"Troquei de médico com 39 semanas de gestação para que minha filha nascesse de parto normal"
"Após longos anos de tentativas e prestes a ser encaminhada para um especialista em reprodução, finalmente engravidei. Descobri em uma 5ª feira, dia 08/12/05 e no sábado, dois dias depois, tive um sangramento. Desmaiei por achar que estava abortando e quase mato meu marido de susto. Fomos ao hospital, fiz ultra-som e o médico disse “Está tudo bem! Esta luzinha piscando é o embrião! Lembro que “conversei” secretamente :”Agüenta aí minha luzinha, vamos vencer isto tudo juntas”. Minha médica obstetra estava de licença por problemas de saúde e seu substituto, no auge da insensibilidade me disse que não deveria ficar neurótica, se abortasse seria porque havia algum problema com o embrião e que depois viria outro! Nem é preciso dizer que nunca mais voltei lá. Quando minha médica retornou, deu orientações de cuidados até completar 12 semanas. Passado este período, quando todos achavam que já estava tudo bem, trabalhei um pouco a mais e veio o 2º sangramento, desta vez mais intenso! Achei que estava abortando, mas descobri que estava tudo bem, o problema era que tinha placenta prévia (ela fica mais baixa do que o normal). Passado o susto, a alegria: estava esperando uma menina! Minha médica prescreveu repouso absoluto. Fiquei quase um mês só levantando da cama para ir ao banheiro e mais algumas semanas de molho em casa. Li muito, inclusive sobre gestação e parto. Foram dias de grande ansiedade e tenho que reconhecer que fui muito bem atendida por minha ginecologista, sempre muito cuidadosa e solícita. A placenta foi para o lugar e eu fui liberada para fazer atividade física. Pensei em Yoga, mas nunca havia feito e não conhecia nenhum profissional. Foi então que li no jornal uma reportagem sobre “doulas”, palavra que nunca tinha ouvido antes, entrei no site e vi que ofereciam grupos gratuitos para gestantes e Yoga. Quase no mesmo dia minha irmã comentou que uma amiga estava fazendo o tal do acompanhamento. Confesso que achei tudo muito estranho, pois todas as minhas amigas tinham feito cesarianas, minha irmã, também paciente de minha ginecologista teve duas filhas desta forma e o assunto parto normal não fazia parte a história de minha família, pois somos em quatro mulheres, todas nascidas de cesariana. Resolvi ir ao tal grupo e costumo brincar que queria ver se não “fumavam o cachimbo da paz”. Ouvi história de um parto domiciliar e pensei” que coragem!”, vi vídeos sobre partos e percebi que muitas cesarianas aconteciam por despreparo dos médicos. No mesmo dia conversei com a Eleonora e marquei minha primeira aula de Yoga. Lembro-me que falei sobre meu desejo de ter minha filha em parto na água, mas sabia que era impossível em Ribeirão Preto e que até pensava em parto normal, mas parecia muito difícil. Adorei fazer Yoga e recomendo para todas as gestantes. Além dos exercícios e do relaxamento, recebia orientações sobre gestação, parto, amamentação e tudo o mais. Li muito a respeito e a idéia de parto normal começou a ficar mais forte. No entanto, ao conversar com minha médica a respeito, era sempre desestimulada e ouvia que seria preciso tudo estar bem, que não era bem assim. Ficava frustrada com isto, mas não tinha coragem de questiona-la e muito menos de trocar de médico, devido a todo apoio que havia recebido no início da gestação e por não conhecer outro profissional. Resolvemos, eu e meu marido, que gostaríamos de contar com a Eleonora como doula e que tentaríamos parto normal. Consegui que minha médica aceitasse isto, mas ouvi dela que da episiotomia ela não abriria mão e que eu tinha que deixar de ser tão “natureba”. Cheguei até a acreditar que ela faria um parto normal quando em uma consulta ela disse que eu estava evoluindo para isto, pois meu colo de útero já estava afinando e a nenê já estava na posição. No entanto, quando completei 36 semanas comecei a ouvir que a Mariana já deveria ter encaixado, o que não era um bom sinal. Esta tortura psicológica acontecia