É fundamental que o nascimento de uma nova vida seja um momento cercado de amor e de cuidado, tanto com a mãe quanto com o bebê A chegada de um filho é um momento único na vida da família, especialmente para as mamães, sejam elas de primeira viagem ou não. É por isso que essa hora é, em boa parte das vezes, registrada e guardada como um verdadeiro tesouro pelas famílias. O que impede que a afirmação acima seja uma unanimidade também vem suscitando muita discussão sobre a chegada do filho, e não se trata apenas do tipo de parto mais adequado para trazer o bebê à luz: o tema é a humanização dos partos. Fato é que a proporção de cesarianas realizadas no Brasil aumenta, consideravelmente, a cada ano. Estudos internacionais demonstram que essa escolha nem sempre acontece estritamente por necessidade médica, causando impactos na vida do bebê e da mãe. No país, a pesquisa “Nascer no Brasil: um inquérito nacional sobre parto e nascimento”, coordenada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), buscou compreender os efeitos das intervenções obstétricas durante o parto. O trabalho descreve a motivação das mulheres para a escolha do tipo de parto e apresenta números a respeito de complicações no pós-parto e no período neonatal, bem como a estrutura dos hospitais, a qualificação dos recursos humanos, a qualidade de equipamentos e os medicamentos disponíveis. O estudo foi realizado por amostra e contou com a colaboração de 266 hospitais com cerca de 500 partos ao ano, organizados por região geográfica e tipo de hospital (público, privado e misto), incluindo capitais e cidades do interior de todos os estados do Brasil. Aproximadamente 24 mil mulheres de 191 municípios diferentes foram entrevistadas de fevereiro de 2011 a outubro de 2012. Observou-se que, no Brasil, 52% dos partos realizados na rede pública são cesáreas; na rede particular, o índice sobre para 88%. Para se ter uma ideia do que estes números representam, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entende que as cesarianas devem corresponder a, no máximo, 15% dos partos. Além disso, 28% das mulheres brasileiras já começam o pré-natal desejando a cesárea, enquanto a média mundial é de 10%. No setor público, a preferência inicial pela cirurgia é de 15%; já no setor privado, a preferência inicial pela cesárea é de 36,1%. O estudo mostra, também, que mesmo nos partos normais, o atendimento não segue integralmente aos critérios recomendados pela OMS, causando dor e sofrimento desnecessários às mães. Trabalho de parto no leito por um período muito longo, sem alimentação e estímulos necessários, além da oferta exagerada de medicamentos para acelerar as contrações estão entre as práticas mais comuns nos hospitais brasileiros. Os dados ainda apontam que, por aqui, apenas 19,8% das mães com baixo risco na hora do parto tiveram direito a um acompanhante durante todo o período. Mais do que isso: somente 25,6% puderam se alimentar, 46,3% foram estimuladas a se movimentar e 28% tiveram acesso a procedimentos não farmacológicos para alívio da dor. Finalizando essa lista, apenas 5% dos partos ocorreram sem intervenções — no Reino Unido, este número chega a 40%. O estudo da ENSP/Fiocruz ainda conclui que a cesariana, quando feita sem necessidade, aumenta os riscos de morbidade respiratória, internação, ida para a UTI e óbito. Para a mãe, a lista de riscos inclui hemorragia, infecção e óbito. Entre os especialistas, as discussões passam pelos efeitos da cesariana em longo prazo — acredita-se que os bebês tenham mais chance de sofrer com doenças como síndrome metabólica, asma, diabetes, hipertensão arterial, doença cardiovascular e obesidade. Incentivo oficial
O objetivo dessas mudanças é assegurar a saúde materna e infantil, que confere à primeira mamada a responsabilidade pela redução dos riscos de anemia e de morte, pois garante ao bebê a ingestão calórica necessária no primeiro momento de vida, além de acelerar a descida do leite materno e aumentar a chance de sucesso no aleitamento. Outro ponto importante é a redução do risco de morte da mãe por hemorragia uterina. Silvana Maria Quintana, professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenadora da equipe de Obstetrícia da Mater do Município, explica que as recomendações da OMS se aplicam a todas as mulheres, porém, em grande parte, são direcionadas aos partos normais, uma vez que a cesárea só deve ser considerada em casos específicos. “Evidências científicas demonstram que tais medidas facilitam o estabelecimento do vínculo precoce e definitivo entre a mãe e o filho. Este vínculo fortalecido só beneficia as relações familiares como um todo”, pontua a especialista. Para não atrapalhar a produção dos hormônios durante o trabalho de parto, é essencial que se garanta um ambiente acolhedor, tranquilo e livre de fatores estressantes (como excesso de barulho e de luz), a fim de que a mãe e seu acompanhante possam se concentrar no nascimento. O conforto da mãe no momento do parto também favorece o acolhimento da nova vida. Para isso, recomenda-se, ainda, que a mulher possa escolher a posição do nascimento e que receba ajuda para aliviar as dores comuns nessa hora. Bem antes do parto
