Teresa completou 42 semanas. E só hoje, afastada do trabalho por conta de uma conjuntivite (coisas de baixa resistência de mãe) consegui sentar para escrever meu relato. Como sugeriu Helena, minha doula - preferi escrever o relato da minha jornada de despertar, já que hoje em dia não se consegue parir sem um preparo prévio, infelizmente. Salvo raríssimas exceções. Como as mulheres que vivem em comunidades onde ainda se acredita na capacidade da mulher, e as mulheres assistidas pelo projeto da Dra. Melania Amorim e sua equipe, no ISEA, aqui. Assisti a este vídeo (e suas continuações) chorando madrugadas afora e com a certeza de que, se naquelas condições adversas este projeto pôde ser realizado, eu poderia fazer alguma coisa. Eu sou fruto de um parto normal onde, em 1978, o Dr. Décio, em São Paulo, realizou uma versão externa, já que eu estava pélvica... Por que eu, em 2011 não poderia batalhar pelo meu parto? Eu estava grávida! De novo... Depois de quase 9 anos de casados. Sim, após alguns dias de estranheza, batimentos cardíacos "estourando" na academia... lá estava eu sentada no banheiro com a fitinha e dois risquinhos... Fiquei vermelha. Senti o calor subir. Só eu sabia. Eu e a Teresa. Tomei um banho, chamei o Junior e mostrei o teste. Comemoramos, vibramos. Um segundo após veio o "não, não, ainda não..." - era o medo de contar a todos e passar pela tristeza do aborto mais uma vez. Daí para a frente, foram 3 meses chocando. Curtindo. Como não contamos para ninguém, tinha horas que de vez em quando eu tinha que me lembrar que havia um coraçãozinho batendo em meu ventre... Quando a gestação completou 12 semanas, nos sentimos mais à vontade para contar aos amigos e família. Meu GO disse para curtir mesmo. E foi o que fizemos. Tiramos férias vencidas, fomos para a Argentina, andamos horrores! Passeamos de barco pelo Delta, sentia uma energia incrível! Quando voltei, procurei o Despertar do Parto para a prática da yoga para gestantes, através de indicação de algumas amigas. Mal eu sabia que era o início de uma viagem sem volta. A viagem mais linda de todas. De cara, já conversei com a Helena, que fez uma entrevista onde foram abordados vários aspectos (saúde, família, social) - e me dei conta que eu não sabia o que era um parto normal mesmo, o que eram as intervenções (no parto e no recém-nascido). Na verdade, eu ACHAVA que um parto normal hospitalar era o que é, para mim, hoje, um parto natural. Mas de uma coisa eu sabia: que seria diferente da realidade que eu via à minha volta, cheia de cesáreas eletivas (impossível não ficar horrorizada!). Comentei ainda sobre o meu "futuro parto", sacramentado por um ortopedista quando eu tinha doze anos, dizendo que eu não poderia ter bebê via parto normal porque eu tinha estreitamento de bacia (...) - isso foi derrubado por todo o resto depois. Pelo site do Despertar, também cheguei à lista partonosso do yahoo. Quantos relatos, muito aprendizado... A leitura de relatos é viciante! E os vídeos, então? Chorava ao assisti-los. Aí foi uma correria, uma sede por conhecer: peguei emprestado do Despertar o livro Parto Normal Ou Cesárea? – o que Toda Mulher Deve Saber (E Todo Homem Também) - esta leitura foi divisora de águas. Uma a uma, as intervenções realizadas no parto normal hospitalar foram se descortinando. Meu GO, perguntado por mim sobre o protocolo para parto normal, foi falando uma intervenção após a outra. Voltei para casa triste. Sentei com o Junior. É, vou ter que mudar de médico. Ou vai ser parto domiciliar. O Junior até se animou bastante com a ideia do parto domiciliar, enquanto eu ficava reticente por conta de morarmos num condomínio onde as casas são muito próximas (eu não me sentiria à vontade) - por fim, ele confessou que tinha medo no caso de uma intercorrência. Começou outra busca. A internet ajudou, e muito! Numa noite joguei o nome da parteira que atende em Ribeirão (Jamile) no google e caí num blog onde ela participava, o Parir é Natural. Não conseguia parar de ler! E descobri que a Dra. Carla, que escrevia os relatos, atendia pela Unimed. E meu plano é nacional! Mandei um e-mail na hora. Ela respondeu prontamente, marcamos uma consulta para nos