É fundamental que o nascimento de uma nova vida seja um momento cercado de amor e de cuidado, tanto com a mãe quanto com o bebê A chegada de um filho é um momento único na vida da família, especialmente para as mamães, sejam elas de primeira viagem ou não. É por isso que essa hora é, em boa parte das vezes, registrada e guardada como um verdadeiro tesouro pelas famílias. O que impede que a afirmação acima seja uma unanimidade também vem suscitando muita discussão sobre a chegada do filho, e não se trata apenas do tipo de parto mais adequado para trazer o bebê à luz: o tema é a humanização dos partos. Fato é que a proporção de cesarianas realizadas no Brasil aumenta, consideravelmente, a cada ano. Estudos internacionais demonstram que essa escolha nem sempre acontece estritamente por necessidade médica, causando impactos na vida do bebê e da mãe. No país, a pesquisa “Nascer no Brasil: um inquérito nacional sobre parto e nascimento”, coordenada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), buscou compreender os efeitos das intervenções obstétricas durante o parto. O trabalho descreve a motivação das mulheres para a escolha do tipo de parto e apresenta números a respeito de complicações no pós-parto e no período neonatal, bem como a estrutura dos hospitais, a qualificação dos recursos humanos, a qualidade de equipamentos e os medicamentos disponíveis. O estudo foi realizado por amostra e contou com a colaboração de 266 hospitais com cerca de 500 partos ao ano, organizados por região geográfica e tipo de hospital (público, privado e misto), incluindo capitais e cidades do interior de todos os estados do Brasil. Aproximadamente 24 mil mulheres de 191 municípios diferentes foram entrevistadas de fevereiro de 2011 a outubro de 2012. Observou-se que, no Brasil, 52% dos partos realizados na rede pública são cesáreas; na rede particular, o índice sobre para 88%. Para se ter uma ideia do que estes números representam, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende que as cesarianas devem corresponder a, no máximo, 15% dos partos. Além disso, 28% das mulheres brasileiras já começam o pré-natal desejando a cesárea, enquanto a média mundial é de 10%. No setor público, a preferência inicial pela cirurgia é de 15%; já no setor privado, a preferência inicial pela cesárea é de 36,1%. O estudo mostra, também, que mesmo nos partos normais, o atendimento não segue integralmente aos critérios recomendados pela OMS, causando dor e sofrimento desnecessários às mães. Trabalho de parto no leito por um período muito longo, sem alimentação e estímulos necessários, além da oferta exagerada de medicamentos para acelerar as contrações estão entre as práticas mais comuns nos hospitais brasileiros. Os dados ainda apontam que, por aqui, apenas 19,8% das mães com baixo risco na hora do parto tiveram direito a um acompanhante durante todo o período. Mais do que isso: somente 25,6% puderam se alimentar, 46,3% foram estimuladas a se movimentar e 28% tiveram acesso a procedimentos não farmacológicos para alívio da dor. Finalizando essa lista, apenas 5% dos partos ocorreram sem intervenções — no Reino Unido, este número chega a 40%. O estudo da ENSP/Fiocruz ainda conclui que a cesariana, quando feita sem necessidade, aumenta os riscos de morbidade respiratória, internação, ida para a UTI e óbito. Para a mãe, a lista de riscos inclui hemorragia, infecção e óbito. Entre os especialistas, as discussões passam pelos efeitos da cesariana em longo prazo — acredita-se que os bebês tenham mais chance de sofrer com doenças como síndrome metabólica, asma, diabetes, hipertensão arterial, doença cardiovascular e obesidade. Incentivo oficial
O objetivo dessas mudanças é assegurar a saúde materna e infantil, que confere à primeira mamada a responsabilidade pela redução dos riscos de anemia e de morte, pois garante ao bebê a ingestão calórica necessária no primeiro momento de vida, além de acelerar a descida do leite materno e aumentar a chance de sucesso no aleitamento. Outro ponto importante é a redução do risco de morte da mãe por hemorragia uterina. Silvana Maria Quintana, professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenadora da equipe de Obstetrícia da Mater do Município, explica que as recomendações da OMS se aplicam a todas as mulheres, porém, em grande parte, são direcionadas aos partos normais, uma vez que a cesárea só deve ser considerada em casos específicos. “Evidências científicas demonstram que tais medidas facilitam o estabelecimento do vínculo precoce e definitivo entre a mãe e o filho. Este vínculo fortalecido só beneficia as relações familiares como um todo”, pontua a especialista. Para não atrapalhar a produção dos hormônios durante o trabalho de parto, é essencial que se garanta um ambiente acolhedor, tranquilo e livre de fatores estressantes (como excesso de barulho e de luz), a fim de que a mãe e seu acompanhante possam se concentrar no nascimento. O conforto da mãe no momento do parto também favorece o acolhimento da nova vida. Para isso, recomenda-se, ainda, que a mulher possa escolher a posição do nascimento e que receba ajuda para aliviar as dores comuns nessa hora. Bem antes do parto
