Parir dói e isso é fato. A propaganda da “horrível e insuportável” dor do parto é por demais divulgada pela mídia. Recheia os dramas televisivos e os cinemas, está presente nas bocas de mulheres e homens (até dos que não passaram pela experiência) como a maior dor que o homem possa sentir na face da terra e assim assombra futuras parturientes, que seguindo o modelo dos seus astros televisivos, fogem sem pestanejar para uma medida enganosamente mais segura e menos dolorida chamada cesárea.
Mas porque parir dói? Porque o parto não é indolor ou até mesmo prazeroso já que visa a procriação da espécie? A natureza seria cruel em maltratar as mulheres em momento tão sublime? A dor do parto tem funções extremamente importantes na hora do parto. Ela mostra o caminho a ser percorrido pelo corpo durante o processo. Ensina em que melhor posição ficar, qual o momento de fazer força, nos ensina instintivamente o que fazer para facilitar o processo fisiológico do nascimento do bebê. É uma dor muito sábia. Vem e vai a cada contração, como as ondas do mar, oferecendo um tempo abençoado para respirar e para descansar até o próximo mergulho. Aos poucos a maré sobe e as ondas crescem, ficam imensas e precisamos da humildade da entrega, de oferecer corpo e alma à prova máxima da natureza humana. É um processo intenso, primitivo, dolorido e às vezes difícil, mas que pode ser uma oportunidade única de intenso contato com nós mesmas, com o mistério da vida e com o pequeno ser que vem ao mundo naquele momento. É preciso apenas um certo autopreparo, apoio, carinho e compreensão de quem assiste a parturiente para que a dor não se transforme em sofrimento e o corpo e a mente não se debatam em cada onda, afogando-se no meio do caminho. A dor do parto nos traz para o presente de forma intensa e talvez seja esta a sua principal função. Coloca corpo, alma, hormônios e sentidos a postos no momento mais sublime e mágico da vida humana. Prontos e vitoriosos, eles irmanam-se fortalecendo a recém-mãe, numa forma preciosa de dar as boas vindas ao novo ser que chega ao mundo através de seus braços. |
Eleonora MoraesPsicóloga pela USP, Doula formada pela ANDO e mãe de 3 filhos. É a mãe maior do Despertar do Parto desde 2004. Arquivo
August 2015
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1/6/2004
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