conhecermos e assim estabelecermos um vínculo que foi crucial. Lá fomos nós para São Carlos... E a parceria foi selada. O pré-natal seria tocado em Ribeirão até a semana 35. Entre outros conselhos da Dra. Carla, um importante foi o de preservar a nossa decisão. Como? Silêncio. Não comentamos com ninguém. Quando perguntada onde a Teresa ia nascer, eu respondia que iria ser no Hospital São Paulo. Até porque todo mundo só queria uma resposta, e pronto. Até então, eu utilizava progesterona devido ao aborto anterior por indicação do meu GO daqui, e a Dra. Carla disse que eu deixaria de usar quando começasse o pré-natal com ela, independente da data. Parei no dia seguinte. O sono passou, me senti bem melhor... Eu sentia que não precisava utilizar aquele medicamento. Participamos da Oficina de Parto do Despertar. Lá conheci pessoas maravilhosas que farão parte de minha vida para sempre - Thaiane Caetano, Daniela Sudan... As doulas chegaram a ficar preocupadas com a reação do Junior durante o trabalho de parto devido a uma baixa de pressão e medo que ele sentiu durante a experiência de dor e alívio. Nem me preocupei muito porque alguma coisa me dizia que ele ia me surpreender. A gravidez decorreu na maior paz possível, e chegamos à semana 35, onde as consultas com a Dra. Carla eram como uma roda de amigas. Na primeira, a Helena (doula) foi junto. Uma festa! Naquela consulta já percebi que a postura de um obstetra da humanização é completamente diferente. As escolhas seriam feitas. A responsabilidade seria minha. Tudo baseado por Evidências Científicas! Havia ainda a questão da anestesia. Se eu pedisse, iríamos para a cesárea. Era um "penico" que eu não podia pedir. Era bom demais pra ser verdade. Eu sentia que estava no caminho certo. Teresa nasceria quando quisesse, se não houvesse nenhum dado indicando o contrário. A administração do antibiótico seria feita ou não baseada na cultura para Estreptococo e Neisseria (ambos não cresceram em cultura). E assim fui me tornando a dona do meu parto. No mesmo dia desta consulta consegui visitar a maternidade da Santa Casa de São Carlos e me surpreendi com a abordagem da enfermeira que nos guiou porta adentro, a Dinha: "Você está lendo? Qual livro? Faz parte de algum grupo de apoio ao parto natural?" Demais!!! Não parecia uma equipe que fazia parte do mesmo sistema que conhecemos. Durante toda a gestação contei com o apoio total da Helena. Éramos somente nós na aula, com uma ou outra aula experimental no meio do caminho... Aula de yoga e conversa particular, um luxo!!! E as leituras continuaram, nesta ordem: Memórias do Homem de Vidro (sensível, maravilhoso!), Parto Ativo (CRUCIAL), Quando o corpo consente. Conheci Marco Schultz e seus Satsangs embalaram nossas aulas (e muitos bate-papos) várias vezes... Recebi várias dicas, pouco a pouco o enxoval foi sendo comprado, tudo com muita calma - até demais, já que pelo medo eu não havia comprado muita coisa ainda. Quando a Teresa completou 24 semanas e poderia nascer e sobreviver fora do útero a partir daquele momento, fiquei aflita: precisamos comprar um berço! Quando a gestação completou 40 semanas, tirei a licença-maternidade. Um mês antes, exatamente, aconteceu meu chá de fraldas, uma delícia. Carinho e clima de despedida, quase. Daí pra frente o ciático e as perguntas de quando a Teresa chegaria não cessaram. Senti que era hora de parar e começar a preparar o terreno para ela chegar. Nas conversas antes da aula de yoga, desabafei dizendo que estava ficando cada vez mais intolerante com estas perguntas, estranho... Eu, sempre tão zen... Seria a fera despertando? Foi uma semana deliciosa. Eu ficava em casa assistindo Gilmore Girls (meu seriado preferido - curioso que trata exatamente de uma relação mãe-filha muito especial), tomando sorvete... e ficava quietinha. Porque se pusesse o nariz para fora o pessoal perguntava "É pra quando?". E já começava com os hots... insconscientemente uma tensãozinha se instalava, afinal... não vai nascer mesmo? Mesmo sabendo que meu corpo era perfeito e trabalharia como tal. O único hot que estava faltando tentar era o namoro. E o medo? Chorei. E disse que eu já havia tentado de tudo, e