Todos sabiam quão desejada e esperada foi a gestação da Helena. Pré natal 100%, nenhum probleminha, nenhum mesmo. Nada de enjôos, nada de indisposição, vida normal, atividade física mantida, tudo absolutamente sob controle.
Desde sempre quis parto normal. Na minha família todas as mulheres pariram. Minha mãe 3, minha tia 4, minha vó 4, todos normais, a seu tempo. Todos os relatos positivos e felizes, ou seja, desde sempre a minha impressão sobre o parto foi normal, rss. Aliado a isso, meu esposo é médico e a especialidade: GO! Faz partos normais lindos, sabe que a protagonista é a mulher e que seu papel ali é de auxiliar de um evento que ocorre por si só. Respeita as pacientes e usa de todos os recursos que cada lugar dispõe para que o parto seja o melhor possível e sempre bem assitido. Não é porque é meu marido, mas ele é um excelente médico, humano e sensível, acima de tudo, respeita a vontade da paciente. E nessa hora ele se colocou no papel de pai e ponto. Escolhemos um amigo dele para ser meu obstetra e a escolha não poderia ter sido melhor. Calmo, paciente, com muita prática em parto normal e muito atencioso. Então, eu tinha tudo para que meu parto normal acontecesse. Acesso a informação, muita leitura, muito estudo,bom obstetra, marido apoiando, mãe engajada, e muita determinação. Escolhi ter a Helena numa maternidade pública onde ele trabalha. Escutamos muitas piadinhas do tipo "parem de ser pão duros", "paguem uma suíte no sinhá" "pra que esperar 40 semanas? marca logo a cesárea"e por aí afora. No começo irritava depois nem estávamos aí. Nada tirou a nossa alegria da espera, de gestar a Helena, de curtir cada novidade, cada consulta, cada ultrassom. Tudo era diferente, sentimos uma alegria dificil de descrever e de entender, só dava pra sentir. Alegria de formar nossa família, de esperar ela chegar, de respeitar seu tempo de nascer, de ver nossa história caminhar e se fortalecer. Helena chegou quando completamos doze anos de namoro. Porque ele sempre será meu namorado! Durante os nove meses planejamos muita coisa além de quartinho e enxoval. Pensamos em como queríamos que ela nos visse, como poderiamos ser pessoas melhores para que ela seja uma pessoa de bem, em como criar, como educar, como fazer. O nosso consenso sempre foi o bom senso, o meio termo, e o que nosso coração mandasse. Não somos robôs e não temos que seguir regras e normas. Avisamos ela desde a barriga que com certeza vamos errar algumas vezes, mas que ela tenha paciência que vamos aprender com ela a sermos pais. Acredito que o fato de termos bons pais vai nos guiar em muitos momentos, pois sempre serão nossa referencia. Decidimos que eu não retornaria ao trabalho para me dedicar aos cuidados dela sem pressa, sem data pra voltar, sem introdução precoce na escola, mamadeira, babá, nada disso.nenhum dinheiro no mundo paga os momentos que eu perderia ficando longe dela. E ela não vai ser um bebê pra sempre, uma hora vou poder retomar a vida profissional, e até que chegue esse momento tenho outro projeto que me permite ser mãe e trabalhar em casa. Sem neurose, sem dar ouvidos as pessoas que dizem que vou ficar louca se parar de trabalhar. Me afastei do trabalho com 34 semanas e passei as últimas 4 semanas voltadas aos detalhes da chegada da Helena, continuei fazendo minhas aulas de pilates com a barriga enorme e me sentindo muito bem. Aproveitei para dormir o quanto pude, ler, organizar a casa pra chegada do bebê e das visitas. Com 35 semanas viajei de avião para o casamento da minha melhor amiga, voltei, viajei de novo de carro, e as contrações começaram a aumentar. Dormia noite sim, noite não. Xixi era absurdo, levantava a noite toda, uma loucura. As contrações apareceram lá pela vigésima semana, mas quando chegou na hora H, delas aumentarem, sumiram! 36, 37, 38 semanas e nada. Uma ou outra, irregulares e fraquinhas. Nada de tampão mucuso, bolsa, nada. Aí eu relaxei. resolvi curtir meu marido, ir jantar em todos os lugares que a gente gosta, porque depois íamos ficar um tempo sem esses momentos só nossos. Ignorei as perguntas do tipo "ainda não nasceu?" , afinal minha gestação estava no tempo normal, e ainda poderia se esticar até o fim de maio! Mas chegou o dia que a Helena quis nascer. Acordei no dia 04 de maio com contrações fortes e regulares. Liguei pro marido e ele disse que era pra eu caminhar. Botei tênis no pé e andei bastante, subi e desci escadas no prédio, me cansei um pouco e voltei pra casa. Dormi, comi, orei, entrei na net e bati papo com uma amiga querida sobre amamentação. Ela é enfermeira e me ajudou demais nos primeiros dias