Passados dois anos e eu ainda não tinha conseguido escrever o meu relato de parto. Eis que eu recebo um convite para “apadrinhar” uma gestante que eu não conheço, escrevendo para ela uma mensagem que a incentive no seu parto. Comecei a escrever a carta para essa gestante – a Juliana, e no meio do caminho o meu relato de parto brotou. Acho que me faltava a sensação de ter um interlocutor. E o meu interlocutor agora não é um interlocutor qualquer, mas uma mulher que em breve vai ter o seu momento de parir. Então, obrigada Juliana. Você, sem saber, me ajudou a escrever o meu relato de parto!
Eu vim de uma família na qual as mulheres têm a cesárea como forma de trazer seus filhos ao mundo. Minha mãe teve quatro filhos, todos de cesárea eletiva. Um deles, o meu irmão mais velho, quase morreu por ter nascido prematuro. Ainda assim, parto normal na minha família era coisa de índio, de bicho. Mas era isso que eu queria de todo o coração. Minha gravidez foi super desejada e nem precisei esperar o atraso da menstruação pra fazer o exame de gravidez. Eu já sabia. Sempre fui muito ativa, então busquei a ioga como atividade física para o próximos 9 meses que viriam. Nessa procura por ioga para gestantes em Ribeirão Preto, encontrei o Despertar do Parto. As aulas de ioga eram precedidas de uma roda de conversa, onde compartilhávamos angústias, alegrias e sonhávamos com o parto e a chegada do bebê. Lá me dei conta de que no nosso país, infelizmente, a tendência do sistema de saúde é conduzir a gestante para a cesárea, mesmo que isso não seja nem necessário, nem o desejo da mulher. Fiquei mal. Então, quer dizer que, mesmo que tudo esteja bem, mesmo que eu não queira e não precise de uma cirurgia, isso vai ser imposto a nós? Li sobre os riscos da cirurgia para mim, para o bebê, para uma futura gestação e tive muito medo. Porém, decidi transformar esse medo na força propulsora para batalhar pelo parto mais seguro e respeitoso pra mim e para a minha filha. Decidi contratar uma doula – a Helena Junqueira. Escolhi o GO com maior índice de parto normal da cidade e fui deixando claro pra ele as informações que eu vinha colhendo e as minhas escolhas a partir de tais informações. Estava preparada racionalmente e fisicamente para o parto. Mas, quem disse que a gente é só isso? No fim da gestação, voltei a ter medo. Medo da dor, medo da morte, medo do desconhecido. E se eu não der conta? E se eu precisar de anestesia? E se algo der errado? Minha resposta ao medo foi me afastar de tudo que pudesse alimentá-lo e me cercar só daquilo que me fazia bem. Quando ficávamos só eu, minha filha e o Pedro bem juntos, isolados até, o medo fugia de nós. Fui me isolando, me fechando em nós três. No dia dos namorados eu saí pra jantar com o Pedro - meu namorado, marido e pai da minha filha. Eu completava 40 semanas naquele dia. Durante o jantar, ainda que inconscientemente, convidamos nossa filha pra vir ao mundo. Falamos dela, do quanto queríamos que ela nascesse e do quanto estávamos felizes pela proximidade da sua chegada. Cecília gostou da nossa prosa e quatro horas após o jantar, as contrações começaram. Primeiro, achei que fossem só “coliquinhas” que não me deixavam dormir. Levantei da cama e fui começar o dia às quatro da manhã. Essas cólicas me acompanharam o dia inteiro e eu resolvi ligar para a minha doula e para o meu médico. Ela me tranquilizou, disse para eu tentar relaxar e se colocou à disposição caso o quadro evoluísse. Ele pediu que eu fosse ao consultório. 1 cm de dilatação. Ele me mandou pra casa para relaxar, e voltar a falar com ele caso algo mudasse. Fui pra casa, tomei banho de banheira, chá de camomila... Mas, quanto mais eu relaxava, mais as contrações vinham. Nada daquela dor horrorosa que a gente vê nos filmes ou nas novelas – uma cólica que me fazia parar, respirar e continuar o que eu estava fazendo antes. Meu marido chegou do trabalho, depois de um longo plantão e fomos dormir. Vira pra lá, vira pra cá e a coliquinha não deixa dormir. Fui ver TV, porque TV dá sono. Jogo de futebol, primeiro tempo, segundo tempo, filme na sequência, seriado. Coliquinha danada. Resolvi olhar no relógio e ver a duração e intervalo das contrações. Percebi que elas estava ritmadas e com pouco intervalo entre elas. “É... acho que você está em trabalho de parto” disse a minha anjo-doula Helena. Isso fez a maré mudar. Enfim o parto chegou chegando. Helena levou cerca de 20 minutos pra chegar na minha casa. A dor chegou antes dela. Acordei meu marido e falei que estava em trabalho de parto, mas disse que ele devia ir dormir de novo porque ele estava cansado e, sabe como é, parto normal demora. Era meia-noite e, segundo meus cálculos, eu só iria parir lá pela hora do almoço. Nunca fui muito boa em matemática. Daqui pra frente é aquela hora que a parida já não consegue mais relatar com precisão. A cabeça já não funciona porque o corpo - a nossa parte bicho, está no comando. Sentia uma dor imensa nas costas, junto com uma gigante cólica abdominal (bem semelhante à cólica menstrual). E a dor vinha em ondas, começava pequena e ia aumentando, aumentando... e diminuía devagarinho. Helena me levou para o chuveiro e me ofereceu a bola pra eu sentar em cima. A água morna, a posição confortável e o olhar seguro da minha doula fizeram com que as dores não diminuíssem, mas se tornassem absolutamente suportáveis. No intervalo das contrações, o corpo volta a ficar em silêncio, eu recobrava a consciência e falava. Falei sobre a vida, sobre o tempo, fofoquei. Foi então que mais uma contração se aproximou e eu disse: “Ai, meu Deus, não! Não! Não”. Helena segurou minha mão e disse mais alto que eu: “Sim!Sim!Sim!”