Teresa completou 42 semanas. E só hoje, afastada do trabalho por conta de uma conjuntivite (coisas de baixa resistência de mãe) consegui sentar para escrever meu relato. Como sugeriu Helena, minha doula - preferi escrever o relato da minha jornada de despertar, já que hoje em dia não se consegue parir sem um preparo prévio, infelizmente. Salvo raríssimas exceções. Como as mulheres que vivem em comunidades onde ainda se acredita na capacidade da mulher, e as mulheres assistidas pelo projeto da Dra. Melania Amorim e sua equipe, no ISEA, aqui. Assisti a este vídeo (e suas continuações) chorando madrugadas afora e com a certeza de que, se naquelas condições adversas este projeto pôde ser realizado, eu poderia fazer alguma coisa. Eu sou fruto de um parto normal onde, em 1978, o Dr. Décio, em São Paulo, realizou uma versão externa, já que eu estava pélvica... Por que eu, em 2011 não poderia batalhar pelo meu parto? Eu estava grávida! De novo... Depois de quase 9 anos de casados. Sim, após alguns dias de estranheza, batimentos cardíacos "estourando" na academia... lá estava eu sentada no banheiro com a fitinha e dois risquinhos... Fiquei vermelha. Senti o calor subir. Só eu sabia. Eu e a Teresa. Tomei um banho, chamei o Junior e mostrei o teste. Comemoramos, vibramos. Um segundo após veio o "não, não, ainda não..." - era o medo de contar a todos e passar pela tristeza do aborto mais uma vez. Daí para a frente, foram 3 meses chocando. Curtindo. Como não contamos para ninguém, tinha horas que de vez em quando eu tinha que me lembrar que havia um coraçãozinho batendo em meu ventre... Quando a gestação completou 12 semanas, nos sentimos mais à vontade para contar aos amigos e família. Meu GO disse para curtir mesmo. E foi o que fizemos. Tiramos férias vencidas, fomos para a Argentina, andamos horrores! Passeamos de barco pelo Delta, sentia uma energia incrível! Quando voltei, procurei o Despertar do Parto para a prática da yoga para gestantes, através de indicação de algumas amigas. Mal eu sabia que era o início de uma viagem sem volta. A viagem mais linda de todas. De cara, já conversei com a Helena, que fez uma entrevista onde foram abordados vários aspectos (saúde, família, social) - e me dei conta que eu não sabia o que era um parto normal mesmo, o que eram as intervenções (no parto e no recém-nascido). Na verdade, eu ACHAVA que um parto normal hospitalar era o que é, para mim, hoje, um parto natural. Mas de uma coisa eu sabia: que seria diferente da realidade que eu via à minha volta, cheia de cesáreas eletivas (impossível não ficar horrorizada!). Comentei ainda sobre o meu "futuro parto", sacramentado por um ortopedista quando eu tinha doze anos, dizendo que eu não poderia ter bebê via parto normal porque eu tinha estreitamento de bacia (...) - isso foi derrubado por todo o resto depois. Pelo site do Despertar, também cheguei à lista partonosso do yahoo. Quantos relatos, muito aprendizado... A leitura de relatos é viciante! E os vídeos, então? Chorava ao assisti-los. Aí foi uma correria, uma sede por conhecer: peguei emprestado do Despertar o livro Parto Normal Ou Cesárea? – o que Toda Mulher Deve Saber (E Todo Homem Também) - esta leitura foi divisora de águas. Uma a uma, as intervenções realizadas no parto normal hospitalar foram se descortinando. Meu GO, perguntado por mim sobre o protocolo para parto normal, foi falando uma intervenção após a outra. Voltei para casa triste. Sentei com o Junior. É, vou ter que mudar de médico. Ou vai ser parto domiciliar. O Junior até se animou bastante com a ideia do parto domiciliar, enquanto eu ficava reticente por conta de morarmos num condomínio onde as casas são muito próximas (eu não me sentiria à vontade) - por fim, ele confessou que tinha medo no caso de uma intercorrência. Começou outra busca. A internet ajudou, e muito! Numa noite joguei o nome da parteira que atende em Ribeirão (Jamile) no google e caí num blog onde ela participava, o Parir é Natural. Não conseguia parar de ler! E descobri que a Dra. Carla, que escrevia os relatos, atendia pela Unimed. E meu plano é nacional! Mandei um e-mail na hora. Ela respondeu prontamente, marcamos uma consulta para nos conhecermos e assim estabelecermos um vínculo que foi crucial. Lá fomos nós para São Carlos... E a parceria foi selada. O pré-natal seria tocado em Ribeirão até a semana 35. Entre outros conselhos da Dra. Carla, um importante foi o de preservar a nossa decisão. Como? Silêncio. Não comentamos com ninguém. Quando perguntada onde a Teresa ia nascer, eu respondia que iria ser no Hospital São Paulo. Até porque todo mundo só queria uma resposta, e pronto. Até então, eu utilizava progesterona devido ao aborto anterior por indicação do meu GO daqui, e a Dra. Carla disse que eu deixaria de usar quando começasse o pré-natal com ela, independente da data. Parei no dia seguinte. O sono passou, me senti bem melhor... Eu sentia que não precisava utilizar aquele medicamento. Participamos da Oficina de Parto do Despertar. Lá conheci pessoas maravilhosas que farão parte de minha vida para sempre - Thaiane Caetano, Daniela Sudan... As doulas chegaram a ficar preocupadas com a reação do Junior durante o trabalho de parto devido a uma baixa de pressão e medo que ele sentiu durante a experiência de dor e alívio. Nem me preocupei muito porque alguma coisa me dizia que ele ia me surpreender. A gravidez decorreu na maior paz possível, e chegamos à semana 35, onde as consultas com a Dra. Carla