pronto. No final da semana 40 ainda fui à inauguração da loja de uma amiga no sábado, e no domingo bateu uma agonia... Não temos nada em casa, vamos ao mercado! Fizemos uma compra e voltamos pra casa. Sentei na poltrona na sala e... nossa, como ela está se mexendo!!! Foi a noite em que a Teresa mais se mexeu. Dia seguinte, segunda-feira, 41 semanas completas. Ainda meio zonza de sono, levanto para ir ao banheiro e chuáááá - água! Junior, a bolsa estourou! Coloquei um absorvente que morreu afogado logo depois, coitado. Liguei para a Helena (ela atende em Franca às segundas, e estava lá). Ela entrou em contato com a Dra. Carla que estava em um concurso em Botucatu. Que dia! Mas era o dia que Teresa escolheu, 2 de maio de 2011. Fui colocar a louça na máquina, tratar dos cachorros... contrações leves, juntinhas, rápidas (segundo o app do celular) - Pelo telefone, Helena pede pra eu ir para o chuveiro, talvez esteja tensa e por isso as contrações não estejam espaçadas. Tentei comer uma torrada, ovo mexido, barrinha... só uma mordida e deixei lá. Pelo livro Parto Ativo, pude ter uma excelente ideia de como aconteceria. Conversando com a Helena também vislumbrei assim... Eu imagino meu TP como um GPS: eu sei o caminho, só não sei qual será a paisagem. As sensações e reações que meu corpo teria, isso tudo era desconhecido. De uma coisa eu tinha certeza: eu não deitaria de jeito nenhum! Fui para a cama e fiquei com os quadris mais elevados que a cabeça, de quatro. Esta postura era indicada para espaçar as contrações. Quando Helena chegou eu estava assim, já respondendo apenas a perguntinhas bem básicas, e só. Uma música começou a tocar, baixinho. Helena dando serviço para o Junior, tudo no maior silêncio. Uma vizinha entra no meu quarto, pra saber se está tudo bem. Oi? Fui super monossilábica (não daria pra ser diferente) e ela se foi. Helena fez massagens na lombar, fui pro chuveiro... não conseguia sentar na bola de Pilates. Ainda no chuveiro, no final de uma contração, meu corpo começou a querer empurrar. Um tempinho depois, Helena pergunta se eu quero ir pra São Carlos. E eu digo que sim. Mirei no carro e saí não querendo ter uma contração no meio do caminho, deu certo. Fui no banco de trás, de quatro, sobre um monte de travesseiros com a Helena, Junior dirigindo... não sei e nunca conseguirei explicar a sensação de tempo que simplesmente sumiu. Não sei quantas contrações se passaram durante o trajeto, só sei que o Junior começou a falar "estamos na Rua Episcopal" - Nossa, já estamos em São Carlos! Quando dei por mim, estava na porta da maternidade. Helena foi me apoiando durante o trajeto até o quarto (sala PPP), que já estava preparado (Bola, Banheira, Banqueta) - um silêncio preenchia o ar, uma atmosfera de respeito inacreditável. Nenhuma pergunta para mim, nenhum exame de toque, NADA. Eu não queria sentar na bola, ficava em pé. Esperamos encherem a banheira. Helena foi arrancando meu vestido, quando vi estava lá dentro. Um silêncio impressionante... a equipe de enfermagem carinhosa, apenas vinha auscultar a Teresa, e o ponto era cada vez mais baixo (meu Deus, ela estava descendo!)... Fiquei em várias posições diferentes, sugeridas pela Shirley (enfermeira) e pela Helena. A Dra. Carla chegou e ficou na minha frente, sentadinha. Parecia uma treinadora de maratonista, mas sua presença era muito sutil e reconfortante. Só comentei com ela que não vi a viagem. Ela concordou e disse para eu me concentrar. A partir dali eu desliguei e fiquei cada vez mais introspectiva, nem abria os olhos direito. Ela me pediu para dizer aonde estava a bebê - e eu - Hein? - É, você é quem vai me dizer! Meu dedo tocava a cabecinha da Teresa, ainda faltavam uns 3 dedos... Mudamos de posição várias vezes, o Junior cada vez mais presente também. Banqueta dentro da água, cabo de guerra com lençol no suporte do banheiro, de joelhos... eu cheguei a cochilar entre algumas contrações tamanho era o silêncio. E uma música baixinha tocava lá no quarto (um CD no rádio do hospital, porque o Junior queimou nosso aparelho numa tomada 220 V do quarto). O tampão saiu ali, com um pouco de vérnix, que se via na água. Carla brincou: "Olha só essa