. Foi crucial. Dali em diante, cada contração foi recebida com um “sim!” meu. Vem, vem sim, pode vir! Vem Cecília. Nem sei por quantas horas fiquei no chuveiro, sentada na bola. Só me lembro de que, em a algum momento, eu me senti encharcada e querendo ir pra minha cama. Deitei e as contrações vinham com força, me fazendo querer arrancar um pedaço da parede com as minhas mãos. Entre as contrações eu já não falava mais. Estava cansada, com sono, com dor e comecei a reclamar disso. Eram mais de 3 horas da manhã e a Helena sugeriu que eu dormisse um pouco. Achei que seria impossível dormir naquela situação, mas, não sei como, entre uma contração e outra, eu dormia. Até que meu sono foi interrompido por um estalo dentro de mim. Era como se um osso muito fino tivesse se partido chegando a fazer um barulinho. O estalo veio acompanhado por uma enxurrada que molhou minhas roupas, minha cama e meu corpo. “A bolsa rompeu!”. E a maré mudou novamente. Dali em diante fiquei bicho ferido, absolutamente entregue, sem o menor poder de me opor a quem quer que fosse. Por isso a escolha de quem vai acompanhar o parto é fundamental. Nessa hora, você pode não estar apta para brigar, discuti e se impor. Eu, sempre tão firme e determinada, fiquei querendo ser conduzida, pequena e frágil. Helena olhou o aspecto do líquido que saiu da bolsa. Tudo ok! Mas, depois do rompimento da bolsa, a dor ficou beirando o insuportável. Nada aliviava. Quer dizer, quase nada... Só um abraço me ajudava suportar a dor. Eu precisava de um forte abraço durante a contração, precisava apertar alguém contra meu corpo para suportar a dor. Acorda o marido, liga pro GO e prepara para ir para o hospital. Eu já disse que me preparei para o parto. Faltou só preparar a bolsa maternidade! Helena saiu catando umas coisas pra mim e pra Cecília e eu fiquei abraçando o Pedro. O Pedro foi trocar de roupa, eu abraçava a Helena. Fomos para o hospital comigo gemendo no banco de trás do carro. Chegamos umas 4 da manhã no hospital. Eu estava em franco trabalho de parto. A recepcionista olha pra mim, pega o telefone e diz “Alguém prepara o centro cirúrgico porque tem uma cesárea não agendada”. Que triste a situação do nosso país que olha para uma gestante e já logo supõe que se trata de uma cirurgia... Rosnei, entre dentes, que era um parto normal. Meu GO chegou, fomos para o quarto. Exame de toque: 9 centímetros! Ok, foi uma delícia saber que toda aquela dor não foi em vão, que meu trabalho de parto estava a pleno vapor e que em breve a minha filha estaria nos meus braços. Mas, nenhuma contração, NADA no parto doeu mais do que o exame de toque (nota mental para o próximo parto: quem vier me dar toque vai levar chute). Gritei, que nem um bicho ferido, para que o GO tirasse a mão de mim. Fui encaminhada para o centro cirúrgico (não me pergunte pra quê). Já no elevador, meu corpo me mandou fazer força. Era como se um balão de gás estivesse cheio dentro da minha barriga e a única coisa a ser feita era empurrá-lo um pouco mais pra baixo. É irresistível, não tem como não fazer força durante o expulsivo. E não tem, nem metáfora, nem comparação que possa explicar para uma mulher o jeito que ela deve fazer força durante o expulsivo. É o corpo quem dá as coordenadas certinhas. E eu estava no elevador quando meu corpo mandou que eu começasse a fazer força. Corre-corre no centro cirúrgico, essa mulher vai parir fora da maca. O Pedro foi vestir o roupa e a touca de centro cirúrgico e depois a Helena. Eu fiquei por talvez 30 segundos sem nenhum acompanhante comigo no centro cirúrgico, só com os médicos e equipe de enfermagem. Experiência estranha. Entendo perfeitamente as mulheres cujo parto trava, não evolui quando chegam ao hospital e se vêem privadas do que lhes é caro, do que lhes traz conforto e aconchego. Veio uma contração e eu sozinha. E agora? Uma técnica de enfermagem arrumava a maca para que eu me deitasse. Olhei pra ela e, meio que avisando, meio que suplicando, falei: “Vou te abraçar...” e abracei essa mulher que eu nunca tinha visto na vida. 30 segundos sozinha e foi um bálsamo ver a Helena e o Pedro de volta. “Vou parir na posição que eu quiser!”, eu disse a gestação inteira. Mas não achei posição que me desse conforto. Tentei me deitar de lado e não me fez bem. Justo a posição que eu tinha lido que era a mais contra-indicada para o parto (litotomia: deitada, de barriga pra cima), foi a que me pareceu melhor. Vai entender... De tempo em tempo vinha o imperativo do meu corpo para que eu fizesse força. Meu marido me abraçava, a Helena segurava minha mão. O GO e o pediatra tentaram me explicar blá blá blá, como eu deveria fazer força blá blá blá, para o bebê sair mais rápido blá blá blá. Mas eu estava ocupada demais para ouvi-los. Uma técnica de enfermagem, coitada, tentou empurrar a minha barriga. Rosnei pra ela “Não empurra a minha barriga!”e ela virou pó, nunca mais foi vista naquele centro cirúrgico. 