eram como uma roda de amigas. Na primeira, a Helena (doula) foi junto. Uma festa! Naquela consulta já percebi que a postura de um obstetra da humanização é completamente diferente. As escolhas seriam feitas. A responsabilidade seria minha. Tudo baseado por Evidências Científicas! Havia ainda a questão da anestesia. Se eu pedisse, iríamos para a cesárea. Era um "penico" que eu não podia pedir. Era bom demais pra ser verdade. Eu sentia que estava no caminho certo. Teresa nasceria quando quisesse, se não houvesse nenhum dado indicando o contrário. A administração do antibiótico seria feita ou não baseada na cultura para Estreptococo e Neisseria (ambos não cresceram em cultura). E assim fui me tornando a dona do meu parto. No mesmo dia desta consulta consegui visitar a maternidade da Santa Casa de São Carlos e me surpreendi com a abordagem da enfermeira que nos guiou porta adentro, a Dinha: "Você está lendo? Qual livro? Faz parte de algum grupo de apoio ao parto natural?" Demais!!! Não parecia uma equipe que fazia parte do mesmo sistema que conhecemos. Durante toda a gestação contei com o apoio total da Helena. Éramos somente nós na aula, com uma ou outra aula experimental no meio do caminho... Aula de yoga e conversa particular, um luxo!!! E as leituras continuaram, nesta ordem: Memórias do Homem de Vidro (sensível, maravilhoso!), Parto Ativo (CRUCIAL), Quando o corpo consente. Conheci Marco Schultz e seus Satsangs embalaram nossas aulas (e muitos bate-papos) várias vezes... Recebi várias dicas, pouco a pouco o enxoval foi sendo comprado, tudo com muita calma - até demais, já que pelo medo eu não havia comprado muita coisa ainda. Quando a Teresa completou 24 semanas e poderia nascer e sobreviver fora do útero a partir daquele momento, fiquei aflita: precisamos comprar um berço! Quando a gestação completou 40 semanas, tirei a licença-maternidade. Um mês antes, exatamente, aconteceu meu chá de fraldas, uma delícia. Carinho e clima de despedida, quase. Daí pra frente o ciático e as perguntas de quando a Teresa chegaria não cessaram. Senti que era hora de parar e começar a preparar o terreno para ela chegar. Nas conversas antes da aula de yoga, desabafei dizendo que estava ficando cada vez mais intolerante com estas perguntas, estranho... Eu, sempre tão zen... Seria a fera despertando? Foi uma semana deliciosa. Eu ficava em casa assistindo Gilmore Girls (meu seriado preferido - curioso que trata exatamente de uma relação mãe-filha muito especial), tomando sorvete... e ficava quietinha. Porque se pusesse o nariz para fora o pessoal perguntava "É pra quando?". E já começava com os hots... insconscientemente uma tensãozinha se instalava, afinal... não vai nascer mesmo? Mesmo sabendo que meu corpo era perfeito e trabalharia como tal. O único hot que estava faltando tentar era o namoro. E o medo? Chorei. E disse que eu já havia tentado de tudo, e pronto. No final da semana 40 ainda fui à inauguração da loja de uma amiga no sábado, e no domingo bateu uma agonia... Não temos nada em casa, vamos ao mercado! Fizemos uma compra e voltamos pra casa. Sentei na poltrona na sala e... nossa, como ela está se mexendo!!! Foi a noite em que a Teresa mais se mexeu. Dia seguinte, segunda-feira, 41 semanas completas. Ainda meio zonza de sono, levanto para ir ao banheiro e chuáááá - água! Junior, a bolsa estourou! Coloquei um absorvente que morreu afogado logo depois, coitado. Liguei para a Helena (ela atende em Franca às segundas, e estava lá). Ela entrou em contato com a Dra. Carla que estava em um concurso em Botucatu. Que dia! Mas era o dia que Teresa escolheu, 2 de maio de 2011. Fui colocar a louça na máquina, tratar dos cachorros... contrações leves, juntinhas, rápidas (segundo o app do celular) - Pelo telefone, Helena pede pra eu ir para o chuveiro, talvez esteja tensa e por isso as contrações não estejam espaçadas. Tentei comer uma torrada, ovo mexido, barrinha... só uma mordida e deixei lá. Pelo livro Parto Ativo, pude ter uma excelente ideia de como aconteceria. Conversando com a Helena também vislumbrei assim... Eu imagino meu TP como um GPS: eu sei o caminho, só não sei qual será a paisagem. As sensações e reações que meu corpo teria, isso tudo era desconhecido. De uma coisa eu tinha certeza: eu não deitaria de jeito nenhum! Fui para a cama e fiquei com os quadris mais elevados que a cabeça, de quatro. Esta postura era indicada para espaçar as contrações. Quando Helena chegou eu estava assim, já respondendo apenas a perguntinhas bem básicas, e só. Uma música começou a tocar, baixinho. Helena dando serviço para o Junior, tudo no maior silêncio. Uma vizinha entra no meu quarto, pra saber se está tudo bem. Oi? Fui super monossilábica (não daria pra ser diferente) e ela se foi. Helena fez massagens na lombar, fui pro chuveiro... não conseguia sentar na bola de Pilates. Ainda no chuveiro, no final de uma contração, meu corpo começou a querer empurrar. Um tempinho depois, Helena pergunta se eu quero ir pra São Carlos. E eu digo que sim. Mirei no carro e saí não querendo ter uma contração no meio do caminho, deu certo. Fui no banco de trás, de quatro, sobre um monte de travesseiros com a Helena, Junior dirigindo... não sei e nunca conseguirei explicar a sensação de tempo que simplesmente sumiu. Não sei quantas contrações se passaram durante o trajeto, só sei que o Junior começou a falar "estamos na Rua Episcopal" - Nossa, já estamos em São Carlos! Quando dei por mim, estava na porta da maternidade. Helena foi me apoiando durante o trajeto até o quarto (sala PPP), que já estava preparado (Bola, Banheira, Banqueta) - um silêncio preenchia o ar, uma atmosfera de respeito inacreditável. Nenhuma pergunta para mim, nenhum exame de toque, NADA. Eu não queria sentar na bola, ficava em pé. Esperamos encherem a banheira. Helena foi arrancando meu vestido, quando vi estava lá dentro. Um silêncio impressionante... a equipe de enfermagem carinhosa, apenas vinha auscultar a Teresa, e o ponto era cada vez mais baixo (meu Deus, ela estava descendo!)