toda semana, acompanhada de vários argumentos e de histórias contrárias ao parto normal. Saía das consultas frustrada e querendo acreditar que tudo daria certo. Nestes momentos, o apoio da Eleonora e todas as informações que eu possuía foram fundamentais para que eu não desistisse. Ao completar 39 semanas, durante o exame de toque, escuto: “Tânia, vamos marcar a cesárea. A Mariana está alta, olha aqui, eu não consigo tocar sua cabeça. Ela não vai encaixar”. Pedi que “tirasse a mão” para que pudéssemos conversar e o que seguiu foi, segundo o meu marido, um duelo de titãs. A médica tentando me convencer, dizendo que minha pressão arterial tinha subido de 11 por 8 para 12 por 8, fazendo o teste da buzina e dizendo que a Mariana tinha demorado mais para responder e que não havia sentido em esperar. Eu entre lágrimas dizendo que sabia que ela podia encaixar e implorando que esperasse até 40 semanas. Após usar os mesmos argumentos com o meu marido e perceber que não mudaríamos de opinião, falou que iria viajar no dia seguinte, uma 3ª feira e que queria ir tranqüila, já tendo feito o meu parto. Ficaria uma semana fora. Indicou-me uma médica, “caso houvesse alguma emergência” e para que eu marcasse consulta para 6ª feira. Saí do consultório indignada, frustrada e com muita raiva. Ainda bem que tinha a Eleonora ao meu lado, restaurando minha confiança e oferecendo-me informação e apoio. Bem, para encurtar a história resolvi trocar de médico, até porque nesta altura dos acontecimentos, consegui enxergar que já não me imaginava em um parto normal com ela. Meu marido me olhou como se eu estivesse louca, mas concordou em ouvirmos uma segunda opinião. Fui rejeitada, em nome da “ética médica”, por um médico que diziam fazer parto normal. Estava muito aflita e sem rumo. Indicaram-me outra médica e pedi a Deus que se fosse este o caminho correto, que eu sentisse que poderia confiar e que ela aceitasse meu “caso”. Na 4ª feira consegui a consulta e ouvi da médica: “Está tudo bem com ela e com você. Ela não está tão alta assim e você já está com 3 cm de dilatação, dá para esperar sim.” Entre lágrimas só consegui perguntar se ela me aceitava. A alegria foi tanta que concordei que a médica não abriria mão da episiotomia, mas consegui negociar a presença de Eleonora, o hospital e meu desejo de não receber anestesia. Decidimos esconder nossa aventura dos avós da criança, mas não ficamos livres da pressão. Os dias foram passando e como a data provável do parto tinha sido quando eu completasse 38 semanas, todos ligavam para saber por que ainda não havia nascido. A médica chegou a prever o parto para o final de semana, mas não aconteceu. Eu fazia caminhada, arrumei acupuntura com uma ginecologista que nem conhecia, tomava chá de canela, homeopatia etc. Meu marido ao meu lado, ansioso, mas me apoiando em tudo e a Eleonora torcendo, dando conselhos, orientações, apoio, tudo. Cheguei a ter contrações durante a aula de Yoga, mas o trabalho de parto não evoluiu. Apesar de toda a ansiedade, sentia-me muito mulher, em contato com meu corpo e com minha filha. Completei 40 semanas dia 30/07, 2ª feira. Entrei em trabalho de parto a noite, chamei a Eleonora, achava lindo meu corpo dar sinais de que o parto se aproximava. As contrações aumentaram e quase não doíam. Recebi massagem, fiz exercícios, meu marido estava muito ansioso, fui para a banheira, mas... o trabalho de parto “não pegou”. Quanta frustração!!! Não entendia, ouvia a voz da minha antiga médica a me assombrar “não vai nascer de parto normal” e achava que deveria ter algum problema, parecia que tinha “nadano, nadado e ia morrer na praia”! Santa Eleonora!!! Conversou muito, disse que isto acontecia, fez até escalda-pés, me ajudou a assumir que tinha medo de ir para o hospital, o que pode ter barrado todo o processo e a seguir em frente. Resolvi espairecer, comprei-me flores, fui com meu marido ao cinema. Tive que acalmar minha irmã, que tinha ouvido histórias horríveis de partos “que passaram da hora” e parei de atender ao