45 minutos de expulsivo e eu estava cansada. Olhei pra Helena e disse que não aguentaria mais. Ela saiu do meu lado, foi espiar entre as minhas pernas e voltou com a frase que me deu gás pra mais 400 expulsivos: “Eu vi uma cabecinha loirinha, loirinha. Tá acabando, você consegue”. Cecília fingiu que ia sair, mas decidiu ficar mais um pouquinho dentro de mim. Não senti coroar, não senti o tal círculo de fogo, só senti quando ela veio totalmente decidida a nascer. Eram 6:17 da manhã. Pra essa hora, faltam palavras. É como ter um milagre acontecendo dentro de você. Inominável. Cecília veio pro meu colo, fez uma pausa no choro para me olhar bem fundo nos meus olhos. Tão pequenina e tão forte a minha menina. Apresentei-me pra ela. Ficamos ali por não sei quanto tempo, só sei que foi menos do que gostaríamos. O sistema tem pressa! Ela foi pesada, medida e voltou pro meu colo pra mamar em paz. Parto sem indução, sem episiotomia, sem laceração... sem intervenção alguma. Cecília plenamente saudável. Nenhum gemido de dor foi em vão! O assombro da equipe da enfermagem ao me ver sentar, me ajeitar na maca normalmente e amamentar a minha filha ali no centro cirúrgico denuncia o quanto essa prática é rara nos nossos hospitais e o quanto a cesárea pode inviabilizar tudo isso. Mudei de maca sem ajuda e seguimos os três para o nosso quarto sob os comentários das enfermeiras de que “nossa, parto normal é outra coisa”. Sim, parto normal é outra coisa. É coisa de bicho. Eu sou bicho. Você que leu este relato, também é bicho. Toda mulher é bicho.
Com o resultado positivo nas mãos dei meu primeiro palpite, será outro menino. Mas nessa mesma noite sonhei que uma voz na minha barriga protestava “Pare de dizer que eu sou menino, porque eu sou uma menina!”. E das bravas! Quando não conseguimos comprovar se era menina ou menino no ultrassom de 12 semanas, decidimos por esperar pela surpresa no parto, o que gerou imensa ansiedade de todos, mas também um sentimento delicioso de suspense. Maria era Batatinha por enquanto. Confesso que demorei para me sentir realmente grávida, tinha dias que eu nem lembrava que tinha alguém crescendo dentro de mim. Foi só com o peso da barriga que a conexão começou a acontecer, e mesmo assim era preciso fechar os olhos e me concentrar para me sentir uma nova mãe. Maria contribuía para esse esquecimento. Era um bebê calmo que mexia super pouco e de forma suave dentro da barriga. Mas quando eu fechava os olhos e pensava nela, logo imaginava uma força enorme, uma luz vermelha vibrante que pulsava dentro de mim. Parecia uma contradição, mas era assim que ela se apresentava para mim. A gestação foi super tranquila, só tivemos um susto por volta das 15 semanas. Um sangramento depois do Gael pular na minha barriga e eu ter uma noite de cólicas. Mas ela estava lá, forte e saudável, ainda pulsando no meu ventre. Diferente do parto do Gael que precisou de uma imensa jornada para chegar na decisão de como ele chegaria ao mundo, desde o primeiro momento o parto da Maria era uma certeza. Parto domiciliar, equipe maravilhosa com as minhas parteiras do coração e doulas que viraram amigas. Eu não tinha medo algum, dúvida alguma. Apesar do parto do Gael ter sido absurdamente demorado e cansativo, eu só conseguia lembrar de ter sido maravilhoso, da sensação deliciosa de estar na partolândia, de como era gostoso sentir o bebê saindo de mim. No primeiro parto eu era apenas uma menina que se informou bastante para conseguir o parto que queria. Dessa vez eu era mais, eu era ativista, eu era doula, eu sabia de tudo até de trás para frente. Bobagem a minha. Cada gestação é única, cada parto é único. Ter passado por isso só me deixou mais ansiosa no final. Assim como na gestação do Gael, quando estava com 37 semanas comecei a sentir que ela veria antes cedo do que tarde. Era a ansiedade transbordando. Vem, Batatinha, vem. Mas ela viria no tempo só dela. O meu único medo era ter que enfrentar outra maratona disfarçada de parto. Afirmava o tempo todo que já tinha feito hora extra em trabalho de parto e não aguentaria isso de novo. Mas bastava um novo olhar sobre o trabalho de parto para afastar essa sensação. Eu alternava a vontade de parir logo com a vontade de que a gestação esperasse o máximo possível passar as férias escolares do Gael. Tinha medo de não conseguir conciliar o ciúmes e cuidados com os dois. No fundo, só precisava esperar pelo menos pelo chá de bênçãos. Na quinta-feira anterior ao parto foi o dia de receber as bênçãos das amigas queridas. Dona Doula Leo chegou mais cedo em casa para pintar a barriga e traduziu toda a força da Maria em seu desenho. Até acertou que ela viria cabeluda. É muita sensitividade numa