... Fiquei em várias posições diferentes, sugeridas pela Shirley (enfermeira) e pela Helena. A Dra. Carla chegou e ficou na minha frente, sentadinha. Parecia uma treinadora de maratonista, mas sua presença era muito sutil e reconfortante. Só comentei com ela que não vi a viagem. Ela concordou e disse para eu me concentrar. A partir dali eu desliguei e fiquei cada vez mais introspectiva, nem abria os olhos direito. Ela me pediu para dizer aonde estava a bebê - e eu - Hein? - É, você é quem vai me dizer! Meu dedo tocava a cabecinha da Teresa, ainda faltavam uns 3 dedos... Mudamos de posição várias vezes, o Junior cada vez mais presente também. Banqueta dentro da água, cabo de guerra com lençol no suporte do banheiro, de joelhos... eu cheguei a cochilar entre algumas contrações tamanho era o silêncio. E uma música baixinha tocava lá no quarto (um CD no rádio do hospital, porque o Junior queimou nosso aparelho numa tomada 220 V do quarto). O tampão saiu ali, com um pouco de vérnix, que se via na água. Carla brincou: "Olha só essa menina, nascendo de 41 semanas e ainda com vérnix!" Era impressionante o sentido do cuidar também. A Dra. Carla me deu gelatina na boca, água... Mais uma vez ela perguntou onde a Teresa estava. Só faltava um dedo agora! Como descrito na lista partonosso, senti meu "bigode" suar. As coisas estavam ficando mais quentes agora... Senti o anel de fogo. Passou a arder mesmo nos intervalos das contrações. Na água, olhando pelo espelho colocado na banheira, a cabeça de Teresa vinha e voltava. Se entrega, se entrega... Sons guturais, as vocalizações foram cada vez mais fortes. Eu me sentia parte de algo ancestral. De uma força que une todas as mulheres. Como eu li no livro Parto Ativo, uma grande parte dos trabalhos de parto acontece na água, mas no final é preciso sair dela. E foi o que aconteceu comigo, saí e fui para a banqueta no quarto. Ajoelhei na banheira e disse apenas que estava cansada. Mas eu aguentaria o que viesse. A pediatra bateu o pé, ansiosa. Eu fechava os olhos e me desligava desta impressão. Depois que me sentei na banqueta (e o Junior sentado atrás, no sofá), a Dra. Carla me pediu para colocar a mão e sentir a Teresa. A cabeça já estava aparente!!! Foi uma injeção de ânimo e rimos muito. Sabe quando vamos dar uma festa surpresa para alguém, que todo mundo está lá na maior vibração mas em silêncio? O clima era esse. Eu estava ali mas não estava, numa espécie de transe. Só se via uma lanterna de led branca e eu ouvia uma música tribal, índias cantando, linda.... Todos esperando. Carla sentada à minha frente, pernas cruzadas como um indiozinho. Não me lembro depois de quantas contrações - acho que foram poucas - mas estavam bem espaçadas - Teresa nasceu. Aquele escorregão final, ela saindo de dentro de mim, que sensação maravilhosa... Explodi num choro e só conseguia dizer "Obrigada" - e foi pra todo mundo mesmo: pela Providência, pela equipe, por minha filha nascer perfeita, por ter sido do jeito sonhado, preparado, num ambiente de carinho. Abracei Teresa e a Dra. Carla me avisou somente para não levantá-la muito pois o cordão era curto. Ela já chorava no meu colo e estava levemente cianótica - mas logo que foi para o berço aquecido com a pediatra e o pai, já estava, como a Helena disse, "rosa porquinho". Desandei a falar e contar minhas impressões, estava vibrando! Carla me chamou para mostrar minha placenta saindo. Obrigada, placenta! Você cumpriu sua função lindamente... A Helena escolheu uma roupinha e logo após fiquei na cama para a sutura de uma pequena laceração, que até hoje não sei onde foi. O clima era de uma festa. Teresa recebeu vitamina K oral (eu dei a segunda dose em casa), não recebeu colírio nem passou por outras intervenções, conforme combinado com a Dra. Patricia, pediatra. Logo após foi feito o contato pele a pele para início da amamentação. E foi assim, lindo e transformador o nosso processo. Agradeço a todos os envolvidos nesta jornada maravilhosa: - Meu marido Junior, sempre me surpreendendo - sua presença foi maravilhosa. E por me dar liberdade total para fazer as escolhas do parto que sonhei. - Helena e Léo, do Despertar do Parto, por seu apoio incondicional - o apoio da doula fez toda a diferença. - Dra. Carla Polido, pela sua atuação perfeita e simples, acreditando sempre no feminino! Para quem quiser conferir a versão dela do relato, descrito lindamente, está aqui. - Teresa por me fazer ver a mãe e a nova mulher que existem em mim. Voltamos para Ribeirão ouvindo um mp3 do Cirque du Soleil, do qual sou fã incondicional... a primeira música: Alegria! Esta música sempre exerceu uma energia maravilhosa sobre mim e eu não entendia bem o porquê. No carro, com a Teresa ao meu lado, eu chorava feito criança. Quando vi este vídeo com a música, da primeira à última legenda... Entendi tudo. E para terminar, deixo a frase que a Shirley, da enfermagem (Rubi) me disse quando fui agradecê-la por tudo, e perguntar se eu podia fazer isso ou aquilo: "Você pariu, Ana! Você pode tudo! Quem pariu muda o mundo!" Ana Paula Masson Química [email protected] Todos sabiam quão desejada e esperada foi a gestação da Helena. Pré natal 100%, nenhum probleminha, nenhum mesmo. Nada de enjôos, nada de indisposição, vida normal, atividade física mantida, tudo absolutamente sob controle.