menina, nascendo de 41 semanas e ainda com vérnix!" Era impressionante o sentido do cuidar também. A Dra. Carla me deu gelatina na boca, água... Mais uma vez ela perguntou onde a Teresa estava. Só faltava um dedo agora! Como descrito na lista partonosso, senti meu "bigode" suar. As coisas estavam ficando mais quentes agora... Senti o anel de fogo. Passou a arder mesmo nos intervalos das contrações. Na água, olhando pelo espelho colocado na banheira, a cabeça de Teresa vinha e voltava. Se entrega, se entrega... Sons guturais, as vocalizações foram cada vez mais fortes. Eu me sentia parte de algo ancestral. De uma força que une todas as mulheres. Como eu li no livro Parto Ativo, uma grande parte dos trabalhos de parto acontece na água, mas no final é preciso sair dela. E foi o que aconteceu comigo, saí e fui para a banqueta no quarto. Ajoelhei na banheira e disse apenas que estava cansada. Mas eu aguentaria o que viesse. A pediatra bateu o pé, ansiosa. Eu fechava os olhos e me desligava desta impressão. Depois que me sentei na banqueta (e o Junior sentado atrás, no sofá), a Dra. Carla me pediu para colocar a mão e sentir a Teresa. A cabeça já estava aparente!!! Foi uma injeção de ânimo e rimos muito. Sabe quando vamos dar uma festa surpresa para alguém, que todo mundo está lá na maior vibração mas em silêncio? O clima era esse. Eu estava ali mas não estava, numa espécie de transe. Só se via uma lanterna de led branca e eu ouvia uma música tribal, índias cantando, linda.... Todos esperando. Carla sentada à minha frente, pernas cruzadas como um indiozinho. Não me lembro depois de quantas contrações - acho que foram poucas - mas estavam bem espaçadas - Teresa nasceu. Aquele escorregão final, ela saindo de dentro de mim, que sensação maravilhosa... Explodi num choro e só conseguia dizer "Obrigada" - e foi pra todo mundo mesmo: pela Providência, pela equipe, por minha filha nascer perfeita, por ter sido do jeito sonhado, preparado, num ambiente de carinho. Abracei Teresa e a Dra. Carla me avisou somente para não levantá-la muito pois o cordão era curto. Ela já chorava no meu colo e estava levemente cianótica - mas logo que foi para o berço aquecido com a pediatra e o pai, já estava, como a Helena disse, "rosa porquinho". Desandei a falar e contar minhas impressões, estava vibrando! Carla me chamou para mostrar minha placenta saindo. Obrigada, placenta! Você cumpriu sua função lindamente... A Helena escolheu uma roupinha e logo após fiquei na cama para a sutura de uma pequena laceração, que até hoje não sei onde foi. O clima era de uma festa. Teresa recebeu vitamina K oral (eu dei a segunda dose em casa), não recebeu colírio nem passou por outras intervenções, conforme combinado com a Dra. Patricia, pediatra. Logo após foi feito o contato pele a pele para início da amamentação. E foi assim, lindo e transformador o nosso processo. Agradeço a todos os envolvidos nesta jornada maravilhosa: - Meu marido Junior, sempre me surpreendendo - sua presença foi maravilhosa. E por me dar liberdade total para fazer as escolhas do parto que sonhei. - Helena e Léo, do Despertar do Parto, por seu apoio incondicional - o apoio da doula fez toda a diferença. - Dra. Carla Polido, pela sua atuação perfeita e simples, acreditando sempre no feminino! Para quem quiser conferir a versão dela do relato, descrito lindamente, está aqui. - Teresa por me fazer ver a mãe e a nova mulher que existem em mim. Voltamos para Ribeirão ouvindo um mp3 do Cirque du Soleil, do qual sou fã incondicional... a primeira música: Alegria! Esta música sempre exerceu uma energia maravilhosa sobre mim e eu não entendia bem o porquê. No carro, com a Teresa ao meu lado, eu chorava feito criança. Quando vi este vídeo com a música, da primeira à última legenda... Entendi tudo. E para terminar, deixo a frase que a Shirley, da enfermagem (Rubi) me disse quando fui agradecê-la por tudo, e perguntar se eu podia fazer isso ou aquilo: "Você pariu, Ana! Você pode tudo! Quem pariu muda o mundo!" Ana Paula Masson Química [email protected] Leave a Reply. |
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17/7/2012
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