![]() A média anual de cesáreas realizadas na Instituição de saúde que ela comanda é de 26%. A obstetra afirma que a unidade faz parte do Programa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e da Rede Cegonha do Ministério da Saúde. “A Mater tem seguido grande parte das recomendações preconizadas pela OMS e pelo SUS. Também buscamos oferecer às gestantes a possibilidade, dentro da realidade de uma maternidade com alta demanda, de receber um atendimento humanizado”, destaca Silvana. Para ela, as medidas devem ser implementadas em todas as maternidades, pois são comprovadamente benéficas para mães, filhos e para a família. Felizmente, a população vem se conscientizando sobre tais questões e, gradativamente, exigindo que as instituições e os profissionais de saúde estejam preparados para atender às gestantes, parturientes e às mães de forma mais humanizada. “A popularização da internet e das redes sociais também tem contribuído para ampliar o acesso das mulheres a informações relativas à gestação e ao nascimento do filho, o que é extremamente benéfico”, conclui a médica. Apesar da timidez e das primeiras contrações, Joice Patrícia Carvalho chegou à Mater bem informada e tranquila para o nascimento do primeiro filho. “Mas confesso que estou bastante ansiosa para ver a carinha do Miguel”, contou a jovem mamãe. Segundo ela, a atenção recebida pela equipe da Mater a deixou extremamente confortável. “Percebi de cara que o lado humano do parto é valorizado por aqui”, comenta Joice. Saúde em primeiro lugar ![]() À frente do Instituto Aninhare, a pediatra Luciana Herrero (CRM: 137.701) salienta que, além do fortalecimento do vínculo entre mãe e filho, a saúde é a principal vantagem na mudança do protocolo divulgada pelo Ministério da Saúde. “O contato pele a pele entre mãe e filho logo no nascimento é essencial para estimular o sistema imune do bebê. É neste primeiro abraço que a mãe coloniza o recém-nascido com sua flora e passa a ele sua primeira proteção. Esse contato inicial também favorece o sucesso da amamentação, pois estimula a produção do colostro (aquele líquido amarelado e muito rico em anticorpos que antecede o leite materno) e também uma ‘pegada’ mais adequada do bebê ao seio, evitando fissuras e machucados na mama”, explica a especialista. Para ela, o sistema público, com seus hospitais amigos da criança, é um exemplo a ser seguido pela rede privada de saúde. “Esses locais possuem um olhar atento às necessidades do binômio mãe-bebê, além de estimularem o parto humanizado e a amamentação. É importante frisar que a humanização não é uma ‘moda’ ou uma maneira específica de dar à luz, mas, sim, colaborar para que a mulher se sinta plena e participante de um dos momentos mais especiais da sua vida, que é a chegada do bebê. Isso pode acontecer em qualquer local — no hospital, em casa ou em uma casa de parto — e de muitas formas — como em um lindo parto normal ou até em uma cesariana respeitosa e necessária”, completa Luciana. A pediatra reforça que é importante que as famílias grávidas conheçam profundamente cada tipo de parto, suas vantagens e desvantagens. “A informação é fundamental para uma tomada de decisão consciente e embasada; caso contrário, a escolha segue a via comum, que é a de realizar uma cesariana agendada por medo ou praticidade, o que nem sempre é o mais indicado e seguro para o bebê”, explica. Para a psicóloga e mãe de primeira viagem Michelle Monezi Gonçalves, a vontade de recepcionar seu bebê em um ambiente respeitoso a fez pensar em inúmeras possibilidades. “Esse momento deve ser mágico. É um sentimento único, em que o bebê precisa de total aconchego materno desde o primeiro minuto. Por isso, lutei para tê-lo da forma mais natural possível, repleta de afeto e de vínculo”, diz Michelli. Para a psicóloga, apoderar-se de conhecimento sobre os tipos de partos e sobre a criação com apego foi fundamental para a decisão final. “As informações que eu e meu marido recebemos na Aninhare durante nossa gestação foram fundamentais. Assim, foi