Desde sempre quis parto normal. Na minha família todas as mulheres pariram. Minha mãe 3, minha tia 4, minha vó 4, todos normais, a seu tempo. Todos os relatos positivos e felizes, ou seja, desde sempre a minha impressão sobre o parto foi normal, rss. Aliado a isso, meu esposo é médico e a especialidade: GO! Faz partos normais lindos, sabe que a protagonista é a mulher e que seu papel ali é de auxiliar de um evento que ocorre por si só. Respeita as pacientes e usa de todos os recursos que cada lugar dispõe para que o parto seja o melhor possível e sempre bem assitido. Não é porque é meu marido, mas ele é um excelente médico, humano e sensível, acima de tudo, respeita a vontade da paciente. E nessa hora ele se colocou no papel de pai e ponto. Escolhemos um amigo dele para ser meu obstetra e a escolha não poderia ter sido melhor. Calmo, paciente, com muita prática em parto normal e muito atencioso. Então, eu tinha tudo para que meu parto normal acontecesse. Acesso a informação, muita leitura, muito estudo,bom obstetra, marido apoiando, mãe engajada, e muita determinação. Escolhi ter a Helena numa maternidade pública onde ele trabalha. Escutamos muitas piadinhas do tipo "parem de ser pão duros", "paguem uma suíte no sinhá" "pra que esperar 40 semanas? marca logo a cesárea"e por aí afora. No começo irritava depois nem estávamos aí. Nada tirou a nossa alegria da espera, de gestar a Helena, de curtir cada novidade, cada consulta, cada ultrassom. Tudo era diferente, sentimos uma alegria dificil de descrever e de entender, só dava pra sentir. Alegria de formar nossa família, de esperar ela chegar, de respeitar seu tempo de nascer, de ver nossa história caminhar e se fortalecer. Helena chegou quando completamos doze anos de namoro. Porque ele sempre será meu namorado! Durante os nove meses planejamos muita coisa além de quartinho e enxoval. Pensamos em como queríamos que ela nos visse, como poderiamos ser pessoas melhores para que ela seja uma pessoa de bem, em como criar, como educar, como fazer. O nosso consenso sempre foi o bom senso, o meio termo, e o que nosso coração mandasse. Não somos robôs e não temos que seguir regras e normas. Avisamos ela desde a barriga que com certeza vamos errar algumas vezes, mas que ela tenha paciência que vamos aprender com ela a sermos pais. Acredito que o fato de termos bons pais vai nos guiar em muitos momentos, pois sempre serão nossa referencia. Decidimos que eu não retornaria ao trabalho para me dedicar aos cuidados dela sem pressa, sem data pra voltar, sem introdução precoce na escola, mamadeira, babá, nada disso.nenhum dinheiro no mundo paga os momentos que eu perderia ficando longe dela. E ela não vai ser um bebê pra sempre, uma hora vou poder retomar a vida profissional, e até que chegue esse momento tenho outro projeto que me permite ser mãe e trabalhar em casa. Sem neurose, sem dar ouvidos as pessoas que dizem que vou ficar louca se parar de trabalhar. Me afastei do trabalho com 34 semanas e passei as últimas 4 semanas voltadas aos detalhes da chegada da Helena, continuei fazendo minhas aulas de pilates com a barriga enorme e me sentindo muito bem. Aproveitei para dormir o quanto pude, ler, organizar a casa pra chegada do bebê e das visitas. Com 35 semanas viajei de avião para o casamento da minha melhor amiga, voltei, viajei de novo de carro, e as contrações começaram a aumentar. Dormia noite sim, noite não. Xixi era absurdo, levantava a noite toda, uma loucura. As contrações apareceram lá pela vigésima semana, mas quando chegou na hora H, delas aumentarem, sumiram! 36, 37, 38 semanas e nada. Uma ou outra, irregulares e fraquinhas. Nada de tampão mucuso, bolsa, nada. Aí eu relaxei. resolvi curtir meu marido, ir jantar em todos os lugares que a gente gosta, porque depois íamos ficar um tempo sem esses momentos só nossos. Ignorei as perguntas do tipo "ainda não nasceu?" , afinal minha gestação estava no tempo normal, e ainda poderia se esticar até o fim de maio! Mas chegou o dia que a Helena quis nascer. Acordei no dia 04 de maio com contrações fortes e regulares. Liguei pro marido e ele disse que era pra eu caminhar. Botei tênis no pé e andei bastante, subi e desci escadas no prédio, me cansei um pouco e voltei pra casa. Dormi, comi, orei, entrei na net e bati papo com uma amiga querida sobre amamentação. Ela é enfermeira e me ajudou demais nos primeiros dias e esse apoio foi fundamental para que eu tivesse persistido em dar só o peito. Neste dia marcamos com uma turma de ir num restaurante japonês. E qdo fui me vestir, coloquei a calcinha, um jatinho de água. Quente e sem cheiro. Vamos pro banheiro, marido acha que é xixi. Não era. Em segundos comecei a vazar, não vejo outra palavra. Líquido claro com grumos. e muito! Marido diz: é, é a bolsa! Liga pro obstetra, que também ia jantar no japonês, e vamos pra maternidade. Cinco minutos de ansiedade, oramos pra que Deus estivesse conosco na hora mais importante das nossas vidas. pega bolsa, pega tudo e vamos lá. Alegria imensa de ter começado a aventura, de ter chegado a hora, de viver a sensação