pessoa só! A tarde foi linda e emocionante. Acho que nunca me senti tão amada e protegida. O banho de boas energias foi essencial para a chegada da Batatinha. Obrigada Dea e Helena por organizarem cada detalhe e por todo esse amor! Depois de tanta ocitocina, as primeiras cólicas vieram no almoço de domingo. Cólicas gostosas que noticiavam que o processo começaria a qualquer momento. A dor ainda era boa, ainda era amiga, ainda anunciava a alegria que estava por vir. Na segunda-feira as contrações vinham mais fortes, mas ainda sem nenhum ritmo. Vida normal. Fui no Mães no Ventre e encontrei minhas doulas amadas. Leo fez uma aula especial “vem Batatinha”, foi uma delícia. Quando a noite chegou as contrações se intensificaram e ganharam ritmo. Vinham a cada 10 minutos e assim foi durante a noite toda. E a única coisa que eu conseguia pensar era “que dor amiga que nada, eu sou louca de fazer isso de novo!”. Pois é, parir dói e a gente esquece disso. Parir demora e a gente esquece disso. Parir demanda entrega e a gente esquece disso também. Avisei minhas parteiras para que ficassem a postos, pois viriam de Campinas. Avisei também minha doula Helena que as contrações vinham a cada 10 minutos e ela sugeriu que eu tentasse dormir mais essa noite. Quem disse. Ansiedade me corroendo, ela estava chegando. Dor me corroendo, eu realmente estava louca de fazer isso de novo. Isso dói! Eu e Camila, minha parteira linda, trocamos mensagens na madrugada para decidir qual o melhor momento de vir para Ribeirão. O parto do Gael demorou muito e eu não queria acioná-las cedo demais. As contrações começaram a ficar mais próximas. A cada 10 minutos, a cada 8 minutos, a cada 6 minutos. Quando decidi pedir para as parteiras virem para Ribeirão era 4h da manhã, mas elas já estavam aqui e logo chegaram na minha casa. Quando elas chegaram estávamos todos de pé, inclusive o Gael, que acorda sempre de madrugada. O plano era que ele participasse do parto da irmã, mas tínhamos um plano B caso ficasse difícil tê-lo por perto. Helena também não demorou a chegar para aliviar o processo. Apesar de ter feito o curso de doula, de ter estudado, de já ter passado por tudo isso, parece que a gente esquece de tudo. E foi bom que eu esqueci para poder me entregar por inteiro a esse novo processo. Eu vocalizava muito nas contrações e Gael começou a ficar assustado. A cada nova contração ele vinha correndo na minha direção e se chocava contra a minha barriga. Doía mais ainda. Decidimos ligar para minha mãe vir buscá-lo. Ela chegou em alguns minutos e vê-la com lágrimas nos olhos pela anunciação da chegada da pequena foi uma delícia. Queria que ela pudesse ficar comigo, mas ela precisava cuidar do Gael. Eu precisa ter certeza que ele estava bem para ficar tranquila e me soltar. Como as contrações não ficavam mais próximas, Gabriel foi trabalhar e viria quando eu achasse necessário. Algumas horas depois eu já estava ficando incomodada. Tomei banho, sentei na bola, fiquei de cócoras, e nada. As contrações começaram ficar mais espaçadas, agora vinham a cada 8/10 minutos. Fiquei desesperada. O parto do Gael estava se repetindo. Quis ligar para o homeopata, quis fazer exame de toque para ver como estava, quis subir pelas paredes. Dessa vez, felizmente, eu só não quis desistir. Nem pudera, estava escrito em letras garrafais no meu plano de parto que a equipe estava autorizada a rir da minha cara e me ignorar caso eu pedisse para ir para o hospital sem a real necessidade Logo as meninas me acalmaram. Me lembravam a todo momento que eu não precisava de nada disso, que meu corpo estava funcionando e que a Batatinha viria no tempo dela. Me conformei em tomar um banho, mas não abri mão de fazer um exame de toque para saber como meu corpo estava funcionando. Enquanto a Camila fazia o exame, fechei os olhos e repeti mil vezes mentalmente “por favor, não fala dois (centímetros), por favor, não fala dois!”. Seis. Ela disse seis. Seis! Eu não poderia estar mais feliz! Se em 12 horas eu já estava com 6 centímetros, dessa vez seria mais rápido! Para quem não sabe do parto do Gael, depois de um dia inteiro de contrações assim meio bagunçadas, mas fortes e duradouras, eu estava com apenas 1 centímetro de dilatação. Ouvir que meu corpo estava funcionando e funcionando bem mais rápido do que da primeira vez me deu aquele empurrãozinho que faltava para eu me entregar por completo. Eu ia parir e ia ser logo. Decidimos sair para caminhar um pouco. Já na esquina tive minha primeira contração desconcertante. Me apoiei na Helena, Camila e Adriana pressionando meu quadril para aliviar a dor, e eu gritei um grito que veio do âmago. Grito de bicho ferido. Grito libertador. E foi o primeiro gostinho da partolândia, comecei a perder os sentidos. Um carro que passava na rua até parou para perguntar se estava tudo bem. Foi engraçado, morremos de rir. Eu estava com dor, mas todas estávamos em ritmo de festa. Rindo e conversando e brincando e tirando fotos engraçadas, continuamos a dar a volta no quarteirão. Mais uma contração. Para tudo, concentra, grita, perde os sentidos. Continua