e esse apoio foi fundamental para que eu tivesse persistido em dar só o peito. Neste dia marcamos com uma turma de ir num restaurante japonês. E qdo fui me vestir, coloquei a calcinha, um jatinho de água. Quente e sem cheiro. Vamos pro banheiro, marido acha que é xixi. Não era. Em segundos comecei a vazar, não vejo outra palavra. Líquido claro com grumos. e muito! Marido diz: é, é a bolsa! Liga pro obstetra, que também ia jantar no japonês, e vamos pra maternidade. Cinco minutos de ansiedade, oramos pra que Deus estivesse conosco na hora mais importante das nossas vidas. pega bolsa, pega tudo e vamos lá. Alegria imensa de ter começado a aventura, de ter chegado a hora, de viver a sensação que tantas vezes vi ser relatadas com tanta paixão e emoção, e que eu desejava viver com todas as minhas forças. Bolsa rota, uma polpa de dilatação, vamos começar a indução. Um miso, e vamos caminhar! andei, andei, andei, e vazei muito liquido, coisa de maluco, nunca imaginei que seria tanto! molhei muitos lençóis e camisolas. Andei pelo hospital a madrugada toda, acompanhada do marido e de um anjo em forma de fisioterapeuta e doula. Ela fez massagem, me deu a maior força e apoio desse mundo, além de segurar a ducha quente na minha barriga qdo o sono e cansaço pareciam me dominar em meio as contrações.Aliás chuveiro quente foi a melhor coisa qdo a dor vinha forte. Não conseguia ficar muito tempo deitada pq quando vinha a dor forte eu queria me mexer, abaixar, levantar, sei lá, o que desse pra fazer eu fazia. Andava e de tempo em tempo me abaixava e ficava uns minutinhos de cócoras, aé passar a dor. Assim fomos madrugada adentro. Fiz analgesia e concluí que foi inventada por Deus, rss. Deu muito alívio e não perdi força, só aliviu a dor que nessas horas tava brava. continuei me mexendo, sentava na bola, ia no chuveiro e o dia amanheceu. A fisio precisou ir embora quando amanheceu e eu fiquei ali, cansada mas empolgada porque estava chegando a hora que ela isa nascer! as contrações estavam fortes mas irregulares, então colocaram ocitocina. Ficaram mais regulares, fortes, mas depois de um tempo a dilatação não mudou. Uma hora a mais e nada. mais uma hora, nada. Parei em 7cm por um bom tempo, e quando o médico entrou no meu quarto e me explicou, que o tempo estava passando e que já havia muito tempo sem dilatação,la estava bem alta e não tinha descido nada há um bom tempo, me deu um desespero. Comecei a chorar copiosamente. Não podia acreditar que depois de 13 horas, quase 14, uma noite sem dormir, ia morrer na praia. depois disso ainda pedi pra esperarem mais uma hora, o BCF estava bom e eu não conseguia me conformar.Me deu cinco minutos de força e voltei a andar, sentei na bola, andei mais, pedi a Deus pra me ajudar a dilatar tudo o que pudesse, mas nada mudou. Continuei com 7cm, e nessa altura eu estava muito cansada, morta de fome porque nem lembrei de comer e agora não ia mais poder. Se me falasse que eu poderia tentar mais dez horas eu tentaria. Mas com bolsa rota, nem meu esposo, nem meu médico, achavam seguro me arriscar. A sensação de fracasso, de medo, de frustação, acho que nunca conseguirei descrever. Nunca chorei tanto e me senti tão impotente na vida, fraca por não conseguir trazer minha filha ao mundo. Enquanto eu chorava por ir para a cesárea, a turma do pré parto gritava pedindo uma. Me deu raiva dessas mulheres, que não tem nada a ver com a minha dor, mas puderam parir. Só não souberam viver a experiência linda que eu tanto sonhei e desejei pra mim. Esqueci de dizer que fomos pro hospital caladinhos, planejamos ligar de manhã e dar a notícia pra todos que a Helena tinha nascido! o plano foi lindo e perfeito, só não deu muito certo. Aí avisei minha mãe que não tinha conseguido e que ia ter que operar. Depois que meu marido conseguiu me acalmar, tomei outro banho e fomos para o centro cirurgico. Senti uma contracao fortíssima e pedi pro meu médico tocar de novo porque eu tinha esperança até o último segundo que não precisaria operar e de algum jeito ela ia nascer. Nenhuma mudança. Então vamos lá. Contrariada toda vida, triste, chorosa, tive que encarar o meu pior medo da gestação, a cesariana. No meio de todo o caos, preciso fazer algumas ressalvas. Posso dizer que tive a cesária mais humanizada que já ouvi falar. Não escapei dos procedimentos necessários a uma cirurgia, e esta foi a minha primeira.Mas fui assitida por enfermeiras especiais, atenciosas e que tbm não se conformavam como eu. Quando a pediatra chegou, pediu pra enfermeira afastar os eletrodos do meu peito pra por a Helena comigo quando nascesse. Meu marido