possível ter discernimento e, com responsabilidade, tomar a decisão correta. Trazer um filho ao mundo deve ser algo prazeroso e mágico. Se a mãe não estiver preparada para isso, pode passar por dificuldades e sofrer desnecessariamente”, opina a mamãe do recém-nascido Davi. A maneira de trazê-lo ao mundo foi uma escolha que uniu razão e coração, segundo Michelle. “Fiz questão do contato com meu filho no primeiro minuto de vida. Também quis sentir os sintomas do parto, que foram extremamente saudáveis. Escolhi estar com meu filho em todos os momentos”, acrescenta. Segundo Heloísa Nogueira, membro da equipe Aninhare, o papel dos profissionais de saúde é de orientar e respeitar as escolhas de cada mãe. “Cada mulher é única. Por isso, permitir a elas que façam sua escolha, de forma responsável, é demonstrar total sensibilidade e humanidade na hora do nascimento”, diz Heloísa. Tudo para depois ![]() Conforme a portaria do Ministério da Saúde, os primeiros cuidados de rotina, como exame físico, pesagem e outras medidas neonatais, devem ficar para depois do contato imediato entre mãe e filho. O pré-natal também está entre as sugestões do documento. Entre as ações previstas estão os exames de risco habituais e a familiaridade da gestante com o local onde será realizado o parto. Ações relacionadas à saúde sexual, à prevenção e ao tratamento de doenças sexualmente transmissíveis também compõem as diretrizes de humanização. Para Eleonora de Moraes, responsável pelo Despertar do Parto, que oferece cursos de preparação para gestantes, as mudanças, baseadas em evidências científicas, têm grande valor. “Estudos demonstram claramente que um bebê saudável não deve ser separado da mãe ao nascer. É preferível que eles recebam as primeiras ações do serviço de saúde — pesagem, limpeza e demais verificações — horas depois do que o contrário”, garante a especialista, completando que, apesar de ter gerado pouca discussão, é necessário admitir que há um avanço nessa questão. “Embora ainda estejamos caminhando para o cenário ideal, a mudança de paradigma em relação ao atendimento da mulher e do recém-nascido já é um avanço, seja na rede pública ou privada”, diz Eleonora. Segundo ela, as novas medidas complementam portarias anteriores na direção da humanização do parto. “O governo vem se engajando cada vez mais nessa questão. Os profissionais sabem qual é a real importância da nova recomendação. A gestante bem informada, por sua vez, deve exigir esse direito e, geralmente, será atendida”, afirma. As duas horas pós-nascimento são essenciais. “Nesse período, ambos estão encharcados por hormônios, como a ocitocina e a adrenalina, que têm um papel específico na formação do vínculo. Se esse bebê é afastado da mãe durante nesse momento, há uma quebra no processo, podendo interferir no estabelecimento da comunicação entre mãe e bebê e até mesmo na amamentação”, reforça Eleonora. De volta à cena ![]() Uma função nada nova vem voltando ao cenário atual. Encarregada de proporcionar informação, acolhimento, apoio físico e emocional às futuras mamães, a figura da doula já foi reconhecida pela OMS e pelo Ministério da Saúde de diversos países, incluindo o Brasil. Esse ressurgimento faz parte do processo de integração entre ciência e tradição. “Para mim, a humanização do parto está ligada ao protagonismo da mulher na escolha do procedimento que quer enfrentar na hora de dar à luz uma criança. Ela irá perceber que nem sempre é preciso recorrer à tecnologia para colaborar com esse processo, que é fisiológico”, reforça Eleonora. O ginecologista e obstetra Jorge Ricardo Kunzle (CRM: 59494), diretor técnico do Sinhá Hospital Materno Infantil, afirma que as recomendações preconizadas por si só não garantem que o atendimento seja mais humanizado, mas servem como alerta para os profissionais ficarem mais atentos quanto à importância do atendimento humanizado, principalmente neste momento especial na vida das famílias. “A tendência é que esta mudança ocorra em toda a rede hospitalar, pública e particular. Muitas transformações propostas já são uma realidade em várias maternidades particulares”, comenta. Para o especialista, independente do tipo de parto, sua humanização é fundamental para a vida da mulher. “Esperamos que as mudanças proporcionem mais benefícios às gestantes, aos bebês e à família, porém, só o tempo é que vai nos mostrar”, completa. Mamãe 2.0 As gestantes conectadas à tecnologia encontram diversos aplicativos, para tablets e smartphones, cuja função é disponibilizar diversas informações sobre cada fase dessa espera e também depois do nascimento. Confira!