a caminhar. Na terceira contração veio a vontade de fazer força. Pedi para voltar para casa. Enquanto subíamos pelo elevador, uma selfie de trabalho de parto. Todas conversando, morrendo de rir. Uma hora e meia antes da Maria chegar. Eu sequer imaginava que seria tão rápido. Quando entrei em casa parece que tudo se transformou. Cheguei. Estava na partolândia definitivamente. Pedi para ligarem para o Gabriel vir para casa. Ela estava chegando. Ligaram também para a Leo, minha outra doula, para que viesse logo caso não quisesse perder a chegada da Batatinha. Sentei na beirada do sofá enquanto as meninas enchiam a banheira. Me apoiei como se fosse uma banqueta. Helena sentou atrás de mim para pressionar meu quadril. Era a única coisa que aliviava a dor. Quando a Helena sugeriu que forrássemos o sofá com os lençóis absorventes e que eu tirasse a calça eu me percebi. Ela estava chegando mesmo. Estava na hora. Na nossa hora. Não sei se demorou muito ou pouco tempo, mas logo o Gabriel estava ao meu lado, segurando na minha mão, fazendo massagem na minha lombar, olhando nos meus olhos, afirmando uma e outra vez que eu estava fazendo tudo certo, que estava tudo bem, que eu estava perfeita. Meu doulo. Muito mais doula do que eu jamais saberei ser. A força que ele me passava vinha do coração. Éramos um só parindo a nossa criança. Quando a banheira estava cheia eu entrei. A vontade de empurrar vinha forte. Eu sentia ela pressionando. Mas logo parecia que eu estava naquela banheira a horas. Fiquei desanimada. Eu sentia vontade de fazer força, eu estava meio perdida dos meus sentidos, mas não tanto quanto fiquei no parto do Gael. No parto dele eu não via quem estava perto de mim, não sabia que horas eram, não tinha a menor noção de nada. Estava completamente perdida na enxurrada de hormônios que passeavam pelo meu corpo. E eu pensava “preciso me perder, ainda não me perdi, será que vai demorar?”. Quando a Camila sugeriu que eu me tocasse para ver se a pequena estava longe. Me toquei e senti a bolsa. Ela estava a meio dedo de distância. Não comemorei. Achei que isso ainda fosse muito, que fosse demorar. Gabriel estava em pé do lado de fora da banheira quando eu agarrei as suas pernas numa contração. Agarrei e fiz a maior força que meu corpo poderia aguentar. Senti que tinha chegado a hora. Era hora de nascer. Era hora de renascer. Uma segunda contração e eu ainda agarrada no Gabriel. Fiz muita força, senti meu períneo se abrindo, senti a pequena laceração que tive. Eu estava plenamente consciente do meu corpo em cada centímetro dele. E a cabeça saiu. Coloquei a mão naquela cabecinha miúda e fiquei sentindo todos seus detalhes. Seu cabelo, seu rostinho. Pude até senti-la girando dentro de mim. Que sensação maravilhosa é poder acariciar seu bebê antes mesmo dele sair de dentro de você! Na próxima contração ela saiu. Gabriel não pode pegá-la porque eu não soltei ele na hora da contração. Quem a pegou foi a dona Parteira Camila, que logo a entregou ao pai. O primeiro e mais importante item no meu plano de parto é que ninguém poderia dizer o que era o bebê. Eu queria olhar e descobrir quem era que estava sendo gestado dentro de mim durante esse tempo todo. Como eu disse no começo do relato, meu palpite era que seria outro menino, mas eu sonhava que era uma menina. Passei a gestação toda afirmando que seria menino. Na verdade, eu sabia que quem estava dentro de mim era a Maria, mas morria de medo de construir essa expectativa e depois descobrir que não era ela. Não que eu não ficaria feliz se fosse outro menino, é claro que eu ficaria. Mas sempre sonhei em ter uma menina, uma amiga e companheira para a vida toda. E era ela. Eu estava de quatro, debruçada na borda da banheira, quando ela saiu de mim. Foram alguns segundos de suspense, mas acho que alguém se esqueceu do meu plano de parto e disse “é uma menina” enquanto eu me virava. A sorte é que eu ouvi essa afirmação no mesmo momento em que coloquei meus olhos na coisa mais linda que eu já vi na vida. Um cisco de gente, uma neguinha cabeluda que, apesar da cor do pai, era a minha cara. Minha cor, minha flor, minha cara. Então agarrei aquela pequena entre meus braços e meu coração transbordava de alegria, de orgulho, de gratidão. Maria não chegava tão ao peito, o cordão era menor ainda do que o cordão de seu irmão, que já era curto. Ela ficou dentro da água, eu a segurei pertinho de mim, rostos colados, e cantei a música que tinha cantarolado quase todos os dias no último mês. Daddy’s little girl. You’re sugar, you’re spice, you’re everything nice, and you’re daddy’s little girl. Bom, no caso, era mommy’s little girl! Parece que ficamos horas e horas namorando na banheira. Ainda pedi para ouvir Ave Maria para completar a imensa gratidão que eu sentia no meu coração. Depois do que pareceu para sempre, levantei da banheira e fomos para o quarto esperar a placenta sair para cortar o cordão da Maria. Com ajuda das lindas parteiras, doulas e do meu marido amado, fomos caminhando, eu e Maria, para o quarto. Gabriel foi estendendo tapetes para que eu passasse sem sujar a