telefone, pois não agüentava mais tanta pressão. Falava para a Mariana que poderia nascer, etc e tal. Tinha contrações indolores e esparsas. Na consulta de 5ª feira, dia 03/08/06 a médica fez um toque para descolar “sei lá o que” e ajudar no parto. Já era a 2ª vez que fazia isto, mas deu certo. Saí de lá e algum tempo depois as contrações começaram a aumentar. Resolvi ligar para a Eleonora, com medo de ser mais um alarme falso, mas ela veio rapidamente. Desta vez eu e meu marido estávamos mais tranqüilos e em maior sintonia. Percebia quando a contração está chegando. Doía um pouco, mas era maravilhoso! De verdade! Uma experiência única sentir meu corpo funcionando, a Mariana anunciando sua chegada. Recebi todo o apoio do meu marido e da minha doula querida e sei que isto ajudou a viver estes momentos de uma forma tão bonita. Andamos, fiz exercícios na bola, recebi massagem e tudo o que tinha direito! Sentia a dor chegando, a barriga endurecer e depois passar. Tínhamos combinado que eu avisaria quando desejasse ir para o hospital. Mas... acho que por mim tinha ficado do jeitinho que estava, porque em um determinado momento a Eleonora me olhou e disse “Querida, temos que ligar para a sua médica ou a Mariana vai nascer aqui!” Fomos para o hospital, tive contrações no carro, mas nem acreditava no que estava acontecendo! Chegando lá, o básico: ficha, cadeira de rodas para entrar... e até algo cômico: enfermeira perguntando se eu havia marcado o horário para o parto (era de madrugada!!!) e escutando a Eleonora responder “Não, ela está em trabalho de parto e parto normal não tem horário marcado”! A partir daí uma seqüência de ações aconteceram: a enfermeira perguntou a data do meu nascimento no meio da contração, minha médica rompeu a bolsa com a mão e ordenou que eu fosse para o soro porque tinha Mecônio no líquido amniótico e ainda discutiu com a enfermeira porque não tinha material adequado para a anestesia local para a tal da episiotomia. As contrações aumentaram muito, a médica fez não sei quantos exames de toque que exigiam que eu deitasse, o que era a última coisa que eu queria fazer. No meio disto tudo a Eleonora conseguiu que eu fosse para o chuveiro. Eu dizia: “tá doendo muito, tá doendo muito!!!” Até hoje lembro do seu olhar, do tom da sua voz, dizendo: “eu sei querida, eu sei. Onda vai, onda vem... sabe, ela até cantou a minha música preferida de quando fazíamos Yoga! Lembro de ter pensado... quanta ternura! Tenho certeza de que seu apoio foi fundamental para que eu não desistisse de tudo, pedisse anestesia, cesariana ou qualquer outra coisa! Mais um toque e a médica mandou ir para a sala e parto, fui andando, no meio de contrações. Toca a deitar na cama, maca, sei lá o que era aquilo! Colocaram minhas pernas em posição ginecológica. Alías, uma delas ficou caindo durante o parto... acho que o equipamento não era muito usado por lá. A Eleonora pediu para erguerem minhas costas, colocaram alguma coisa que não deu certo e depois arrumaram uns travesseiros. Marido de um lado, Eleonora de outro. Médica, enfermeira, pediatra e sei lá mais quem. Um ar condicionado forte em cima de mim, mas não consegui reclamar. Escutei de minha médica ”Quando a contração vier você vai fazer força! Agora, vamos, força!” Nem sei quantas vezes ouvi isto! Só lembro que nem sabia mais quando era contração, tinha dor, fazia força, gritava, fazia força e nada. Escutava a enfermeira dizendo;” força de cocô , Tânia, força de cocô e tive vontade de gritar... “eu não estou cagan... eu estou parindo... mas não deu! Escutei a pediatra falando da Regina Duarte e da novela das oito e tive vontade de mandar todo mundo calar a boca e me respeitar, mas não deu! Escutei-os falando para a Eleonora “Cuidado, você vai contaminar o campo” e pensei “que povo idiota!