Hora do Remédio: possibilita colocar o nome do remédio e os horários recomendados, individual ou automaticamente, selecionando o intervalo necessário. A ferramenta emite um alarme na hora certa, avisa quantos dias faltam para o término do tratamento e alerta sobre a hora de comprar uma nova caixa. Disponível para Android e iOS Canções de ninar: dedicado exclusivamente às músicas para dormir, oferece cinco opções e um temporizador, por onde os pais poderão ajustar a hora em que a música deve cessar. Disponível para Android Boa Noitinha: perfeito para pais com dificuldade de colocar os bebês para dormir. O app ajuda crianças de 1 a 4 anos no ritual diário de dormir. O design em 2D é alegre e convidativo e está disponível em 12 idiomas, inclusive português. Disponível para Android e iOS (gratuito para Android) Baby Mimo: com ele, as mamães podem fazer anotações, colocar fotos, informações sobre peso, altura e evolução do bebê. Disponível para Android e iOS Gravidez Semana a Semana: acompanha o desenvolvimento do bebê desde o início, seguindo até o dia do nascimento. Permite adicionar anotações e fotografias a cada uma das etapas, criando um diário pessoal e interativo que pode ser acessado a qualquer momento e de qualquer lugar. Disponível para iPhone Texto: Cristiane Araujo Fotos: Carolina Alves Diagramação: Lucas Chaibub * Publicado em 26/08/2014 Fonte: Revide Link: http://www.revide.com.br/gerais/nascimento-humanizado724/ Parto domiciliar não exige acompanhamento médico; no entanto, deve ser feito a 15 minutos do hospitalTheo nasceu na sala de casa, pelas mãos do pai. Foi direto para o colo da mãe. Os três passaram mais de uma hora na banheira, curtindo o nascer. A mamãe cantava a música “Anunciação”: “Eu não duvido, já escuto teus sinais. Que tu virias numa manhã de domingo”. Era mesmo domingo. A doula e as enfermeiras obstétricas acompanharam cada momento. “O meu parto foi lindo”, diz Tânia Galdeano Sampaio. Quando engravidou, ela decidiu que teria o filho de parto normal. Conheceu o parto domiciliar e se encantou pela ideia. A gravidez foi tranquila e não havia contraindicações. O marido aprovou de imediato. “Me entreguei ao processo”. Tânia se entregou à dor. “Não retraí meu corpo. Na dor, eu imaginava o meu colo se abrindo”. O parto aconteceu sem nenhum tipo de intervenção. Quando pegou o filho no colo, Tânia se sentiu completa. “A gente nasceu para isso”. O parto domiciliar tem sido alternativa para mulheres que buscam a humanização em todo o procedimento. Em Ribeirão Preto, grupos como “Despertar do Parto” e “Espaço Flora” oferecem acompanhamento pré e pós-parto. No Despertar há, inclusive, cursos para formação de doulas, mulheres que acompanham toda a gestação e o parto, com o objetivo de amparar emocionalmente gestantes e aliviar as dores das contrações sem o uso de intervenções. Não é necessário acompanhamento médico - apenas duas enfermeiras, uma delas obstétricas, e a doula. Sociedades médicas criticam a prática, mas, oficialmente, não há contraindicação. “Os riscos de um parto domiciliar e de um hospitalar são os mesmos”, diz a ginecologista Flávia Maciel de Mendonça. A afirmação é compartilhada pelo ginecologista Caio Prado. A única obrigação é que haja um hospital a menos de 15 minutos da residência onde o parto será realizado. Caio pontua que, no Brasil, esse é um grande problema. “Alguns bairros têm hospital próximo, outros não. A forma como as cidades estão dispostas pode ser um complicador”. Ele explica também que há dificuldade em chegar a um hospital com a necessidade de uma cesárea de urgência. “Principalmente em convênio, há burocracia para a autorização do parto”. Em países da Europa, ele diz, a equipe obstétrica que acompanha o