casa, já que a banheira estava montada na sala. Foi uma questão de organização, mas a verdade é que eu me senti uma rainha com os tapetes sendo estendidos à minha frente. Haha! A placenta demorou uns 30 minutos para nascer. Enquanto isso Maria ficou me cheirando, super atenta e alerta com os olhinhos abertos. E eu tentando memorizar cada pedacinho dela, seu cheiro, seu calor, sua cor. Depois de algumas cólicas, a placenta saiu. Foi lindo ver a pequena ligada ao milagre que a manteve viva e saudável dentro de mim. Como a natureza é perfeita. Obrigada, dona Placenta, por ter feito seu trabalho tão bem. Gabriel cortou o cordão da pequena, que já tinha parado de pulsar. E ela finalmente veio para o peito. E mamou, e mamou e mamou, como se houvesse mamado a vida toda. Uma profissional na pega, Maria se aproveitou do bico perfeito que seu irmão moldou nesses últimos dois anos e do colostro em abundância que já saía mesmo antes dela chegar, já que Gael não deixou de mamar um dia sequer da gestação. Quando ela finalmente largou o peito, foi hora de vestir e pesar a pequena. Meu palpite foi o vencedor. Eu chutei que ela tinha 2,800kg. Maria nasceu com 2,780kg de pura lindeza. Gabriel começou a ligar para a família para dar a notícia e pedir que minha mãe trouxesse o Gael. Eu estava ansiosa para vê-lo. Foi tudo emocionante, maravilhoso, perfeito. Um parto relativamente rápido, mais ou menos 15h, que nem precisou de contrações de três em três minutos para acontecer. Redenção. Meu corpo funciona, eu sei parir, e o melhor de tudo, dessa vez não precisei de três dias para que isso acontecesse! Além de toda a alegria do nascimento da Maria, o parto domiciliar é uma festa a parte. Logo depois de ter tomado banho, fui para a sala e pude sentir o cheiro maravilhoso do almoço que dona Doula Leo estava preparando. Tudo maravilhoso, todas em festa! Quando, de repente, a porta se abre e entra meu menino no colo da minha mãe. Eu estava amamentando a Maria e ele logo protestou por seu lugar. “Tetê, mamãe.” Pediu licença à irmã (“seceeeença”) e eu o aconcheguei no meu colo e o amamentei até que ele se sentisse seguro com a movimentação diferente na casa. Nesse momento tive muita vontade de chorar. O amor que eu sentia no meu peito havia dobrado. Deus me confiou dois anjos para cuidar e eu os amava mais do que qualquer pessoa pode amar alguém na vida. Eu estava completa. Créditos fotos: Lídia Muradás e Alessandra Santana
Bom, gostaria de descrever aqui como foi o nascimento de meus dois filhos: Matheus e Mariana. Ambos nasceram por parto vaginal, porém, o primeiro teve algumas intervenções (ocitocina, episiotomia e analgesia) e o segundo foi natural e humanizado! Ambas as gestações foram planejadas! Na minha primeira gestação, engravidei de um anjinho que nós, eu e meu marido Aldo, o chamamos de Matheus. Minha ultima menstruação foi no dia 12/11/11, com parto previsto para 15/08/12. Sempre desejei ter parto normal, mas nunca tive informações além dos cursos convencionais para gestantes. Portanto, caso fosse necessário, eu aceitaria fazer uma cesárea. No dia 02/08/12, eu estava com 37 semanas e 5 dias de gestação (pelo US, Matheus estava com 38 e 5 dias). Ao acordar, percebi que perdi o tampão mucoso que reveste o útero. Eu lia muito e sabia que aquele poderia ser o início do trabalho de parto. Fui ao médico naquela tarde, ele fez o toque, mas ainda não tinha sinais, nem de afinamento, nem de dilatação. Ele disse que ainda poderia levar 1 semana! Na madrugada, comecei a sentir algumas cólicas (como as menstruais), elas vinha a cada hora, mas não me alarmei, pois poderiam ser as chamadas contrações de treinamento e eu não tinha a percepção do útero contrair e endurecer. Pela manhã, essas cólicas continuaram, agora a cada 30 min (dores bem suportáveis que duravam menos de 30s). Resolvi que não iria dirigir naquele dia e fui me embelezar... rsrsr. Cheguei na manicure, a Mara, e contei o que estava sentindo... Durante os 60 min que fiquei com ela, senti 4 x essas dores. Ela me falou com todo jeitinho: "Milena, acho que você está em trabalho de parto, não é melhor ir ao médico?". Deste momento em diante, comecei a prestar mais atenção nas dores, e elas estavam aumentando um pouco a intensidade e a frequência. Eu pensava, não pode ser trabalho de parto, as pessoas falam que dói tanto!! Resolvi tomar um banho, fazer escova e esperar meu marido chegar do trabalho. Era um sexta-feira 18h, e as contrações vinham a cada 10 min. Falei pra ele: "Acho melhor irmos ao pronto atendimento, pois é sexta-feira, e talvez não conseguiremos encontrar meu obstreta, caso o Matheus resolva nascer no final de semana". O médico tinha me prevenido que alguns dias não estaria disponível, mas esse é um risco que todos corremos, pois o bebê é quem decide o horário de nascer!! Chegamos ao pronto atendimento e lá estava nosso grande amigo e pediatra Gustavo, e o chefe do plantão também chamado Gustavo. Quando eles me viram, super bem, com a barriga ainda alta, brincaram: "Imagina que você está em trabalho de parto, mas vamos examinar!!!" Assim, o chefe do plantão