que tantas vezes vi ser relatadas com tanta paixão e emoção, e que eu desejava viver com todas as minhas forças. Bolsa rota, uma polpa de dilatação, vamos começar a indução. Um miso, e vamos caminhar! andei, andei, andei, e vazei muito liquido, coisa de maluco, nunca imaginei que seria tanto! molhei muitos lençóis e camisolas. Andei pelo hospital a madrugada toda, acompanhada do marido e de um anjo em forma de fisioterapeuta e doula. Ela fez massagem, me deu a maior força e apoio desse mundo, além de segurar a ducha quente na minha barriga qdo o sono e cansaço pareciam me dominar em meio as contrações.Aliás chuveiro quente foi a melhor coisa qdo a dor vinha forte. Não conseguia ficar muito tempo deitada pq quando vinha a dor forte eu queria me mexer, abaixar, levantar, sei lá, o que desse pra fazer eu fazia. Andava e de tempo em tempo me abaixava e ficava uns minutinhos de cócoras, aé passar a dor. Assim fomos madrugada adentro. Fiz analgesia e concluí que foi inventada por Deus, rss. Deu muito alívio e não perdi força, só aliviu a dor que nessas horas tava brava. continuei me mexendo, sentava na bola, ia no chuveiro e o dia amanheceu. A fisio precisou ir embora quando amanheceu e eu fiquei ali, cansada mas empolgada porque estava chegando a hora que ela isa nascer! as contrações estavam fortes mas irregulares, então colocaram ocitocina. Ficaram mais regulares, fortes, mas depois de um tempo a dilatação não mudou. Uma hora a mais e nada. mais uma hora, nada. Parei em 7cm por um bom tempo, e quando o médico entrou no meu quarto e me explicou, que o tempo estava passando e que já havia muito tempo sem dilatação,la estava bem alta e não tinha descido nada há um bom tempo, me deu um desespero. Comecei a chorar copiosamente. Não podia acreditar que depois de 13 horas, quase 14, uma noite sem dormir, ia morrer na praia. depois disso ainda pedi pra esperarem mais uma hora, o BCF estava bom e eu não conseguia me conformar.Me deu cinco minutos de força e voltei a andar, sentei na bola, andei mais, pedi a Deus pra me ajudar a dilatar tudo o que pudesse, mas nada mudou. Continuei com 7cm, e nessa altura eu estava muito cansada, morta de fome porque nem lembrei de comer e agora não ia mais poder. Se me falasse que eu poderia tentar mais dez horas eu tentaria. Mas com bolsa rota, nem meu esposo, nem meu médico, achavam seguro me arriscar. A sensação de fracasso, de medo, de frustação, acho que nunca conseguirei descrever. Nunca chorei tanto e me senti tão impotente na vida, fraca por não conseguir trazer minha filha ao mundo. Enquanto eu chorava por ir para a cesárea, a turma do pré parto gritava pedindo uma. Me deu raiva dessas mulheres, que não tem nada a ver com a minha dor, mas puderam parir. Só não souberam viver a experiência linda que eu tanto sonhei e desejei pra mim. Esqueci de dizer que fomos pro hospital caladinhos, planejamos ligar de manhã e dar a notícia pra todos que a Helena tinha nascido! o plano foi lindo e perfeito, só não deu muito certo. Aí avisei minha mãe que não tinha conseguido e que ia ter que operar. Depois que meu marido conseguiu me acalmar, tomei outro banho e fomos para o centro cirurgico. Senti uma contracao fortíssima e pedi pro meu médico tocar de novo porque eu tinha esperança até o último segundo que não precisaria operar e de algum jeito ela ia nascer. Nenhuma mudança. Então vamos lá. Contrariada toda vida, triste, chorosa, tive que encarar o meu pior medo da gestação, a cesariana. No meio de todo o caos, preciso fazer algumas ressalvas. Posso dizer que tive a cesária mais humanizada que já ouvi falar. Não escapei dos procedimentos necessários a uma cirurgia, e esta foi a minha primeira.Mas fui assitida por enfermeiras especiais, atenciosas e que tbm não se conformavam como eu. Quando a pediatra chegou, pediu pra enfermeira afastar os eletrodos do meu peito pra por a Helena comigo quando nascesse. Meu marido estava ali o tempo todo me confortando e hoje sei que fui muito chata, reclamei horrores, e ainda assim todos foram super amáveis e pacientes comigo. Todo mundo queria de algum jeito me confortar, e isso foi fundamental. Foi tudo bem rápido e logo falaram que ela estava nascendo. Já comecei a chorar e de repente ela estava ali, enorme, meio cinza, e nem chorou, só tossiu. Em segundos ela já estava dentro da minha camisola, melecadinha mesmo, e se aninhou, sem chorar, respirando calmamente, coradinha e gorducha! Ai soltaram um braço e pude pegar, cheirar, beijar e esquentar a Helena ali, no meu peito, junto com o papai. Ficamos ali uns 20 minutos, nos conhecendo e dando as boas vindas a ela. Momento ímpar, diferente do que imaginei, mas nem por isso menos especial.Por algum tempo esqueci de tudo e fiquei namorando aquela bebezona! Pesou 3785g, nunca achei que faria um bebe grande, sou pequena e o pai tbm! Mas senti orgulho do meu trabalho de gestar, de ter me cuidado bem na gravidez e ter tido uma bebe saudável, apgar 10/10. Aí a pediatra (amiga nossa tbm) pediu pra examinar, pesar, medir e o papai foi dar o primeiro banho. Enquanto isso terminaram a cirurgia e fui para a recuperação, e em minutos ela estava de volta, toda rosadinha e veio direto pro peito. Mamou de primeira, na semana que ela nasceu percebi que já estava produzindo colostro e ela nasceu com fome. Abocanhou o peito e ali ficou. Uma meia hora depois fomos para o quarto e aí ficamos ali, reconhecendo aquela coisinha tão linda que fizemos, lambendo a cria mesmo. Mesmo