parto em casa tem comunicação direta com os hospitais para, em casos de emergência, não haver demora. “O Brasil ainda não está preparado para isso, tanto em estrutura quanto culturalmente. Ainda temos um grande caminho a percorrer”, Caio é realista. Hospitais têm espaço para humanização Para as mulheres que querem humanização, mas preferem estar dentro do hospital, já há algumas opções em Ribeirão Preto. O Hospital RDO tem um quarto completamente preparado para o parto humanizado, inclusive com banheira. A maternidade Sinhá Junqueira permite que a gestante leve a banheira inflável. A mulher também pode estar acompanhada da doula e de sua equipe de confiança. Antônio vai nascer em hospital, mas com parto totalmente natural. A mamãe, Patrícia Magnani, está com 39 semanas de gestação e se prepara para um parto sem intervenções. “É pelo bebê. Por todos os benefícios que ele vai ter”, diz ela. A doula Thaiane Caetano pinta a barriga de Patrícia como forma de carinho com o bebê. “O trabalho da doula é amparar a mulher antes e durante o parto. Proteger a mulher do ciclo medo-tensão-dor”. * Publicado em 24/08/2014
Fonte: Jornal A Cidade Link: http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,982595,Theo+nasceu+em+casa+opcao+alternativa.aspx Procedimento cirúrgico deve ser realizado pela equipe médica no caso de a vida do bebê e da mãe estarem em perigoStephania Ghellere preparou o nascimento de Lorenzo desde o primeiro dia da gestação. Queria que tudo saísse no tempo dele. No quarto do RDO, o clima foi de acalanto. Velas, banheira quentinha, música e calmaria. Foram 12h de tentativas. No início, a dilatação estava rápida. “Já estamos com oito centímetros”, avisou a médica Flávia Maciel de Mendonça, quando cheguei para acompanhar o parto. Sthepania parecia mais forte a cada contração. “Vem Lorenzo, vem para a mamãe”, dizia, fazendo carinho na barriga. Quando as dores ficaram mais intensas, a doula Thaiane Caetano preparou a banheira. O pai, Bruno Ghellere, dava carinho. A mãe comeu chocolate, tomou suco e até andou pelos corredores do hospital. A cada pedido, médica, a enfermeira Raquel Vivancos e doula respondiam. “Escolha a posição melhor para você”. Já por volta das 3h da madrugada, Lorenzo “parou a descida”. O parto, que havia começado às 19h, deixou de evoluir. Às 5h, Stephania pediu analgesia. Já não conseguia mais suportar as dores. Às 7h, a médica explicou que a cesárea seria a melhor opção. Stephania chorou. “Depois de tudo o que a gente passou?”, perguntava para a equipe. “Você não vai ser menos e nem mais mãe”, a doula explicou. A equipe deu força, reunida. A médica Flávia explicou que a cesárea seria por indicação, não eletiva. “Nesse caso, você fez tudo o que podia. É pela sua segurança e do bebê”. Nesse tipo de situação, a cesárea é bem-vinda. “É um procedimento cirúrgico fantástico, que se bem indicado pode salvar mãe e bebê”, pontua a ginecologista Silvana Quintana, da Faculdade de Medicina da USP. Ana Paula da Silva Magalhães já estava na 40ª semana de gestação sem sentir contrações ou sinais de que o bebê estava pronto. Procurou a Mater e descobriu que Emilly estava presa, em uma posição com a cabeça para cima. “A cesárea salvou a vida dela”, disse a médica. A indicação para a cesárea de Lorenzo foi pela parada na progressão fetal e porque o seu tamanho não condizia com a bacia da mãe. O meninão nasceu com pouco menos de 4 kg. Até na cesárea, porém, houve humanização. O centro cirúrgico ficou a meia luz. Houve música. O bebê foi para o colo da mãe. “Olha o papai, filhão”, e a emoção inundou dentro e fora da sala de parto. “Você viu meu neto? Ele não é lindo?”, gabava-se o avô na sala de espera. Lorenzo nasceu saudável, sorrindo para o mundo.