me fez o toque e falou: Menina, você esta com 4 cm de dilatação!!! Mas como eu sou Otorrino (rsrsrs), acho melhor você ir à maternidade que tem um ginecologista de plantão pra confirmar! Enquanto isso encontraremos o seu médico! Infelizmente meu médico não estava disponível naquele dia! Isso gerou uma ansiedade, mas ao mesmo tempo, eu pensava e dizia para o Matheus: "Agora somos eu e você, nós faremos esse parto!!" Eu e meu marido seguimos para a maternidade da Santa Casa, e lá encontramos com o Dr. Guilherme, uma graça de pessoa, que me examinou e disse: "Seu bebê nasce essa madrugada!!! Vá pra casa, traga a malinha, mas pode voltar só meia noite, pois ainda pode demorar um pouco". Nesse momento as contrações já eram mais intensas, mas ainda suportáveis. Eu e o Aldo ficamos muito ansiosos, e voltamos mais cedo, 21h com tudo pronto, família avisada, super felizes! Quando cheguei na Santa Casa, eles me colocaram no soro com ocitocina... no mesmo minuto as contrações aumentaram muito de intensidade... 23h elas vinham a cada 4 min, com 1min de duração. Eu não estava suportando tanta dor, ainda estava com 7cm de dilatação! Eu falava para meu marido: "O que eu fui inventar, quero cesárea!!!!". O medico entrava frequentemente no quarto, me examinava, examinava o bebê e, com muita calma, dizia que não faltava muito, que tudo estava correndo bem e iria pedir a analgesia pelidural, caso eu quisesse. Eu disse: "Quero e agora!!!!" Mas ele me explicou que precisava esperar mais um pouco! As enfermeiras me ajudaram muito, duas delas já tinham passado pela mesma situação! Ficavam no banheiro jogando água quente nas costas! Mas nada aliviava! Meu marido perdido, sem saber como ajudar! Foi assim até 1h (dia 04/08) quando me levaram para a sala de pré-parto (com 9 cm de dilatação) para aguardar a anestesista. Ela chegou, fomos para a sala de parto e ela me aplicou a analgesia. A dor diminuiu aproximadamente 30%.... mas isso era muito naquele momento!! Me deitaram na cama com as pernas apoiadas (como na cadeira de ginecologista)... mas eu não tinha vontade de fazer força...o médico explicou que iria me ajudar, pois a analgesia atrapalhava um pouco essa percepção. O pediatra e meu marido estavam ao meu lado, eu gritava nas contrações e eles me diziam: "Você precisa fazer força, não gritar!!" No momento da expulsão, o médico resolveu fazer a episiotomia. Quando o útero contraia ele me pedia pra fazer força com o períneo (músculo que trabalhei toda a gestação com a querida Profa de pilates Laís), a fase expulsiva se iniciou e foi muito rápida!!! Em 4 ou 5 respirações o Matheus nasceu!! Foi um momento delicioso, as dores desapareceram quase que completamente, o Dr. Guilherme enxugou o bebê e o colocou no meu colo, ele logo parou de chorar!!! Tentamos fazê-lo mamar, mas a posição não ajudava, então ficamos ali, apenas curtindo o momento, esperando a expulsão da placenta!! O médico então cortou o cordão, e levaram o bebê para examinar. Ele ficou um tempo na incubadora, tomou banho, enquanto eu também tomei banho, e depois o levaram para o quarto, não me lembro quanto tempo isso levou. Os pontos não doeram tanto, a recuperação foi bem rápida e tranquila, assim como a amamentação. Independente de todas as intervenções hospitalares, esse parto foi muito abençoado e eu o achava perfeito até ter meu segundo, humanizado! Quando o Matheus completou 1 ano, resolvemos tentar novamente engravidar, mesmo que a diferença de idade seria pequena!! No primeiro mês sem prevenção, engravidei pela segunda vez (última menstruação: 09/08/2013). Com 14 semanas de gestação, fiz o US e o médico falou que a Mariana estava pélvica, para eu não me preocupar que era normal, o bebês tinham bastante espaço para se mexer. Nesse dia, tenho certeza que ela (Mariana) me enviou uma mensagem para conhecer um dos anjos que Deus colocou na nossa vida, a queria Eleonora. Na verdade, eu pesquisei no "Google" a frase "doula ribeirão preto", pois uma amiga de trabalho (Fran) tinha me perguntado se eu sabia o que era, que uma amiga dela teve acompanhamento de doula no parto e foi ótimo! Nessa pesquisa, encontrei o site "Despertar do Parto" e lá o e-mail da Léo! Escrevi para ela dizendo que estava muito ansiosa pela Mariana estar pélvica e que gostaria de fazer ioga, se existia posições para ela virar, etc... Ela me pediu para fazer uma aula experimental que conversaríamos com mais calma, mas que eu não deveria me preocupar que, até 34 semanas, o bebe poderia virar! Meu Deus, eu estava muito ansiosa, não queria de jeito algum fazer cesárea, e meu médico tinha dito que não arriscaria parto pélvico normal!. Era época de Natal, bastante agitação, resolvi aguardar o próximo US (24 semanas: MARIANA PÉLVICA)!!! Nossa, eu realmente não fiquei bem, iniciei alguns exercícios por conta em casa, com as pernas para cima, conversava com ela... até ter uma entrevista com a Eleonora. Iniciei as aulas de ioga! Ela me explicou que eu deveria me entregar àquele momento, aceitar, terminar de decidir médico, maternidade, etc... Foi então que elas me indicaram um outro anjo, o Dr. José