“ Lembro que comecei a bater os dentes de frio e a Eleonora pediu para desligarem o ar condicionado. Lembro que estava cansada e ela me deu água. Santa doula!!! E assim foi: - Força, Tânia, força, você tem que ajudar! - Eu juro por Deus que eu tô tentando, eu juro que tô tentando!!! Não sei ao certo quanto tempo isto durou. A Eleonora diz que foram quase duas horas de período expulsivo. Lembro apenas de ter escutado a médica pedir para a pediatra empurrar minha barriga e nesta hora tive medo de usarem fórceps. Então, como a voz de um anjo, ou melhor, a voz de uma MULHER, escutei da Eleonora: “Tânia, esquece tudo, se concentra que você consegue”. Reuni forças que nem sabia que tinha e comecei a ouvir “Isto, Tânia, força, isto, isto, está nascendo, está vindo, não pára!” E Mariana nasceu!!! Até hoje, um ano e quase três meses depois me emociono ao lembrar! Um milagre, milagre de nosso amor! Impossível descrever esta emoção, parecia que eu estava em outro planeta, queria congelar aquele momento para sempre! Não conseguia chorar, estava exausta, mas em puro êxtase, não conseguia acreditar, parecia uma sonho, algo pelo qual tanto havíamos lutado e que finalente se realizava! Minha querida doula conseguiu que apagassem as luzes e a trouxessem logo para o meu colo e foi um dos momentos mais lindos que já vivi! Lágrimas escorrem dos meus olhos agora só de lembrar. Meu marido estava chorando e foi lindo olhar para o rosto dele. Aliás, descobri depois que ele havia chorado durante todo o parto e também recebeu uma “mãozinha” da Eleonora. Minha filha nasceu de parto normal, dia 04/08/06, às 5:25 hs, quando ela e não uma médica cesarista qualquer decidiu que deveria acontecer. Nasceu linda, saudável e ouvi da pediatra: “Apgar 10! Fazia tempo que eu não dava 10 para uma criança ao nascer! Respirei aliviada, pois era a confirmação de que havíamos feito a escolha certa. Para quem não sabe este é teste que fazem para saber como está o bebê ao nascer e 10 é a nota máxima. Já no quarto meu marido disse: “se tivermos outro vai nascer em casa!” Por muito tempo fiquei com este sentimento e talvez por isto tenha demorado tanto a escrever esta história. Mas hoje sei que foi o melhor que conseguimos fazer e foi uma imensa vitória ter conseguido. É verdade que muitas das intervenções que eu sofri não foram como eu havia idealizado, mas sei que eram as possíveis naquele momento. Não me arrependi por um único momento de ter tomado este caminho e faria de novo, quantas vezes fosse preciso. Ter trocado de médica foi um ato de coragem do qual eu me orgulho e que recomendo para todas as gestantes que acreditam na sua capacidade de terem seus filhos de parto normal. Nunca é tarde para escutarmos nosso coração e nossa alma e na verdade possuímos mais coragem do que imaginamos. Toda esta história serviu pra que eu descobrisse em mim um lado mais feminino e intuitivo que eu nem sabia possuir. Lidar com o inesperado, aceitar perder o controle, ouvir meu próprio corpo, lidar com a dor de uma forma diferente, descobrir minha força e coragem são conquistas que desejo que toda mulher possa experimentar. Tenho muito a agradecer: a Deus, por ter me ajudado em tudo o que vivi, e por ter me dado uma filha tão linda, o apoio do meu marido e a benção de ter conhecido a Eleonora. Digo com toda certeza que jamais teria conseguido sem ela. Não há dinheiro no mundo que pague todo o apoio, carinho, força, enfim tudo o que fez por nós. Penso que o trabalho das doulas deveria ser tão divulgado como o pré-natal e que deveria ser parte integrante de qualquer serviço oferecido à gestante. Até depois do parto, sua presença foi muito importante nas ansiedades iniciais de mãe de 1ª viagem Enfim, gostaria que toda mulher pudesse ter a coragem de deixar de lado a lei do mais fácil e do mais rápido que imperam em nossa sociedade e aceitasse mergulhar nesta linda e inesquecível aventura do parto normal. Também sonho com partos mais humanos, com mulheres sendo plenamente respeitadas e nos quais nossos bebês possam nascer com tranqüilidade. Ainda há de chegar o dia..." Tânia Pedreschi Pedagoga e psicóloga [email protected] |
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7/8/2006
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