Entendi tudo dentro. Parto é natural. Cesárea salva vidas, quando as vidas precisam ser salvas. Era o caso de Lorenzo e Stephania. É o caso de muitas gestantes. Mas tem que ser o caso. O parto normal não tem esse nome à toa. Nasci de cesárea e ainda não sou mãe. Sempre escutei dizer que esse era o método mais seguro. Com a imersão na reportagem, pude redescobrir. Que delícia ouvir o choro do Lorenzo! Que delícia assistir à vida começar! Daniela Penha - Repórter que redescobriu o parto * Publicado em 24/08/2014
Fonte: Jornal A Cidade Link: http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,982601,Cesarea+quando+indicada+salva+vidas.aspx Pesquisa revela que 25% das gestantes sofrem agressões obstétricas; mães de Ribeirão contam suas histórias
Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo revelou, em 2010, que 25% das mulheres já sofreram algum tipo de violência no parto. Em 2012, dossiê da Rede Parto do Princípio levou o tema ao Senado. Ainda que o Brasil não tenha leis específicas para esse tipo de violência, os direitos da mulher são protegidos pela Constituição. Órgãos públicos e privados incentivam a denúncia. O ginecologista Caio Antônio de Campos Prado explica que a violência obstétrica caracteriza-se por “qualquer tipo de agressão, seja física, emocional ou verbal, praticada por algum integrante da equipe de assistência à gestante”. Ele enfatiza que dentro da equipe estão inclusos todos os profissionais que auxiliam a mulher antes, durante e após o parto, do porteiro ao obstetra. A violência pode ser sutil ou gritante. “Vai desde comentários maldosos até a prática de procedimentos com os quais a gestante não concorda”, diz Prado. Daiane passou os nove meses da segunda gestação desejando que Sofia nascesse de parto normal, como a primeira. Trocou de médico três vezes em busca de um profissional que aceitasse a sua vontade. A médica, inicialmente, pareceu concordar. Quando Sofia já dava os primeiros sinais de que viria ao mundo, o aviso inesperado. “Ela já estava encaixada e eu já estava com dilatação. Era só esperar, mas a médica me chamou no consultório e pediu um ultrassom”. No exame, foi constatado que a bebê estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço. “Ela me dizia que se eu não fizesse a cesárea minha filha ia morrer asfixiada. Eu fui para o centro cirúrgico me sentindo obrigada”. Após o parto, Daiane se informou. “Não há contraindicação. É mais uma falácia obstétrica”, orienta a ginecologista Flávia Mendonça. Saber a verdade fez o parto ainda mais doloroso. “Meu emocional doeu mais que o físico”, diz Daiane. Caio orienta que o pré-natal é a melhor proteção. “É preciso conhecer e conversar muito com o médico. No parto, a mulher deve se preocupar com o nascimento. Não com os procedimentos que vão ser feitos”. SUS busca se adequar Fernanda precisou brigar para ter seu direito ao parto normal sem intervenções respeitado pelo convênio médico. Em meio às dores das contrações, ouviu do médico mais de uma vez. “Eu te falei que não era fácil, que doía”. As duas filhas, Emanuele e Emili, nasceram de parto normal. No parto da primeira, porém, Fernanda recebeu anestesia sem que quisesse e corte na região pélvica. Nos dois partos as bebês foram levadas da mãe na primeira hora de vida. No segundo, melhor informada, ela bateu o pé. Falou para o médico que queria o parto mais natural possível. Ele, então, foi embora do hospital, dizendo que o procedimento iria “demorar para evoluir”. Ela conta que menos de uma hora depois, precisou ser atendida por um médico plantonista, na correria por um centro cirúrgico. A Mater, principal maternidade pública de Ribeirão, está buscando se adequar à humanização sugerida pelo Ministério da Saúde. O diretor técnico da maternidade, Caio Prado, diz que as salas de pré-parto contam com banquetas e bolas, que auxiliam no trabalho de parto e, na maior parte do tempo, o contato imediato entre mãe e recém-nascido é respeitado. “A gente esbarra no volume. Se tem muitos bebês nascendo ao mesmo tempo, não é possível”. Ele explica que a maternidade está passando por reformas que devem terminar em 2015. A ideia é que as mulheres contem até mesmo com banheiras para o parto na água e alívio das contrações. O Hospital da Criança, que deverá ser inaugurado este ano, planeja centro obstétrico humanizado. A maternidade Cidinha Bonini atenderá o SUS. * Publicado em 24/08/2014