A média anual de cesáreas realizadas na Instituição de saúde que ela comanda é de 26%. A obstetra afirma que a unidade faz parte do Programa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e da Rede Cegonha do Ministério da Saúde. “A Mater tem seguido grande parte das recomendações preconizadas pela OMS e pelo SUS. Também buscamos oferecer às gestantes a possibilidade, dentro da realidade de uma maternidade com alta demanda, de receber um atendimento humanizado”, destaca Silvana. Para ela, as medidas devem ser implementadas em todas as maternidades, pois são comprovadamente benéficas para mães, filhos e para a família. Felizmente, a população vem se conscientizando sobre tais questões e, gradativamente, exigindo que as instituições e os profissionais de saúde estejam preparados para atender às gestantes, parturientes e às mães de forma mais humanizada. “A popularização da internet e das redes sociais também tem contribuído para ampliar o acesso das mulheres a informações relativas à gestação e ao nascimento do filho, o que é extremamente benéfico”, conclui a médica. Apesar da timidez e das primeiras contrações, Joice Patrícia Carvalho chegou à Mater bem informada e tranquila para o nascimento do primeiro filho. “Mas confesso que estou bastante ansiosa para ver a carinha do Miguel”, contou a jovem mamãe. Segundo ela, a atenção recebida pela equipe da Mater a deixou extremamente confortável. “Percebi de cara que o lado humano do parto é valorizado por aqui”, comenta Joice. Saúde em primeiro lugar À frente do Instituto Aninhare, a pediatra Luciana Herrero (CRM: 137.701) salienta que, além do fortalecimento do vínculo entre mãe e filho, a saúde é a principal vantagem na mudança do protocolo divulgada pelo Ministério da Saúde. “O contato pele a pele entre mãe e filho logo no nascimento é essencial para estimular o sistema imune do bebê. É neste primeiro abraço que a mãe coloniza o recém-nascido com sua flora e passa a ele sua primeira proteção. Esse contato inicial também favorece o sucesso da amamentação, pois estimula a produção do colostro (aquele líquido amarelado e muito rico em anticorpos que antecede o leite materno) e também uma ‘pegada’ mais adequada do bebê ao seio, evitando fissuras e machucados na mama”, explica a especialista. Para ela, o sistema público, com seus hospitais amigos da criança, é um exemplo a ser seguido pela rede privada de saúde. “Esses locais possuem um olhar atento às necessidades do binômio mãe-bebê, além de estimularem o parto humanizado e a amamentação. É importante frisar que a humanização não é uma ‘moda’ ou uma maneira específica de dar à luz, mas, sim, colaborar para que a mulher se sinta plena e participante de um dos momentos mais especiais da sua vida, que é a chegada do bebê. Isso pode acontecer em qualquer local — no hospital, em casa ou em uma casa de parto — e de muitas formas — como em um lindo parto normal ou até em uma cesariana respeitosa e necessária”, completa Luciana. A pediatra reforça que é importante que as famílias grávidas conheçam profundamente cada tipo de parto, suas vantagens e desvantagens. “A informação é fundamental para uma tomada de decisão consciente e embasada; caso contrário, a escolha segue a via comum, que é a de realizar uma cesariana agendada por medo ou praticidade, o que nem sempre é o mais indicado e seguro para o bebê”, explica. Para a psicóloga e mãe de primeira viagem Michelle Monezi Gonçalves, a vontade de recepcionar seu bebê em um ambiente respeitoso a fez pensar em inúmeras possibilidades. “Esse momento deve ser mágico. É um sentimento único, em que o bebê precisa de total aconchego materno desde o primeiro minuto. Por isso, lutei para tê-lo da forma mais natural possível, repleta de afeto e de vínculo”, diz Michelli. Para a psicóloga, apoderar-se de conhecimento sobre os tipos de partos e sobre a criação com apego foi fundamental para a decisão final. “As informações que eu e meu marido recebemos na Aninhare durante nossa gestação foram fundamentais. Assim, foi possível ter discernimento e, com responsabilidade, tomar a decisão correta. Trazer um filho ao mundo deve ser algo prazeroso e mágico. Se a mãe não estiver preparada para isso, pode passar por dificuldades e sofrer desnecessariamente”, opina a mamãe do recém-nascido Davi. A maneira de trazê-lo ao mundo foi uma escolha que uniu razão e coração, segundo Michelle. “Fiz questão do contato com meu filho no primeiro minuto de vida. Também quis sentir os sintomas do parto, que foram extremamente saudáveis. Escolhi estar com meu filho em todos os momentos”, acrescenta. Segundo Heloísa Nogueira, membro da equipe Aninhare, o papel dos profissionais de saúde é de orientar e respeitar as escolhas de cada mãe. “Cada mulher é única. Por isso, permitir a elas que façam sua escolha, de forma responsável, é demonstrar total sensibilidade e humanidade na hora do nascimento”, diz Heloísa. Tudo para depois Conforme a portaria do Ministério da Saúde, os primeiros cuidados de rotina, como exame físico, pesagem e outras medidas neonatais, devem ficar para depois do contato imediato entre