assim, caí num poço de emoções antagônicas. feliz porque ela estava ali, linda, saudável e serena. Triste porque a dor de não ter sido ativa no seu nascimento era grande demais, Chorei muito, me senti mal por estar com inveja de quem estava ali e conseguiu, e eu não. Queria, me preparei, não reclamei hora nenhuma das dores, me concentrei e vivi o TP com uma alegria maluca, uma ansiedade boa, ficava pensando em como seria, como eu ira poder compartilhar com as pessoas as delícias do parto normal. Mas não deu, a sensação de ter morrido na praia me massacrou por horas, dias e algumas semanas depois do parto. Sei que não fui enganada, ludibriada, porque meu marido estava ali e meu médico sempre foi super transparente e incentivador do parto normal. Se fosse outro médico do convênio já ia ter inventando motivo pra fazer cesária antes de qqr sinal de parto. E ainda assim dói muito. Antes de sair da mesa de cirurgia meu médico me perguntou se tinha sido tão ruim assim como eu imaginava. Eu respondi que não, mas que o próximo seria normal! Mesmo tendo operado, tive uma recuperação excelente, perdi os 13 kg em uma semana, não senti dor pós operatória, a cicatriz é imperceptível e nem remédio tomei depois pra dor. Cuido dela desde o primeiro dia, sem limitações. Me neguei a olhar a cicatriz por alguns dias, lavava sem olhar, mas depois consegui ver. Passado o ajuste do começo da amamentação, ela mama super bem, em live demanda, quando tem vontade. Tranquila, calma, um doce de bebê! O que aprendi depois de tudo isso é que nem sempre o que sonhamos ou desejamos, e que parece tão fácil, simples e natural, acontece com todas as mulheres. Nem por isso vou deixar de tentar um parto normal na próxima gravidez, que não deve demorar a acontecer, mas aí vou ter outra cabeça, me preparar não só para o parto normal acontecer, como também para o caso dele não acontecer. Pois acho que se eu tivesse considerado melhor a possibilidade da cesariana caso fosse preciso, não teria sofrido tanto, porque eu falava só da boca pra fora que o parto ia ser o que desse, porque no fundo eu só queria normal... Acho que ainda assim serei uma boa mãe. Tive muito colo do marido e da minha mãe, e aos pcos a dor foi diminuido, e um dia ela vai embora. Sei que no fim de tudo isso, ganhei uma filha linda, saudável e cheia de vida, que fez nossas vidas mudarem completamente pra um mar de amor por ela, de cuidados e de carinhos sem fim. E esse amor por ela vai levar a dor embora, eu tenho certeza. Cecília Zanardi Nutricionista - Mãe da Helena [email protected] Depois de quase 40 semanas, consegui parir o relato do parto do pequeno Nícolas, o Nico, fruto do mais puro amor meu que queima nos corações dos papais Gustavo e Thaiane!!! Gostaria de relatar toda a minha trajetória, as minhas escolhas, as lutas, os medos, os sorrisos, as lágrimas, a caminhada, a barriga, a vitória e os pensamentos. Pra conseguir isso, vou voltar no tempo e contar como cheguei aqui. Quando escrevo penso em eternizar este momento maravilhoso, e quem sabe tocar alguma alguém e semear idéias. Soy ty bebé, mamá Estoy dentro de ti Se está muy bien aquí Sueño contigo, Suenõ tus ojos Mirándome Como serás y si me querrás Soy tu bebé, mamá Estoy dentro de ti Se está muy bien aqui (Rosa Zaragoza) Tudo começou quando eu tinha meus 14 anos, quando ouvi de um GO amigo da nossa família, que eu jamais teria um parto normal, pois eu sou pequena pra isso. Aceitei sem questionar e levei isso como uma verdade, até o estágio em obstetrícia na faculdade. Fui fazer estágio em uma maternidade que atende gravidez de baixo e médio risco, que tem selo de hospital Amigo da Crianças, taxas mais elevadas de PN, alojamento conjunto, e incentivo a amamentação. Assisti ao primeiro PN e ao contrário das minhas amigas, que saíam da sala chorando de emoção, eu saí da sala chorando de terror, quanta agressividade, episiotomia, Kristeler, puxo induzido, "maezinha"não grita não, força de cocô senão o nenê não nasce, pernas amarradas, posição em litotomia. Pensei comigo: ainda bem que não posso ter PN. Depois fui assistir a uma cesárea, saí mais horrorizada ainda e pensei: não posso ter filhos. O tempo passou, e eu não acreditava que os bebês vinham ao mundo de forma tão agressiva, comecei a procura. A primeira vez que li o termo Parto Domiciliar eu quase grudei no teto, não entendia como em pleno século XXI as mulheres decidiam ter seus filhos em casa, longe da tecnologia hospitalar, e se acontecesse uma hemorragia, e se, e se... Mas me abri, e comecei a estudar, e questionar, e conversar, e o monstro começou a sorrir pra mim, e o jardim começou a dar flores. O vento soprou leituras, pessoas, relatos, aos poucos fui construindo, destruindo, conhecendo pessoas, percebendo o mundo, mudando opiniões, ficando mais crítica, mudando a minha vida!! E percebi que estamos muitos atrasados nos assunto nascimento. E decidi, meu filho nasceria em casa. Isso uns 3 anos antes de eu engravidar do Nico. Acredito que por medo disso tudo não ser real, entrei em contato com a doula Helena Junqueira, que respondeu minhas perguntas, com a Jamile Bussadori (parteira) que também me respondeu atenciosamente, mas a gravidez veio um ano depois. Quando me descobri grávida, entrei em contato com a Jamile, marquei encontro no Despertar do Parto, quando eu entrei por aquelas portas, eu me senti uma mulher poderosa, em busca do meu protagonismo, da vivência por inteiro do nascimento do filho e do meu como mãe. A