas queridas, garantam isso! Conversem com a equipe que vai atender o parto, e sobretudo com o pediatra porque é ele quem mais vai direcionar onde o bebê vai ficar logo depois do parto, e conheça também nas maternidades da sua cidade quais oferecem como rotina já nem colocar o bebê dentro do berçário enquanto você está descansando, pra só depois de 4 horas ou 2 que sejam levar o bebê pra você. Então minha dica é que você fique atenta, e não caia nessa intervenção só porque é rotina do hospital, e lute pelo que é seu por direito, por saúde, e porque é o mais gostoso, melhor e o que você merece de fato.
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