Fonte: Jornal A Cidade Link: http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,982592,Violencia+no+parto+vitimiza+mulheres.aspx Em Ribeirão Preto, 60% dos partos são cesáreas; assistência humanizada, preconizada pela Saúde, ainda é para poucosContra a vontade da mãe, Sofia nasceu de cesárea e aumentou o preocupante índice desses partos em Ribeirão Preto. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que 15% do total de partos sejam cesáreas; a cidade tem índice de 60%. “Me senti enganada pela médica”. Daiane Parreira, estava na segunda gestação. A primeira filha nasceu de parto normal. “Tinha tudo para que a Sofia também nascesse”. A menina já tem dois anos, mas o inconformismo de Daiane não diminuiu. “A médica me disse que se eu não fizesse cesárea minha filha ia morrer. Hoje, eu sei que não é assim”. Ribeirão segue a tendência nacional. O Brasil é o recordista do mundo em cesáreas, de acordo com a pesquisa “Nascer no Brasil”, da Fundação Oswaldo Cruz. Em meio a esse contexto, a humanização acontece vagarosa. Portarias do Ministério da Saúde de 2013 e 2014 determinam, entre outras medidas, o contato imediato entre mãe e bebê após o nascimento, a amamentação na primeira hora de vida, o acolhimento do recém-nascido antes de qualquer procedimento e formaliza como parto normal o procedimento sem intervenções. No SUS, no entanto, não há maternidades estruturadas para prestar esse tipo de atendimento em tempo integral. Mulheres relatam que mesmo pelo convênio encontram dificuldades em conseguir o parto desejado. A busca por partos alternativos, como o domiciliar, tem crescido, com o respaldo de organizações e das doulas - figura da antiga parteira. Os custos, porém, ficam entre R$ 6 e R$ 12 mil. O Hospital RDO, inaugurado há um ano, e a Maternidade Cidinha Bonini, recém-inaugurada, surgiram sob as bases da humanização. Esperança na luta por um atendimento melhor, que tem muito a caminhar. Ela pode escolher a posição em que quer dar à luz e são utilizados métodos alternativos para amenizar as dores das contrações, como massagens, bola e banheira de água quente. Muitas mulheres dão à luz na banheira. Intervenções médicas, como anestesia, corte na região pélvica, ocitocina sintética para aumentar as contrações, só acontecem com a sua permissão. O cordão umbilical não é cortado enquanto pulsa. O bebê vai para o colo da mãe e a amamentação acontece na primeira hora de vida. Motivos vão da mentalidade à falta de estrutura Os motivos que levam ao cenário de cesáreas vão da mentalidade de que é o mais seguro à estrutura do sistema de saúde. “O médico recebe praticamente o mesmo por cesárea e normal. Um acontece com hora marcada. O outro é imprevisível”, pontua Caio Antônio de Campos Prado, diretor técnico da Mater. Flávia Mendonça era uma “obstetra tradicional”, em suas palavras, especialista em cesariana. Depois que teve o primeiro filho pelo parto que estava acostumada a fazer, mudou a visão. “Eu achei sem sentido”. Na segunda gravidez, já pesquisava sobre o parto humanizado. Bianca nasceu em casa e a mãe sente que renasceu. Hoje só leva à cirurgia pacientes com indicação. “Eu tive a oportunidade de reescrever minha história”. * Publicado em 24/08/2014
Fonte: Jornal A Cidade Link: http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,982588,Em+terra+de+cesarea+humanizar+e+desafio.aspx |
Imprensa O Despertar do Parto na Arquivo
September 2014
Categorias |
27/8/2014
0 Comments