gravidez foi evoluindo, enjôos, felicidade absurda, tudo tranquilo. Fazia o pré-natal com uma médica nada humanizada, mas ainda não era um problema, até que no dia 01/01/2011 as cólicas renais chegaram sorrateiramente na madrugada do primeiro dia do ano, com ela as contrações chegaram também, e o medo aflorou. Eu estava com 19 semanas de gestação, eu já amava o ser que se movimentava dentro de mim, eu sonhava com seu toque, com suas mãos, eu já havia me tornado mãe, já era a minha vida!! Mudei de médico quando vi que isso poderia ser usado contra mim (ou o parto), procurei um médico que tem as mais altas taxas de PN da cidade, é bastante calmo, acredita no parto normal, é muito educado, discreto, e dá pra negociar algumas intervenções, e espera o momento do parto, o que aqui em Ribeirão já é um grande avanço, diante das taxas de mais de 90% de cesareanas no setor privado. Segui o pré-natal com ele até o final, por conta da questão renal tive que afastar do trabalho, o que pra mim foi extremamente difícil, pois eu amava trabalhar, fazia bem pra minha cabeça, eu adorava o pessoal do trabalho e não queria ficar em casa. mas tinha medo, muito medo de perder o amor que desabrochava dentro de mim, ainda mais por não saber a causa das cólicas renais. Seria hidronefrose congênita, cáculos renais, ambos? (depois descobri que eram ambos). Comecei a tomar muitos medicamentos, por conta das muitas contrações, cheguei até a fazer ciclo de corticóide, mas no fundo eu sentia que aquilo não era o correto. Quando cheguei na 28 semana de gestação eu comecei a abandonar os medicamentos, aos poucos, eu sentia que não teria o protagonismo do nascimento, entregando meu corpo na gestação. O problema renal era real, mas as contrações não me pareciam patológicas, as contrações eram oriundas do medo, da insegurança, não do meu corpo, decidi confiar em mim, confiar no meu filho que era forte, e confiar que seguiriamos adiante, e que venceriamos essa batalha. Claro que muto atenta aos sinais do meu corpo, eu fui deixando os medicamentos. E surpresa: as contrações desapareceram. O que eu precisava era de segurança, de carinho, de palavras amigas, de incentivo, mas isso em 15 minutos de consulta ninguém consegue dar, é mais fácil receitar remédios. Com 37 semanas, eu consegui me sentir realmente grávida, Nico poderia vir, nenhuma gota de medo percorria meu corpo. E as semanas se passaram, quando completei 40 semanas, o tampão começou a sair, mas nada mudou. Viajei, fui num casamento, sambei com todo mundo olhando a "bomba relógio" prestes a explodir na pista de dança (afinal, quase ninguém chega as 41 semanas hoje em dia), caminhei, conversei com o meu lindo, até que na terça-feira, dia em que completei 41 semanas, levantei com um humor ruim, tomei meu café e fui pra Yoga, com a doula querida Eleonora Moraes (Léo), comentei que eu sentia uma dorzinha, a cada 8 minutos, mas nada diferente do que eu sentia desde a 19 semana, fiz a Yoga, fui pra casa da sogra, passei ao supermercado pra comprar algumas coisinhas e fui pra casa. Cheguei exausta e queria tomar um banho e dormir, mas no chuveiro a primeira contração chegou, não tinha duvidas, agora era parto, Nico iria nascer. Liguei pra parteira, doula, marido, dizendo que o TP estava no início, mas que estava tudo bem, que eu iria tirar fotos ainda (quem me dera). Desliguei o telefone, outra contração, liguei pra todo mundo novamente dizendo que a coisa tá feia. rsrsrs Gustavo e Léo chegaram uns 30 min depois, eu já estava apoiada em uma pilha de travesseiros, conseguia conversar nos intervalos, mas elas já vinham doloridas. Mas a alegria de saber que era o dia, o dia do nascimento do meu ogrinho, me dava forças pra não ter medo do que estava por vir, me dava coragem e força, e uma sensação incrível de sentir o corpo funcionar, de me sentir mulher. Sentada na cama, a bolsa rompeu, lembro-me de falar pra Léo: agora o bicho vai pegar né? ela me respondeu com um sorriso. Fomos pra sala, sentei na bola, e contrações fortes a cada 2 min, Léo me orientou a ir pro chuveiro, aí uma contração engatou na outra, não dava intervalos, eu pedi pra ir pra cama, pra pilha de travesseiros, e lá fiquei, até a Jamile chegar, preparar a banheira, armar o circo rsrsrs Não me lembro da Jamile chegando, parece que ela sempre esteve ali, devido a sua discreta forma de trabalhar, ela era invisivel aos olhos, mas eu a sentia ali. Pedi várias vezes pra ir para a banheira, perguntava pra Léo: Se está no começo porque dói tanto? E ela me respondeu: não está no começo querida, você está na transição. Tive medo de não estar, daí jamile veio realizar o único exame de toque pra saber se eu poderia entrar na banheira, tive medo de ouvir um 4, pois eu estava com MUITA dor, mas ouvi um 8, sorri, até bati palma, meu corpo funciona!!!! Fui feliz pra banheira, e de lá não saí mais. as contrações começaram a ficar muito mais intensas, eu já não raciocinava, e meus olhos ficavam fechados a maior parte do tempo. Uma mão sempre estava ali, segurando a minha, bem forte, era o Gu, que me olhava nos olhos, como se quisesse entrar dentro de mim e dividir a dor comigo, mesmo com os olhos fechados eu sentia seu olhar, e sempre que eu abria meus olhos encontrava os dele, e me sentia forte, recarregava minhas forças pra continuar. Seu toque, sua presença aliviavam as dores, me sentia segura, quando ele saía de perto de mim a dor aumentava, faltava algo, faltava meu porto-seguro. Camila (parteira) chegou