Ao longo de uma gestação planejada e muito aguardada, meu marido e eu fomos nos informando sobre o que queríamos e o que seria melhor para o nosso bebê. Logo no início da gestação, com apenas 14 semanas, fizemos o curso do Parto Consciente no Despertar do Parto, o que nos abriu os olhos para a realidade obstétrica no Brasil e para as consequências que cesarianas desnecessárias acarretam para os bebês de hoje. Saímos de lá com uma decisão tomada, faríamos o possível para ter um parto normal, e ele certamente seria humanizado. Com o passar do tempo, e com a busca por mais informações, começamos a nos interessar pelo parto domiciliar, principalmente após conhecer tantos relatos de experiências felizes, e termos todo o apoio da nossa doula Eleonora. Mas ainda parecia algo um tanto radical, e evitávamos um pouco a ideia. Chegando ao terceiro trimestre, já tínhamos nos informado o suficiente, através de relatos e estudos, e estava decidido: o Gael nasceria em casa. Por volta dessa época, conheci a linda Marcela no Despertar no Parto, que mais tarde viria a ser também a nossa doula, e tudo pareceu se encaixar, pois ela também tinha parido seu Gael em casa (sim, o filho dela também se chamava Gael!), e acho que nunca vi um sinal mais claro que esse de que estava no caminho certo. Nesse momento, o Fabiano e eu tivemos uma última conversa e concordamos que era aquilo que queríamos, e que um sempre teria o apoio do outro, pois sabíamos que qualquer ocorrência no hospital seria vista como uma fatalidade, mas em casa, seria irresponsabilidade nossa. Foi aí que marcamos nosso primeiro encontro com as parteiras Camila e Adriana, do Arte de Nascer, de Campinas. Tiramos todas as dúvidas que tínhamos e concordamos que esse seria mesmo o caminho. Agora nos restava aguardar. Evitamos falar sobre o assunto com outras pessoas até onde conseguimos, pois sabíamos que era uma escolha que pareceria radical para muitos, e que nem todos entenderiam, e achamos melhor nos preservar. Chegando ao final da gestação, a ansiedade só aumentava, mas eu havia me empoderado ao longo de 9 meses para isso e, apesar da ansiedade, estava muito confiante. A ansiedade, na verdade, era causada principalmente pelo fato do Fabiano trabalhar em Goiânia, e eu tinha muito medo de entrar em trabalho de parto sem tê-lo por perto, tendo que aguardar sua chegada. Foi aí que começamos a conversar com o Gael e pedir para que ele colaborasse e viesse em um final de semana, para que o Fabiano pudesse curtir cada momento de sua chegada ao meu lado, e não é que ele ouviu? Na sexta-feira do dia 28 de março, o Fabiano havia acabado de chegar de Goiânia e estávamos jantando quando senti as primeiras contrações. Estava com 39 semanas e 2 dias, e não me empolguei muito, pois no final de semana anterior já tinha tido um alarme falso com contrações parecidas, ritmadas mas indolores. Quando fomos dormir, à meia-noite, senti um leve estouro no pé da barriga e perdi um pouco de líquido, mas tive dúvidas de que era a bolsa pela pequena quantidade de líquido, e voltei a dormir. Mas então, 1:50 da manhã, acordei com uma contração forte, e bem diferente das que vinha sentindo até então. Elas estavam com intervalos irregulares, mas já não conseguia dormir com a dor e fui tentar me distrair. Deixei o Fabiano na cama dormindo e fui lavar a louça da noite anterior que havia ficado na pia, e então coloquei as roupas separadas para lavar no sábado na máquina. Precisava me distrair para ter certeza de que minha ansiedade não estava causando outro alarme falso. Mas as dores foram aumentando e continuei perdendo mais líquido. Por volta das 3:30 da manhã acordei o Fabiano e mandei uma mensagem para a Marcela, que acionou o restante da equipe assim que ouviu o que estava acontecendo. Pelo visto o Gael estava pronto! Fabiano me fez companhia pelo resto da madrugada, e as contrações aumentavam de intensidade a todo momento. Por volta das 7:30hs da manhã, nossa doula Helena, que substituiria a Eleonora que estava em viagem, chegou em casa. Ela me ajudou a me distrair enquanto o restante da equipe foi chegando. Logo, Marcela também estava conosco, nossa fotógrafa Alessandra, a obstetriz Thaiane, e por fim, por volta das 8:30h, Camila e Adriana chegaram de Campinas. Nessa hora as contrações já estavam bem fortes, mas conseguia conversar durante uma e outra, e caminhar pela casa, sempre com o apoio de alguém (Helena, Marcela e Fabiano se revezavam) para me segurar quando as contrações vinham. Decidi me deitar um pouco, pois minhas contrações estavam irradiando para as pernas, e estava difícil caminhar. Camila, então, me perguntou se eu gostaria de fazer um exame de toque para saber o progresso, e como estava muito curiosa e já bastante incomodada com a dor pedi que fizesse. Era cerca de 10h da manhã, e a notícia foi animadora, estava com quase 6 centímetros de dilatação! Descansei mais um pouco na cama com