estava ali o tempo todo me confortando e hoje sei que fui muito chata, reclamei horrores, e ainda assim todos foram super amáveis e pacientes comigo. Todo mundo queria de algum jeito me confortar, e isso foi fundamental. Foi tudo bem rápido e logo falaram que ela estava nascendo. Já comecei a chorar e de repente ela estava ali, enorme, meio cinza, e nem chorou, só tossiu. Em segundos ela já estava dentro da minha camisola, melecadinha mesmo, e se aninhou, sem chorar, respirando calmamente, coradinha e gorducha! Ai soltaram um braço e pude pegar, cheirar, beijar e esquentar a Helena ali, no meu peito, junto com o papai. Ficamos ali uns 20 minutos, nos conhecendo e dando as boas vindas a ela. Momento ímpar, diferente do que imaginei, mas nem por isso menos especial.Por algum tempo esqueci de tudo e fiquei namorando aquela bebezona! Pesou 3785g, nunca achei que faria um bebe grande, sou pequena e o pai tbm! Mas senti orgulho do meu trabalho de gestar, de ter me cuidado bem na gravidez e ter tido uma bebe saudável, apgar 10/10. Aí a pediatra (amiga nossa tbm) pediu pra examinar, pesar, medir e o papai foi dar o primeiro banho. Enquanto isso terminaram a cirurgia e fui para a recuperação, e em minutos ela estava de volta, toda rosadinha e veio direto pro peito. Mamou de primeira, na semana que ela nasceu percebi que já estava produzindo colostro e ela nasceu com fome. Abocanhou o peito e ali ficou. Uma meia hora depois fomos para o quarto e aí ficamos ali, reconhecendo aquela coisinha tão linda que fizemos, lambendo a cria mesmo. Mesmo assim, caí num poço de emoções antagônicas. feliz porque ela estava ali, linda, saudável e serena. Triste porque a dor de não ter sido ativa no seu nascimento era grande demais, Chorei muito, me senti mal por estar com inveja de quem estava ali e conseguiu, e eu não. Queria, me preparei, não reclamei hora nenhuma das dores, me concentrei e vivi o TP com uma alegria maluca, uma ansiedade boa, ficava pensando em como seria, como eu ira poder compartilhar com as pessoas as delícias do parto normal. Mas não deu, a sensação de ter morrido na praia me massacrou por horas, dias e algumas semanas depois do parto. Sei que não fui enganada, ludibriada, porque meu marido estava ali e meu médico sempre foi super transparente e incentivador do parto normal. Se fosse outro médico do convênio já ia ter inventando motivo pra fazer cesária antes de qqr sinal de parto. E ainda assim dói muito. Antes de sair da mesa de cirurgia meu médico me perguntou se tinha sido tão ruim assim como eu imaginava. Eu respondi que não, mas que o próximo seria normal! Mesmo tendo operado, tive uma recuperação excelente, perdi os 13 kg em uma semana, não senti dor pós operatória, a cicatriz é imperceptível e nem remédio tomei depois pra dor. Cuido dela desde o primeiro dia, sem limitações. Me neguei a olhar a cicatriz por alguns dias, lavava sem olhar, mas depois consegui ver. Passado o ajuste do começo da amamentação, ela mama super bem, em live demanda, quando tem vontade. Tranquila, calma, um doce de bebê! O que aprendi depois de tudo isso é que nem sempre o que sonhamos ou desejamos, e que parece tão fácil, simples e natural, acontece com todas as mulheres. Nem por isso vou deixar de tentar um parto normal na próxima gravidez, que não deve demorar a acontecer, mas aí vou ter outra cabeça, me preparar não só para o parto normal acontecer, como também para o caso dele não acontecer. Pois acho que se eu tivesse considerado melhor a possibilidade da cesariana caso fosse preciso, não teria sofrido tanto, porque eu falava só da boca pra fora que o parto ia ser o que desse, porque no fundo eu só queria normal... Acho que ainda assim serei uma boa mãe. Tive muito colo do marido e da minha mãe, e aos pcos a dor foi diminuido, e um dia ela vai embora. Sei que no fim de tudo isso, ganhei uma filha linda, saudável e cheia de vida, que fez nossas vidas mudarem completamente pra um mar de amor por ela, de cuidados e de carinhos sem fim. E esse amor por ela vai levar a dor embora, eu tenho certeza. Cecília Zanardi Nutricionista - Mãe da Helena [email protected]
Natalia
29/12/2013 14:20:06
Cecília, seu depoimento me emocionou muito. Estou chegando às 39 semanas e tudo o que você escreveu até o momento de seu parto poderia ter isro escrito por mim. Tenho mt medo de acontecer comigo o que houve com você, mas eu vejo agora que preciso me preparar de verdade para essa possibilidade. Obrigada:)
Reply
Leave a Reply. |
Depoimentos de PartosSe você quiser compartilhar o seu depoimento, clique aqui e envie. Categorias
All
|
17/7/2012
1 Comment