um tempo depois, não sei dizer quando, pois eu só me dei conta de sua presença após o nascimento, tamanha sua delicadeza e seu respeito pelo momento. Temos várias fotos juntas, algumas abraçadas, tem fotos dela massageando minhas costas, me oferecendo alimento, mas ela estava invisível aos meus olhos!!! Um dos meus maiores medos, e acredito que o de todo mundo, era eu não conseguir me entregar, e ficar querendo controlar tudo. Mas a gravidez existe pra isso, na gravidez, aprendi a me libertar, a confiar em mim, e a perder o controle. Por isso as lágrimas, as dores, as cólicas tiveram seus significados, não eram me fazer sofrer, ou me prejudicar, mas me amadurecer, me deixar mais forte, me preparar, quebrar as barreiras que poderiam fazer com que o parto não acontecesse como o esperado, e também me preparar para a vida! No meio de uma contração imensamente intensa, que por um segundo eu pensei que não daria conta, veio a vontade de fazer força, e que alivio era fazer força. Dentro mim habita uma fera, adormecida, que se colocou em atividade para trazer meu filho. Estava muito cansada, e conversei pela última vez com o Nico dentro de mim, disse a ele que nossa jornada estava no final, que ele poderia vir, que poderiamos juntos terminar essa jornada. Venha filho, pros braços da mamãe. Estava na banheira, com o Gu do meu lado também dentro da banheira, sentada de lado, e a força vinha muito forte, ninguém dizia nada, o ambiente estava em penumbra, Gustavo segurava minha mão e me acariciava, a dor havia ido embora. Coloquei a mão e uns 4 cm ainda dentro de mim, senti sua cabeça e disse: Meu filhinho está aqui!!! Com as forças eu senti uma queimação no períneo, e vocalizava muito, gritava, urrava, queimava muito, tive a sensação de que iria abrir ao meio, mas Gustavo e eu acariciavamos seus cabelos que já se mostrava, Léo, Camila e Jamile, vocalizavam junto, e por um instante ouvi mentalmente: "siente que el momento llega siente tus huesos son fuertes siente, estamos ayudando Nasceu uma família lo divino esta conitgo siente, el ninõ está en la puerta vivirá para abrazarte tienes lo que necesitas madre de todos nosotros" (Rosa Zaragoza) Em meio a tanta queimação ouvi a Léo dizer: nasceu a cabeça linda, põe a mão nele. Eu coloquei a mão em sua cabeça, abri um sorriso enorme e disse: Nossa!!!! Foi uma das sensações mais maravilhosas, e o Gu compartilha isso comigo. Acariciar suas orelhinhas, seu narizinho, sua pequena cabeça, com seu corpo ainda dentro de mim. Estava com uma circular de cordão, desfeita pela Camila. Olhei pra cima, sorri, e nasceu o corpo. Gu o pegou na água e o entregou em meus braços. Ainda me lembro da sensação magnífica que foi sentir seu corpo escorregadio junto ao meu. Meu mundo ali caiu, e nasceu outro. Maravilhoso, magnífico, íntimo, sagrado, não há uma palavra a altura de um momento tão sublime como esse. O sentimento é de entrega, seu coração se abre, é muito amor. Nico nasceu de olhos abertos, um pouco molinho, mas logo após ser aquecido já se mostrou muito esperto, querendo mamá. Nasceu no dia 24/05/2011, às 21:59h, após 8h de trabalho de parto transformador, pesando 2820g, 48cm, com 41 semanas de gestação. Saí da banheira e deitei no sofá, com meu filho nos braços, ficamos alí nós três, nos conhecendo, namorando, como é lindo, como esse amor é intenso, nós conseguimos. Ele me olhava nos olhos, e eu não acreditava que era real, meu sonho se materializou. Em meu colo ele me lambia, procurando o seio, e mamou alguns minutos após o parto. Nico nasceu sem agressividade, veio ao mundo com amor e respeito. Não foi feito nenhum procedimento desnecessário, recebeu vitamina K oral, não recebeu colírio de Nitrato de Prata em seus olhos sensíveis, não foi separado de mim em nenhum instante. Pude cheirá-lo, acariciá-lo, beijá-lo, ninguém tirou isso de mim!!! Após esse momento nosso, Jamile suturou uma laceração que tive no períneo, tomei um banho e me deitei, a Léo preparou uma macarronada e fizemos um brinde ao nascimento do pequeno Nícolas, ao nascimento de uma família. Simples assim, um nascimento celebrado, uma vida chegou respeitada, já se deitou na cama de seus pais, e já fazia parte de nosso dia-a-dia, de nossa vida. Após esse dia maravilhoso, me sinto forte, poderosa, agora eu sinto que posso fazer tudo, que eu tenho força pra realizar todos os meus sonhos, que eu tenho força pra ser uma pessoa melhor. Olho para o meu filho todos os dias e sinto orgulho de nós, pois juntos conseguimos tecer nossa história. Agradeço de coração ao meu grande marido, que me acompanhou nessa jornada, que me deu segurança, me ofereceu seu ombro, e sonhou comigo, e hoje é o melhor pai do mundo. A equipe maravilhosa que me acompanhou nesse processo, Jamile, Eleonora, Camila. Se vocês não tivessem coragem e força de mulher, essa história seria diferente. A lista partonosso que me fez refletir e ter coragem de entrar nessa estrada. Às bravas mulheres que relataram seus partos, que me permitiram admirá-las e construir a minha história, acreditando nessa força de mulher. A minha família que me ajudou nessa caminhada. E aos amigos, que ficaram com os ombros cheios de lágrimas, algumas de alegria e outras de tristeza. Ao meu amado filho Nico, que iniciou sua vida, transformando a minha!!!! Thaiane Santos Guerra Caetano Enfermeira Obstetra [email protected] |
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17/7/2012
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