Vitor! Contei para ele meu caso, ele disse que era cedo para se preocupar com a posição do bebê, e me tranquilizou MUITO apenas com sua atenção e segurança! Com 29 semanas fiz outro US e ela ainda continuava pélvica, mas eu já não me importava mais, disse que ela escolheria sua forma de nascer, e eu aceitaria! Assim, no dia 07/04, a querida doula Léo apalpou a pequena e disse que achava que ela estava cefálica... Nesse mesmo dia fui à consulta e confirmamos com o US... Minha Marianinha tinha resolvido virar, estava cefálica!!! Foi um dia muito especial, parece que até nos entendemos, porque confesso, eu estava ficando brava com ela!! A partir desse dia foram só preparativos!!! Quando estava com 38 semanas e 6 dias, percebi que perdi o tampão, mas foi bem pouco e bem clarinho... mas já ficamos na espectativa, afinal, o nascimento do Matheus foi no dia seguinte à perda do tampão. Avisei a Léo e o Dr. José Vitor, mas disse que não tinha nada de contrações... passei o dia muito bem (quinta-feira) e o final de semana também. Na domingo à noite, comecei a sentir umas contrações bem fraquinhas, mas não eram tão ritmadas. Durante o dia da segunda, elas parecem que pararam... Mas na segunda a noite voltaram e pareciam mais ritmadas, a cada 20 min. Na madrugada de terça-feira fomos consultar, pois elas vinham a cada 10 min, mas o Dr. falou que ainda era cedo, apenas 2cm de dilatação. Fomos pra casa, tentei descansar, acordei 5h com as dores. Todos já estavam avisados, a Léo viria pra minha casa pela manhã, era HOJE (13/05/14)!!! As contrações ainda estavam bem suportáveis! Tomei café, o Aldo levou o Matheus à escola, e a Léo chegou por volta das 7:30. Começamos a contar as contrações, vinham a cada 10 min, algumas mais fracas, outras mais fortes. Ela me disse para caminharmos um pouco. Fomos passear no condomínio do prédio, ficamos andando na quadra, conversando, tranquilamente. Quando as contrações vinham, eu me apoiava nela, pensava que era o onda, começava fraquinha, pegava força, e terminava em nada... como ela tinha me orientado. E tentava sempre prestar atenção na respiração! Quando começaram a ficar um pouco mais intensas, resolvemos subir e ir para o chuveiro. Nesse momento, ao usar o banheiro, eu senti um pouco de água escorrer, era a bolsa (era 9:10 da manhã)! A Leo avisou o Dr. e continuamos no chuveiro, eu sentada na bola. Não passaram nem 3 min, e começou outra contração!! Nesse momento, elas vinham bem intensas e mais frequentes, não conseguia me mexer direito. Tomei banho rápido, me troquei, o Aldo tinha acabado de chegar e corremos para a Santa Casa! Elas vinham a cada 1 ou 2 min, e eu já estava com vontade de fazer força, foi muito rápido! Chegamos lá 9:30. Enquanto o Aldo completava os dados de internação, fui correndo para o quarto, com muita dor nas contrações, tentava me concentrar na respiração, a Léo me ajudava e eu só perguntava pelos médicos, pois o obstreta estava vindo de Ribeirão!! Nossa, naquele momento eu já não estava mais conseguindo pensar... o Aldo entra e pergunta: "Qual é nosso endereço mesmo??" (rsrsrsrrs). Eu olho pra cara dele e nem lembro onde moro!!! Mas consigo refletir e responder. Fiquei sentada na bola, apoiada na cama... quando os médicos chegam (pediatra e obstreta), respiro mais aliviada, ele então faz o toque e pergunta: "Você quer sentir o bebê??"... Que emoção, mas respondo que não consigo. As enfermeiras vêm, pedem pra eu trocar a camisola, eu peço para ficar de quatro apoios na cama, pois estava com MUITA vontade de fazer força, mas não encontrava posição sentada, minhas pernas tremiam! Assim, começou a fase expulsiva do parto, muito intensa, mas muito rápida. Posso dizer que, neste momento, as contrações ficam mais espaçadas, temos um pouco mais de tempo para respirar!! A Mari nasce em poucos minutos, ou nem isso, não sei ao certo. As enfermeiras ficaram admiradas por presenciar o primeiro parto natural, no quarto, sem intervenções, naquele hospital! A Léo colocou música de fundo, a luz estava apagada, foi realmente muito emocionante. Quando ela nasce, o pai não se contém e chora, e eu a pego em meus braços e só consigo admirar e agradecer!! Que sorte a minha encontrar profissionais como estes que nos acompanharam!! Ficamos curtindo, até ela abocanhar meu peito e mamar... O pediatra disse: "Bom, volto depois para examiná-la!! Curtam esse momento!" E apenas curtimos... Bom, esse foi o meu relato! Se vocês me perguntarem qual a maior diferença entre os dois partos, respondo com toda a convicção que sem o soro a dor é menor, as etapas acontecem naturalmente, desde que estejamos preparadas para passar por isso, e todas temos essa capacidade. Nosso corpo foi preparado para isso! Qual o meu desejo para todas as gravidinhas que lerem esse relato?? Simplesmente que tenham a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o parto humanizado, e procurar os profissionais que o apoiam! Grande beijo e "boa hora" para todas! Milena Martelli Tosi |
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26/11/2014
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