mãe e filho. O pré-natal também está entre as sugestões do documento. Entre as ações previstas estão os exames de risco habituais e a familiaridade da gestante com o local onde será realizado o parto. Ações relacionadas à saúde sexual, à prevenção e ao tratamento de doenças sexualmente transmissíveis também compõem as diretrizes de humanização. Para Eleonora de Moraes, responsável pelo Despertar do Parto, que oferece cursos de preparação para gestantes, as mudanças, baseadas em evidências científicas, têm grande valor. “Estudos demonstram claramente que um bebê saudável não deve ser separado da mãe ao nascer. É preferível que eles recebam as primeiras ações do serviço de saúde — pesagem, limpeza e demais verificações — horas depois do que o contrário”, garante a especialista, completando que, apesar de ter gerado pouca discussão, é necessário admitir que há um avanço nessa questão. “Embora ainda estejamos caminhando para o cenário ideal, a mudança de paradigma em relação ao atendimento da mulher e do recém-nascido já é um avanço, seja na rede pública ou privada”, diz Eleonora. Segundo ela, as novas medidas complementam portarias anteriores na direção da humanização do parto. “O governo vem se engajando cada vez mais nessa questão. Os profissionais sabem qual é a real importância da nova recomendação. A gestante bem informada, por sua vez, deve exigir esse direito e, geralmente, será atendida”, afirma. As duas horas pós-nascimento são essenciais. “Nesse período, ambos estão encharcados por hormônios, como a ocitocina e a adrenalina, que têm um papel específico na formação do vínculo. Se esse bebê é afastado da mãe durante nesse momento, há uma quebra no processo, podendo interferir no estabelecimento da comunicação entre mãe e bebê e até mesmo na amamentação”, reforça Eleonora. De volta à cena Uma função nada nova vem voltando ao cenário atual. Encarregada de proporcionar informação, acolhimento, apoio físico e emocional às futuras mamães, a figura da doula já foi reconhecida pela OMS e pelo Ministério da Saúde de diversos países, incluindo o Brasil. Esse ressurgimento faz parte do processo de integração entre ciência e tradição. “Para mim, a humanização do parto está ligada ao protagonismo da mulher na escolha do procedimento que quer enfrentar na hora de dar à luz uma criança. Ela irá perceber que nem sempre é preciso recorrer à tecnologia para colaborar com esse processo, que é fisiológico”, reforça Eleonora. O ginecologista e obstetra Jorge Ricardo Kunzle (CRM: 59494), diretor técnico do Sinhá Hospital Materno Infantil, afirma que as recomendações preconizadas por si só não garantem que o atendimento seja mais humanizado, mas servem como alerta para os profissionais ficarem mais atentos quanto à importância do atendimento humanizado, principalmente neste momento especial na vida das famílias. “A tendência é que esta mudança ocorra em toda a rede hospitalar, pública e particular. Muitas transformações propostas já são uma realidade em várias maternidades particulares”, comenta. Para o especialista, independente do tipo de parto, sua humanização é fundamental para a vida da mulher. “Esperamos que as mudanças proporcionem mais benefícios às gestantes, aos bebês e à família, porém, só o tempo é que vai nos mostrar”, completa. Mamãe 2.0 As gestantes conectadas à tecnologia encontram diversos aplicativos, para tablets e smartphones, cuja função é disponibilizar diversas informações sobre cada fase dessa espera e também depois do nascimento. Confira!
Hora do Remédio: possibilita colocar o nome do remédio e os horários recomendados, individual ou automaticamente, selecionando o intervalo necessário. A ferramenta emite um alarme na hora certa, avisa quantos dias faltam para o término do tratamento e alerta sobre a hora de comprar uma nova caixa. Disponível para Android e iOS Canções de ninar: dedicado exclusivamente às músicas para dormir, oferece cinco opções e um temporizador, por onde os pais poderão ajustar a hora em que a música deve cessar. Disponível para Android Boa Noitinha: perfeito para pais com dificuldade de colocar os bebês para dormir. O app ajuda crianças de 1 a 4 anos no ritual diário de dormir. O design em 2D é alegre e convidativo e está disponível em 12 idiomas, inclusive português. Disponível para Android e iOS (gratuito para Android) Baby Mimo: com ele, as mamães podem fazer anotações, colocar fotos, informações sobre peso, altura e evolução do bebê. Disponível para Android e iOS Gravidez Semana a Semana: acompanha o desenvolvimento do bebê desde o início, seguindo até o dia do nascimento. Permite adicionar anotações e fotografias a cada uma das etapas, criando um diário pessoal e interativo que pode ser acessado a qualquer momento e de qualquer lugar. Disponível para iPhone Texto: Cristiane Araujo Fotos: Carolina Alves Diagramação: Lucas Chaibub * Publicado em 26/08/2014 Fonte: Revide Link: http://www.revide.com.br/gerais/nascimento-humanizado724/ Leave a Reply. |
Imprensa O Despertar do Parto na Arquivo
September 2014
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27/8/2014
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