Dia 09/08/13 estréia o corajoso longa metragem brasileiro nos cinemas que mais abordou o assunto parto e nascimento no Brasil. Tive a oportunidade de assisti-lo em sua pré-estréia e retrato aqui as minhas impressões. Sem fazer rodeios, o filme é uma paulada. Expõe a ferida e mostra sem piedade a realidade cruel dos nascimentos brasileiros. Eu que já assisti centenas de filmes ligados ao tema, fiquei impactada. Afundei na cadeira, tapei os olhos, me arrepiei, vivi uma gama de emoções diferentes e revivi claro, os meus partos, os partos das mulheres que já acompanhei e talvez os partos de todas mulheres retratadas no filme. Não foi fácil. Faltou o ar. Mas por outro lado, o alento chegou poderoso, e a gente até consegue respirar e vibrar amorosamente, com as análises profundas e bem colocadas dos grandes mestres da humanização, ou porque não, da nossa era: Michel Odent, Naoli Vinaver, Ana Cris Duarte, Esther Vilela, Laura Upigler, Ricardo Jones, Robbie Davis Floyd, entre tantos outros. Gente que enxerga a frente do seu tempo e ousa dizer o que pensa, ecoando e dando voz aos sentimentos de toda uma geração que é sensível a causa. Vibrei amorosamente também com as mulheres reais, em suas histórias reais e doloridas, constatando emocionadas a oportunidade que lhes foi tirada de viver a experiência transcendente do parto. Não só por causa das falsas indicações de cesárea, mas também por conta dos excessivos rituais que o homem moderno criou neste evento que, em sua natureza e força, deveria ser simples, natural e fisiológico. Refiro-me as intervenções médico-hospitalares como infusão de hormônios sintéticos, analgesia, episiotomia, empurrar a barriga, separar mãe e bebê, pingar nitrato de prata nos olhos do bebê, aspira-lo e manipula-los com violência. Intervenções que já a se mostraram absolutamente ineficazes e prejudiciais quando utilizadas rotineiramente. Dentre diversas análises, compartilho sobretudo com a descrição brilhante da antropóloga Robbie Davies Floyd (complementada pelo obstetra Ricardo Jones), sobre a necessidade do homem em criar rituais frente aos processos da vida que nos são incontroláveis, desconhecidos e que por isto mesmo, nos provocam medo. As experiências do nascimento, da morte e da sexualidade são os maiores eventos em nossa vida onde este medo do desconhecido se manifesta. E o parto agrupa em si mesmo e ao mesmo tempo, estas 3 intensas experiências: morte e renascimento da filha em mãe, medo de morrer, nascimento de um novo ser e uma intensa e profunda experiência da nossa própria sexualidade. Haja ritual para dar conta do medo de tudo isto. A saída é padronizar intervenções bem concretas como a hospitalização, a camisola, o soro e afins, preferencialmente dessexualizando a experiência, para assim minimizar os "riscos". E seguindo nesta linha, me arrisco a ir um pouco mais além, afirmando que renascer o parto é principalmente tornar consciente o entendimento de que o evento de trazer ao mundo um novo ser é a maior oportunidade de evolução interna que uma mulher pode viver. Porque ela vai necessariamente aceitar este medo maior, mergulhar no seu próprio silêncio e descobrir quais são os seus verdadeiros rituais internos. Não para dominar este medo maior, mas para iluminar as sombras da sua mente medrosa e barulhenta, descobrir o melhor de si mesma, e viver o presente confiando seu corpo e o seu bebê a algo maior e impalpável que confiamos estar lá: esta energia morna, divina e confortante que chamamos de "amor". E quando ela o encontra, carrega nesta onda amorosa todos que a rodeiam, principalmente o novo ser, relembrando esta chama única da qual todos nós pertencemos. Parabéns ao corajoso casal Eduardo Chauvet e Érica de Paula, que deram conta do recado. Aguardemos ansiosos e confiantes qual será a reação do público em geral a partir da estréia oficial. E que o amor triunfe, transformando a forma de viver e nascer, amém. Conheça o site do filme e descubra se ele vai passar em sua cidade: http://www.orenascimentodoparto.com.br
Juliana Vilela
9/5/2016 23:00:29
A definição mais bonita que pude ler sobre o parto, quando vc diz: "...trazer ao mundo um novo ser é a maior oportunidade de evolução interna que a mulher pode viver. Porque ela vai aceitar esse medo maior, mergulhar no seu próprio silêncio e descobrir quais são seus rituais internos..."
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Eleonora
10/5/2016 13:22:20
Obrigada Juliana!
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Eleonora MoraesPsicóloga pela USP, Doula formada pela ANDO e mãe de 3 filhos. É a mãe maior do Despertar do Parto desde 2004. Arquivo
August 2015
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8/8/2013
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