o Fabiano, enquanto uma das meninas sempre me trazia algo para comer ou beber, e a silenciosa Alessandra fazia seus cliques sem que eu nem percebesse. Perto do meio-dia, a dor nas pernas já estava muito forte, e como a banheira já estava montada e cheia no quarto do Gael, pensei em tentar aliviar a dor nela. Senti uma troca de olhares entre parteiras e doulas, mas à essa altura estava entrando na partolândia e não entendi o que estava acontecendo, hoje sei que elas acharam que ainda estava cedo para ir para a banheira. Na verdade não estava. Não lembro ao certo, mas entre a segunda e a terceira contração que veio na água, senti uma vontade incontrolável de fazer força. Não entendia bem por que, mas tinha que fazer. A intensidade das contrações havia dobrado de repente. Por mais de uma hora, me agarrei às mãos do Fabiano, e tentei relaxar entre as contrações dolorosas que sentia na banheira. Trocava de posição, experimentando ficar sentada, de quatro apoios, ajoelhada, mas as dores e a vontade de empurrar não cediam. Lembro-me de perguntar à Helena se devia fazer aquela força toda, e dela me dizendo que apenas se fosse incontrolável, e era... Perto das 13hs, já não conseguia encontrar uma posição confortável na banheira, e sentia que teria uma câimbra a qualquer momento. E não precisava de uma nova dor. Nesse momento pensei em ir para a ducha, e me sentar na banqueta, pois pelo menos poderia relaxar as pernas. E lá fomos nós para o banheiro. Na banqueta a dor nas pernas realmente melhorou, mas a vontade de empurrar ficava ainda mais forte, e todo mundo percebeu que o Gael provavelmente nasceria ali. Não sei como, mas meu banheiro conseguiu abrigar todos nós, OITO pessoas, sem falar de todos os equipamentos que as parteiras começaram a levar para lá. Alguns minutos depois, o Fabiano e eu conseguimos ver a cabecinha do Gael que começava a aparecer através de um espelho que a Camila segurava para nós, sentada no chão. Era todo o incentivo que eu precisava. O Fabiano atrás de mim, me apoiando, Helena me estendendo um lenço para puxar nas contrações, e meu bebê chegando ao mundo. Poucas contrações depois, Gael chega aos nossos braços, com 3.080kg e 50cm. Foi como se toda a dor não tivesse existido, como se eu tivesse nascido novamente, junto com ele. Camila o amparou e em alguns instantes ele estava no meu colo. Fabiano cortou o cordão umbilical assim que ele parou de pulsar e que o Gael já pudesse respirar por si só (o que ele teve um pouco de preguiça de fazer, tendo que receber um pouco de oxigênio e ser aspirado). Mas como pelo visto o pequeno vai ser dramático como a mãe... já tinha que chegar causando! Na saída do banheiro, voltando para o quarto, ouvi alguém falar em almoço, e brinquei que o almoço havia virado jantar. Foi aí que me disseram que não era nem 14hs ainda! O Gael nasceu às 13:40hs, mas a minha impressão é que já havia passado o dia todo, e que era fim de tarde. Entre minha primeira contração e o nascimento do Gael passaram-se apenas 12 horas, acho que fui abençoada! De volta à cama, tivemos que esperar pelo nascimento da placenta, e para ajudar Camila me administrou uma injeção de ocitocina. Alguns minutos depois nasce a placenta e o ciclo se completa. A placenta foi impressa em desenhos lindos, e no dia seguinte plantada em nosso jardim junto com uma árvore da prosperidade. Tínhamos combinado que avisaríamos os amigos e familiares do nascimento somente após o ciclo todo ter se completado e assim foi. O Fabiano saiu ligando para todos avisando do nascimento do Gael e logo minha irmã e minha mãe chegaram, aos prantos, e com um nhoque delicioso, apesar das meninas maravilhosas já terem cuidado de tudo e preparado um almoço também. Até a fotógrafa foi parar na cozinha! rsrsrs Gael então mamou pela primeira vez, e Helena me deu o nhoque da mamãe na boca enquanto eu descansava. O papai babão fez o Gael dormir pela primeira vez, e enquanto ele dormia tive que levar alguns pontos para fechar as lacerações que tive durante o parto. Ao fim do dia, tudo parecia uma festa. Ainda não acreditava que tudo tinha dado certo... que tínhamos conseguido. Nossa primeira noite foi tranquila, como a maioria delas tem sido até hoje, e no dia seguinte, já me sentia recuperada. Não imaginava que seria tão rápido! Os pontos incomodavam um pouco (o que não durou muito tempo), mas estava totalmente revigorada. E aí sim Gael foi recepcionado por toda a família, que veio vê-lo no domingo à tarde. E essa foi a nossa experiência com o parto domiciliar e o nascimento do Gael... Um parto sem intervenções desnecessárias, seguro, em um ambiente aconchegante e familiar para que o Gael fosse recepcionado da forma mais natural possível, e que logo virou uma festa! Luana Cristina Guedes de Oliveira Tradutora [email protected] |
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8/5/2014
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